segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Cenário a 31/12

Entristece-me o passeio que não demos, o abraço que não sentimos. Tenho um nó na garganta, um aperto no peito por não saber de ti. Onde estás, afinal? Continuarás por aqui mesmo não estando agora comigo ou decidiste antecipar o voo que me disseste um dia querer fazer? Voo-metáfora.

Que mal tem não saber dar-me de outra maneira? Com menos intensidade? A única que sofre em dar-se assim sou eu, por isso, não se preocupem. E não discutam comigo, por favor, formas alternativas de o fazer. Pois qualquer outra implicaria não ouvir o coração, não viver-sentir, mas apenas viver-viver. E o viver por viver não me diz nada. E é-me muito mais difícil. Prefiro acordar a cada dia e por entre o silêncio da alvorada ouvir o que me tem a dizer o coração. Seja bom ou mau, mais simples ou mais complicado, o meu dever é levantar-me e seguir até onde ele me levar.

Só hoje não posso fazê-lo. Chamam-se dias de festas de família ou entre amigos. E à maioria das pessoas nem sequer posso pedir que não criem expectativas quanto à minha prestação esta noite para animar a malta. Não iriam perceber, para além de que viriam com uma bateria de perguntas, verdadeiro interrogatório e isso não, obrigada! Portanto, o mais que posso fazer é tentar sossegar o meu coração, ele que continua aqui à espera...

domingo, 30 de dezembro de 2007

Ao sabor da pena...

... com toda a ira, toda a raiva e a máxima dúvida. Sozinha, sem ninguém com quem partilhar esta angústia. Só o mundo [mas quer lá o mundo saber que ainda aqui estou, no mesmo sítio, à espera]. Que se foda o ditado de que a esperança é a última a morrer, esperar é capaz de ser o tempo que mais me custa viver, o verbo que mais me custa empregar: eu espero, tu esperas, ele espera [céus, que dificuldade!]. Acaso sabes que em muitas coisas os adultos continuam a ser como as crianças? Acaso sabes que elas sofrem quando lhes prometemos que hoje vamos passear e depois adiamos o passeio [e fingindo que o dia não vai caminhando para o fim, pensamos que não se apercebem e nem sequer tocamos no assunto] ou [quando vamos deitá-las com um cínico "bons sonhos"] substituímos o passeio por que tanto ansiaram por um "daqui a três dias pode ser que dê para cumprir o prometido"? Saberás, porventura, que também alguns adultos têm um bichinho na barriga [como as crianças no primeiro dia de escola] que os vai enlouquecendo à medida que a espera se prolonga? [Sabes, disse-to já várias vezes, apesar do pouco tempo em comum]. Mas ao menos o primeiro dia de escola é o princípio de alguma coisa, o princípio de uma caminhada, de um construir conjunto do eu, do NÓS. Mas, e esta espera cruel, o que representa ela? Pressagia simplesmente o fim do ano? Ou traz algo mais na cartola que teima em não fazer sair? E enquanto isso me faz entrar em loucas tentativas de adivinhação [que até agora mais não têm revelado que cenários feios, frios, cinzentos]...

Continuo aqui, exactamente no mesmo sítio de há três horas e meia atrás, no mesmo sítio em que me permitiste fazer nascer a expectativa de um abraço "apertado que não acaba" [e depois ainda perguntam porque é que as pessoas têm vícios... Deve ser porque nunca tiveram que esperar e durante as esperas intermináveis elas não tiveram que inventar nada para fazer para não sentirem a falta de quem afinal com elas não partilha um passeio].

Não penses que não te penso também do outro lado da barricada, do lado dos que esperam. Penso e, por isso, tento com a força de mil homens e com uma vontade que sinto tantas vezes que me ultrapassa, mudar de rumo. Embora sem certezas de que esperas, realmente. Isso não é o mais importante. O mais importante é que este coração não sabe bater de outra maneira.

E tu não és de te esquecer que aqui estive [e estou] à tua espera...

Na rota de Che

Essências...

Todas as coisas têm uma essência ["Em metafísica, a essência de uma coisa é constituída pelas propriedades imutáveis da mesma"]. As pessoas também. Que é quase o mesmo que diz aquela expressão bem portuguesa - está-lhe no sangue. O que acontece é que cada um descobre a sua essência a seu tempo, num ritmo muito próprio. Num tempo e espaço que talvez não sejam assim tão alheios dos tempos e espaços em que se vai vivendo a vida. O mesmo é que dizer que não há coincidências? Talvez. O mesmo é dizer, também, que acredito que a procura da nossa essência é um processo gradual, mas que o momento da descoberta acontece normalmente sem que estejamos à espera.

