quarta-feira, 30 de abril de 2008

Miúda gira, o caralho!


That's not my name, The Ting Tings

terça-feira, 29 de abril de 2008

Ditos de um arrumador de carros

"Rais' parta' o verão, que nunca mais cai a noite!". Susceptível de várias interpretações. Eu cá acho que ele, como os não sei quantos milhões por esse mundo fora, vive os dias à espera que cheguem as noites para se recolher na sua falta de luz e deixar falar os fantasmas sem que outros possam ser testemunhas.

Curtas [5]

No rame-rame dos dias eis que nos surgem rasgos de lucidez e (clari)vidência. E 1+1 são 3... As pernas tremelicam, o coração fica pequenino e o peito apertado, os olhos enchem-se de lágrimas pela constatação, ainda que só na nossa cabeça, da contemporaneidade de dois dos três peões em jogo.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Aproveita agora para viveres um bocadinho!

O mais das vezes, parecemos uma. Mas somos diferentes. Cada uma cumpre o seu ofício que, de vez em quando, custa caro à outra pela dificuldade que tem em perceber escolhas feitas e aquelas que, justificadas por valores sérios mas um tanto ou quanto exagerados, não se fizeram. O que mais queria era que te libertasses dessas amarras tontas que te prendem a promessas antigas e começasses a viver a vida que, longe de estar gasta, vai já longa, tanto mais quanto a vives dentro desse casulo cheio de "rodriguinhos" para não magoar outros.
Custam-me caro algumas das opções que faço e também tenho medo, mas nem por isso deixo de fazê-las, porque me dão sal à vida. Amargam-me a boca aqui e ali, mas fazem-me sentido pelas alegrias que, também aqui e ali, me trazem. Não fazê-las é abandonar a vida à sua própria sorte, por isso, ao contrário do que pensas não são pragmáticas, mas carregadas de subjectividade.
Custa ir descobrindo a essência. Dói e fere, mas apazigua mais do que podes imaginar porque passas de espectadora a personagem principal, a narrador presente, a primeira pessoa do singular ao invés de viveres envolta num nós que, como bem sabes, nem sempre existe.

"(...) não me sentia um intruso no meio daquela intimidade toda e começava a pensar que um destino bom me fazia participar de coisas dessas, de conversas de alma que me revelavam quando é possível recortar um pequeno espaço e fazer ali um outro mundo só porque deixámos soltar outras linguagens e outros sentimentos." (O riso de Deus, António Alçada Baptista)

domingo, 27 de abril de 2008

A sombra do vento



Acabei hoje. Uma história de amor e de um livro que prende até à última letra. Há muito tempo não devorava 50 páginas finais com tanto afinco.

Genes

Não sou muito dada a apegos familiares. Nunca fui. Mas há situações por demais evidentes às quais me rendo, perante certas palavras, risos ou reacções alheias que me espelham. É impressionante como me saltam expressões da boca exactamente com a mesma entoação da minha avó, como cozinho e despacho as tarefas com a mesma rapidez desenrascada da minha tia, como rio das mesmas piadas e das histórias contadas “daquela” maneira. E quando nos rimos revisitamos uma vida inteira de cumplicidades, de códigos que nos imprimiram na pele anos a fio, de geração em geração, que nos fazem reunir à volta do mesmo cozido à portuguesa, com os enchidos trazidos lá da terra alentejana. O avô não bebe outro vinho que não tinto e o tio mói o juízo do sobrinho pelo novo piercing e tece normas infalíveis para garantir mulherio pelo beiço. As couves servem-se na travessa verde e filhos e netos gozam o prato com as recentes saídas ao bailarico dos pais e avós.

Às vezes esqueço-me desse meu lado que lhes pertence. Mais solto, mais directo, mais simples, mais divertido, mais lascivo, mais… da origem. De dizer “na sê da nha tia”, de beber café das velhas, de me estatelar ao sol no quintal e meter conversa com os vizinhos, de sair com uma notita no bolso. E a verdade é que tudo isso me faz falta, porque me reconheço naquelas pessoas e o sentimento de pertença traz uma segurança que sabe bem, que remete para outros tempos vazios de problemas, responsabilidades, defeitos, zangas e intrigas que têm todas as famílias. Melhor ainda porque, apesar da frequência ser menor, a essência se mantém e porque com o tempo fomos aprendendo a sarar as feridas das perdas que doeram. Muito.

sábado, 26 de abril de 2008

Boas lembranças

Palavras para quê? Sabes que te sinto a falta meu velhote mais querido...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Dicas [2]

Procura a melhor sombra debaixo da árvore mais bonita. Senta-te. Tira os sapatos e balança os dedinhos dos pés. Recosta-te no grande tronco que por agora será a tua casa. Respira fundo e sorri porque és feliz. Abre a Invenção do Amor do Daniel Filipe. Lê-a. E delicia-te. Apaixona-te.

Outras leituras a 25/04

A poesia está na rua, Vieira