Almoço. Início da tarde. Praia. Beira-mar. Sem ir a banhos. Pés húmidos sobre a areia. Momento de reflexão não tão intencional quanto isso. Não obstante, muito proveitoso: acho que tenho que pegar em mim e partir por aí em viagem. Alguns destinos certos, outros definidos ao sabor das emoções, das paixões [que são, afinal, os que me fazem querer viver]. Fazer o quê nestes destinos? Pouco importa. Com que objectivo? Ser feliz! [Atenção, esta ideia não é um original meu; por isso, ver história de vida de milhares de pessoas por esse mundo fora].

Horas depois decido partilhar esta descoberta [inquietante]. A resposta da interlocutora desta partilha foi curta e simples: esse voo era inevitável, está na tua essência. Poucas palavras, mas as suficientes para me levar a admitir algo que tentei sempre esconder de mim própria [dos outros então, nem se fala...]. Gosto de partir à descoberta e ainda não tinha a certeza. Agora é tão claro para mim! Entre cá e lá fazer a minha vida. Os que cá deixo sentirão a minha falta e eu a deles, mas os que me gostam saberão que assim serei feliz, serei mais eu. E de cada vez que voltar, o abraço de boas-vindas será mais apertado, mais quente, mais sincero, mais saudoso também. As despedidas [gosto mais de boas-vindas do que de despedidas], tentarei que sejam breves, porque, apesar de me estar no sangue, não posso correr riscos, sobretudo o risco de que o prazer de voltar a casa se sobreponha ao desejo de ser livre.

Por isso, se for capaz de me dar a oportunidade de me viver mais, talvez parta mesmo à descoberta e pode ser que os primeiros destinos estejam na rota de Che, pelo menos daquela que nos é dada a conhecer nos "Diários de Motocicleta" por Gael Garcia Bernal. Os que a estes se seguirão pouco importa. Sequer penso se existirão outros que não este pequeno país à beira-mar plantado de onde ainda escrevo. E se este for ficarei muito feliz. Regressar a casa já velhinha e ainda poder abraçar a minha mãe é um dos meus sonhos mais bonitos.

Ode ao Incógnito

Isto de alertar o passado e pô-lo a dormir tem muito que se lhe diga. O que é suposto fazer agora com ele? É que está com uma birra tremenda e quer tudo menos voltar a dormir um soninho que era tranquilo, profundo, (confortável?)... Não há outro remédio senão embalá-lo um bocadinho, cantar-lhe uma canção baixinho, ao ouvido e esperar que se atordoe novamente para seguir as minhas tarefas de menina crescida. Só não percebi ainda se este dormitar é de noite longa ou uma mera sesta de fim de tarde, enquanto pendo a cabeça a meio do filme.

Iamos tão bem a navegar nas águas calmas do previsto quotidiano...

"Estás muito bonita [lembras-me os dias de sol, sal e pele dourada em que te amava mais que a lua]", "não me olhes assim [não vês que não tarda me lanço ao teu pescoço à procura do meu colo?]", "que tens feito? [estás sozinha? Passas noites em claro a amar alguém que não eu? Quem te oferece as flores e te prepara o croissant com creme?]", "o filme foi bom? [espero bem que não te tenhas divertido, que a companhia seja entediante e do teu fundo surja a mais melancólica saudade dos nossos dias de passeio, riso e disparate que revigoravam a alma]."

Os meus maiores segredos, fraquezas e brilhos velados enterrei-os na tua pele e o problema é que o teu beijo ainda me sabe à surpresa doce que pedia à mãe que trouxesse, quando regressava a casa ao final do dia. Nos espaços vazios formam-se silêncios intensos que dizem tudo e que apressadamente atafulhamos com palavras, como se tapássemos um buraco de onde já sai um fio de água de uma corrente forte, viva. Palavras carnais que expelimos das bocas antes que nos saiam aquelas que já não podemos dizer e que fariam com que tudo voltasse a ter sentido. Há calores maiores que o sol. Há sinais mais fundos que os da pele. E há marcas que ficam para além daquilo que se vê. Impressões no corpo, na alma, no fundo do âmago, da acidez do mergulho. Mas agora não, para além deste limite já não se pode, senão ainda nos cai a Autoridade dos Amores em cima, a sentença é prisão perpétua e nem um pagamento de caução nos salva.

Sim, e se te disser que te amo perdidamente e continuo a querer saber se tiveste frio durante a noite, enquanto falamos pacatamente sobre o bife da Portugália? E se te disser que "muito para mim é tão pouco e pouco eu não quero mais", terás a capacidade de o dar? Terás a coragem de o dar?

Irrita-me o constante possível ignorar do óbvio. Irrita-me a tua postura de familiar afastado que me visita sempre de mala à porta, caloroso, mas inquieto. Irrita-me o fumo do teu cigarro que se me entranhou. Irrita-me a mera possibilidade das talas nos olhos que desviam a atenção dos animais. Irrita-me aquilo que és e que me fascina na doçura do teu olhar, na devassidão dos gestos, no prazer de dar, na sinceridade dos gostos, na genuinidade dos princípios, no soprar do café antes de mo dares a beber. Irrita-me que não tenhamos bebido o melhor de nós todos os dias e que as circunstâncias nos tenham feito duvidar daquilo que persiste e desperta de cada vez que nos encontramos. Mas orgulho-me da mulher que surgiu e das certezas daquilo que quer e não quer. Porque nos reconhecemos no fascínio, na plenitude daquilo que somos e nos encaixa, porque não regressámos, porque nunca nos fomos.

Porque temos medo.

- Estás a ouvir? Acordou... Vais lá aconchegá-lo e adormecê-lo?
- Não, vou trazê-lo para junto de nós e vamos passear.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

24.12.18.30

Indeciso entre as rosas e a noite
Seu corpo era uma história por contar.
Lira, abandonou-se em meus cabelos,
Pediu-me um som para poder vibrar.

Dei-lhe o feitiço da canção fatídica
Da sereia que à terra se recusa.
E soltou-se: voo paradisíaco
Direito aos mirtos da morada da musa.


Natália Correia in E de mãos dadas os amantes cada vez mais se aproximam do paraíso

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Insónia [permanente]

Acordei de madrugada e não voltei a pregar olho [pensei onde estarias. Pelas horas, em casa, acordado ainda]. A minha mãe diz que é do cansaço, que um dia vou pagar pelas asneiras que faço, que o corpo há-de queixar-se, bla, bla, bla... Bom, uma insónia do pior! Se é do cansaço ou não, não sei. Só sei que naquelas duas horas, empenhada que estava em decifrar todos os sons que povoavam aquela quietude, esqueci-me de parar para pensar. E era capaz de ter sido a melhor altura para fazer contas à vida e tomar decisões [ainda para mais, a um passo do fim do ano]. Eu e o silêncio... Contas ainda fiz, de dividir: um a dividir por dois. Metade de um?! Mas quem é que há-de querer viver com metades? Ora toma lá uma metade de mim, mas tu vê se te dás por inteiro, que eu cá não vou em cantigas. Mais ou menos isto. Exigente. Egoísta. Por querer-te bem. Por inteiro e a toda a hora. De manhã à noite. E nos sonhos. Ah, o que eu gosto de ter-te nos sonhos... entras-me de mansinho [outras vezes de rompante e também é bom], olhas-me e sorris, mas nem precisavas tocar-me para se atordoarem os sentidos. Ouvir-te o respirar e sentir-te o cheiro são o bastante. Mesmo se não estás, tenho-te o cheiro comigo, numa caixinha de música que guardo sobre o lado esquerdo. Ficas a saber. Ficas a saber que já te dei um espaço [mas não um daqueles onde só se ganha pó e caruncho]. Faças o que fizeres. E... onde é que eu ia? (...) Exacto! Foi isto precisamente o que aconteceu naquelas duas horas cruéis. A conta ainda a fiz, mas depois em vez de passar à decisão, apareceste-me tu, levaste-me por um atalho e permiti-me as divagações. Sabem-me sempre bem...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Um som. Uma sensação.

Há músicas que nos vêm de dentro. Acho mesmo que cada fase da minha vida tem uma banda sonora associada. Cada situação remete para determinada sensação, história, memória e, por conseguinte, música. Às vezes são apenas pequenos acordes de uma música que, no geral, nem me diz assim tanto, mas aquela parte, aquela nota, aquele silêncio ou aquela voz arrepia-me.

Se chove preciso de um chá, da mantinha e de um Rufus Wainwright. Se faz sol e calor preciso de alças finas e de Clã. Em dias de cólera os Ornatos fazem milagres e nas noites que puxam ao calor da pele nada melhor que Nouvelle Vague (também com bons resultados em estados meditativos). Pelos menos nos tempos que correm. Daqui a outros tempos funcionarão outros que tais em tantas outras situações!

Disseram-me um dia que a música é o meu método mais eficaz de relaxe. E é-o, sem dúvida. E pode mudar o meu comportamento, estado de espírito, opinião, decisão. Que volubilidade, bem sei... Mas vejo-o mais como terapêutico, porque me ajuda a contrariar o que não quero em mim ou a realçar o que preciso de despertar.

Esta é uma delas. Como diria a Tori Amos, "she's one of my best friends of all the songs". Assim que começam a surgir os primeiros acordes, começo eu a sentir um formigueiro crescente do mais feminino, sensual e poderoso que há em mim.

Para dias de uma mulher segura, independente, que sabe o que vale e que diz: "Que se foda! Hoje vou ser quem eu sou."

A cada passo confiante pela rua é isto que se ouve.


Supafacial, Coldfinger

Conto de Natal

A noite caía devagar, largando a claridade de um dia cheio. A correria das ruas atordoava os demais deixando espaço aos sons que surgiam despercebidos. O ar era frio mas nem por isso menos quente, pelo menos assim o denunciava o vapor que saía das bocas. De entre as oliveiras soltava-se o fumo da lareira, o açúcar das filhoses, os laços dos presentes, o tocar dos sinos e, nas casas, tudo se passava de maneira igual. Tranquilas. Alheias. A lua estava gorda, laranja e infinitas estrelas dançavam à sua volta num rodopiar frenético, voraz, embriagado. Louco. A música da brisa fria que passava entre as folhas servia a banda sonora do remake de um filme antigo, num misto de cheiros místicos, pagãos, enfeitiçados. A exaustão dos sentidos facilitava a sensação de que o mundo fazia sentido.

A dúvida, um abraço. Uma pergunta, o beijo. Aquele olhar, um "Feliz Natal".

E a noite tocava assim...

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Balanço

Mais uma noite de Natal e tudo se mantém. A tradição ainda é o que era! Se calhar devia ser mesmo "só mais uma noite", talvez o dar-lhe tanta importância seja o nosso maior erro porque, contas feitas, fica (quase) tudo aquém das expectativas criadas. O "é desta" substitui-se, poucas horas passadas sobre os primeiros minutos destas reuniões de condóminos, pelo "pode ser que para o ano seja melhor". "Seja melhor" igual a mais genuíno, menos à laia de encontro de sincera confraternização com direito àqueles abraços de pancadinhas nas costas entre pais, filhos, primos, tios, sobrinhos, irmãos e os mais que de tão amigos se juntam também à festa. É curioso como é que continua a insistir-se nestes encontros uma ou duas vezes por ano em que a malta se junta toda e se exagera nos abraços e nas palavras. Estou em crer que para algumas pessoas há palavras que só nesta altura do ano saltam para fora do dicionário. Mais, há-de haver aí muito boa gente que ano após ano, aí uma ou duas semanas antes das noites da consoada e do reveillon, anda com um dicionário de bolso na mala ou na algibeira para nas horas livres ir relembrando o significado das palavras que todos sabemos que fica bem empregar em tais circunstâncias. Daí até vestir a pele de "família feliz" é um instantinho. E depois, afinal, conversa-se pouco, come-se e bebe-se muito e desculpa-se o apressar da chegada do fim da noite com o mal que podem fazer às criancinhas os minutos ansiosos pelo rasgar dos embrulhos que o pai natal deixou no sapatinho. Mas pronto, isso ainda é o melhor, ao menos eles são verdadeiros (diabinhos nas apreciações): "o quê, um par de meias outra vez?!", "um livro?!", "fogo! mais roupa?! eu não te pedi aquele jogo de wrestling para a playstation?". E é isto! Abrem-se os presentes a toda a velocidade e num abrir e fechar de olhos está tudo em fila indiana à espera da partida, largada, fugida e do adeus, até ao meu regresso!

Amanhã uma parte deles há-de voltar para dar conta dos excessos de comida que restam. E podiam voltar no dia seguinte e no outro e no outro porque a estupidez é sempre tanta que isto congelado dava-nos para almoços e jantares durante um mês.

O balanço? Igual a sempre, sem melhorias à vista!

Feliz Natal!

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

É só mais um Natal...

A passos largos aproxima-se a hora. A casa começa a ser pequena para tanta gente, apesar do muito espaço que ainda lhe sobra. Começo a respirar com dificuldade. É este nó na garganta e o formigueiro desconcertante na barriga. Estes encontros familiares deixam-me sempre um bocado à toa. Apercebi-me hoje. Ao menos se fosse criança ainda podia esperar pelos presentes... Sem dramas, é só mais um Natal.

sábado, 22 de dezembro de 2007

É que o coração às vezes prega-nos partidas...

... mesmo quando um dia acreditámos que o caminho só podia ser aquele, nunca outro. Quando tudo nos fazia sentido assim. Quando aquela era a Verdade. Quando aquele futuro era inquestionável. Quando o coração estava tão certo do que sentia que chorava com a mais leve possibilidade de perder o que lhe dava sentido ao viver.

Até ao dia em que a mais importante parte de mim [nunca o que te agradeci foi bastante para perceberes a falta que um dia te sentirei], acompanhando as palavras com um sorriso triste, mas compreensivo, me diz "é que o coração às vezes prega-nos partidas".

Apetece-me arrancar-te, coração, deixar de ter-te como comandante da minha vida. Escolher a razão como companheira fiel. Seria tão mais feliz sem ti... [bem sabes que não é verdade, mas às vezes apetece-me maltratar-te, dizer que não te dou importância nenhuma, que mais valia a vida sem ti...]

A Oriente, dong zi

A noite mais comprida do ano. Solstício de Inverno. Hemisfério norte. Dois. Setecentos e cinquenta. Fico, vou, fico. Luz. Cemitério. Ceia. Nuvens a esconder as estrelas. Corpo. Quente. Tudo se resolve. Uma. Romanos. Lua. Sol. Dias. Noites. Meses. Viagens: Mauritânia, Senegal, Guiné-Bissau. Beijo. Lembraste-te? Tunísia. Mercados. Sim, não resisti. Mãos. Boca. Outra. Quente e frio. Arrepio. América do Sul. Como o outro da motocicleta. Cansaço. É aquela quebra. Outra vez. Prazer. Sono profundo. Aqui e ali, um beijo. Manhã. E outra vez. Dois. Banho. Quente. Pepino. Adeus. Não, estou a chegar agora.

[Mas... o Sol esteve longe da Terra? Ah sim?! Não dei por nada...]

Nota: a repetir no solstício de Verão.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Wordless



Remember when we used to?.. We can do that again...
I know I said it was over but if you ever wanna come over
I think I got what it takes to make you feel nice
Because you gave yourself to another
But I suppose you haven't forgotten what my love tastes like
And she won't fuck you like I do and you know that it's true cause
I have what she hasn't got and I remember all your spots so

If tha mood should hit ya and ya wanna, baby I don't mind
A little taste may relieve the tension I feel inside

Curl up in my cozy web this unbelievably delicious bed
Oh, don't say no, that's not how this should go
I've thought about you often, this feeling hasn't gone rotten
Let's take a spin round that old block again you say
She won't fuck you like I did, she's not into that wild shit and
I have what she hasn't got...really? Well then

So if tha mood should hit ya and ya wanna, baby I don't mind
A little taste may relieve the tension I feel inside


In tha Mood, Esthero

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Mas isto não vai lá com o fugir

"O meu desejo é fugir. Fugir ao que conheço, fugir ao que é meu, fugir ao que amo. Desejo partir - não para as Índias impossíveis, ou para as grandes ilhas ao Sul de tudo, mas para o lugar qualquer - aldeia ou ermo - que tenha em si o não ser este lugar. Quero não ver mais estes rostos, estes hábitos e estes dias. Quero repousar, alheio do meu fingimento orgânico. Quero sentir o sono chegar como vida, e não como repouso. Uma cabana à beira mar, uma caverna, até, no socalco rugoso de uma serra, me pode dar isto. Infelizmente só a minha vontade me o não pode dar."

[Bernardo Soares, Livro do Desassossego]

Por outro lado, quando penso em ti, minha amiga maior que o pensamento, pergunto-me: que direito tenho eu de querer fugir?

Sempre por aqui...

Mais um ano que passou e nem por isso estás menos presente. Às vezes parece que ainda estou há seis anos a sonhar, ou então que os primeiros 17 anos da minha vida foram a sonhar. Só sei que algo deixou de fazer sentido quando te foste. Ainda hoje não sei se sei lidar com a tua ausência, se estou dormente ou saudavelmente a recordar.

Só sei que me fazes bem, mesmo se não estás. Como alguém me disse há uns dias: "Quando não estás... estás."

O teu riso ainda ecoa nos meus ouvidos, a piadola sarcástica sempre na ponta da língua, o teu cheiro, o teu mimo, a voz irritada. Sou um pouco de ti a cada dia que passa. Cada vez mais. E quando assim acontece, continuo a ter-te comigo, como se estivesses entranhada em mim. Da minha boca, dos meus gestos, revelas-te tu.

Vivo a tua eternidade. Porque somos uma só.

Pouca terra...

Gosto de viajar sentada contra a marcha do comboio. É certo que não abraço de frente as novidades do caminho. Porém, não perco de vista quem lá deixei, mesmo que no final da viagem me seja já só no coração.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Prazeres

After the Bath, Edgar Degas

Ele há momentos sublimes do meu dia que me revigoram. O banho é um deles. A água quente que me corre pelo corpo, as manchas rosáceas na pele, os mamilos túrgidos, os pêlos que se eriçam pelo desconforto do frio e pelo prazer do calor. É nesta altura que mais e melhor reflicto, quando tomo grandes decisões, organizo o meu dia, relaxo o corpo, a mente e me toco se o deleite ultrapassa linhas ténues. Um encontro comigo.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Quanto mais depressa...

Tanta expectativa para nada! Anda uma pessoa numa lufa-lufa desgraçada para isto... Está tudo a rebentar pelas costuras. Não sentes? As cidades não podiam estar mais atafulhadas. O som não podia ser mais ruidoso. E os livros, esses, são aos magotes e para escrever mais só se se aproveitassem as entrelinhas. Mas não, que isto hoje tem que ser tudo muito objectivo, tipo receituário. Eu até percebo, pá, o desespero é mais que muito. E correm-se as bulas de um sem número de medicamentos na esperança de encontrar algum que acelere a recuperação. Há sempre quem encontre remédio: aquele homem no banco ao lado bebeu tanto que agora está para ali aos caídos sem dizer coisa com coisa. Outros há que cortam-se o pio mais rapidamente, com mais determinação (ou cobardia?): Pum! Tiro e queda! Ao menos, deve ser menos doloroso.

[De vez em quando, afinal, ainda se vêem umas coisas que valem a pena. Aqui da janela vê-se uma neta, pequenina aí para os seus 5 anos, a correr para o avô que deve ter acabado de chegar lá de trás do sol posto com o bacalhau debraçado para mais uma consoada. Que saudades! Mas a vida não pára e instalou-se o caos à volta dos dois saudosos amigos, abraçados mesmo no meio da avenida. Ninguém percebe que eles não podiam esperar mais? Ou preferiam que finassem de saudades? É o mais certo, não é? Bando de egoístas!
Tudo em nome da ordem, das linhas rectas. Do chegar ao emprego a horas, do ser o primeiro da fila para apanhar o autocarro (que, por acaso, hoje está atrasado), do jantar às oito da noite, impreterivelmente, que a digestão se ficar para mais tarde já não é nada fácil...]

Para quando um amanhecer mais sossegado? E a tranquilidade dos dias de correria daquelas quentes tardes de Verão? Para quando as longas conversas sem o tic-tac do tempo a anunciar o seu fim? E os longos silêncios no cimo da montanha acompanhados de uma brisa leve de vida? Para quando...

Para quando tu e eu (outra vez)?

Gosto-te

Oh como é doce o cansaço do corpo que rejuvenesceu na noite uma e outra vez. Quão vagas são as palavras para o que se sabe. Tão quentes são as águas dos olhos onde mergulham os dedos. Que dureza do músculo faz emergir um gemer que vem de dentro, guardado num tempo que não esqueceu. Tinge-me a pele a mais árdua vontade, já votada ao silêncio.

Gosto-te. Livre. Transparente. Carnal. Criança.

Inevitável banda sonora...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

A vida

É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo ou o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!

Todos somos no mundo "Pedro Sem",
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem!

A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...

Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem de um dia.
Que queres, meu Amor, se é isto a vida!...

[Florbela Espanca]

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Do não ser nem sim nem sopas

Olha! É o relógio de cuco de casa da minha avó.
Nunca percebi porque me enervava aquele pássaro ridículo a cantar "cu-cu" enquanto, aventureiro, se trazia para fora da toca e logo depois, friorento e medricas, voltava a recolher-se.

- Ó cuco, ou entras ou sais, assim não dá, que uma pessoa até fica zonza...

Em resposta à minha observação o cuco mudava a expressão: levantava a sobrancelha direita (irritante!) e olhava-me gozador. E eu sem perceber patavina do significado daquela carantonha. O raio do cuco!

Já faz tempo que percebi a mensagem. Aliás, nesse momento de clarividência foram os dois, relógio e cuco, janela fora. O primeiro em queda livre (pobrezinho, era bem bonito e hoje seria uma raridade), o segundo, raios o partam, deu às asas e lá foi ele fazer a vida negra a mais uns quantos. Ainda não me livrei dele. No fundo, somos inseparáveis e ele é bem capaz de ser o responsável (diria, até, o principal, senão único, culpado) pelos meus: gosto/não gosto; quero/não quero; vou/não vou; quente/frio; preto/branco. Sol/chuva; cidade/campo; sul/norte; acima/abaixo; hoje/amanhã; nunca/para o ano; sozinha/contigo.

Mas pode ser que aos 40 a coisa mude, pelo menos foi o que disse o conferencista no abrir das hostilidades há coisa de meia hora. Disse que é o tempo das grandes revelações. E eu acrescento:

- Ou não...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Que é feito do...?

Hoje resolvi saber notícias de uma boca que ficou a milímetros da minha há uns anos. Quando faço "rewind" à minha insípida vidinha, descubro que há casos que me ficaram mal resolvidos. É óbvio que todo o jogo me aquece as entranhas, resultando em febres que duram noites a fio e não há termómetro que me decifre. Mas às vezes quando faço "pause" e sustenho a respiração ansiosamente à espera da cena seguinte, vou tarde demais. Do género: ejaculação precoce, digo eu. Acho que foi isso que se passou. E vai daí que me bate a curiosidadezinha de saber como teria sido se tivesse avançado o milímetro que faltava. Se encontrava lábios quentes, húmidos, suaves, apressados, sôfregos. Ou não. Enfim, inquietações que se apoderam do meu corpo que, pelos vistos, não esquece que o prometido é devido.

Ruidosa mente

Quero-te carne. Quente, flamejante. Quero-te vermelho de prazer.
Quero-te louca a arder de desejo à flor da pele e no mais íntimo recanto escuro. Quero-te aqui e agora. E amanhã. Porque amanhã vou querer-te ainda mais. E vais ser como um bicho que me perpassa a pele e sem eu dar conta se entranha na carne. E percorres-me a toda a velocidade da cabeça aos pés por entre cócegas e outras investidas mais violentas. E coço. Coço para ver se acabo com esta comichão infernal (estranhamente boa). Mas este querer-te ardente não me deixa. E num crescendo de ruído e euforia, entro num estado de agradável êxtase e voo para outra dimensão. Por entre suspiros longos, que quero intermináveis, sou, afinal, eu que me quedo de cansaço e suor. E habituo-me a ter-te permanente habitante deste corpo.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Quando o ciúme arde escondido no fundo

O meu amor, Chico Buarque

É esta a hora?

Não é dia, não! É noite. Escura. Tão escura! Sem Orion nem Marte à vista... E o dia vai teimar em não vir, já sei como é...

Tento travar a todo o custo as lágrimas que, teimosas, me percorrem a cara e me salgam os lábios. Esforço inglório! É que eu (ainda) tenho medo de escuro.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A essência

O vinho e a lira. Como o sol e o mar. A luz e a água… não, não são um. Talvez caminhem no mesmo sentido. O da libertação. Cada um à sua maneira, complementam-se. Não como a razão e a emoção. Nisso são uma mesma coisa – o sentir. O viver para sentir mais. Porque, também, se assim não for que graça tem esta vida?

E daí exorcizam-se prazeres, sensações, pensamentos e o mais que lhes surja. Porque a liberdade de pensamento vai para além das amarras que, estupidamente, acreditamos serem as válidas normas da vida. Porque a nossa essência é esta. É aquela que nem sempre espelhamos, mas de onde transborda o mais fiel de nós.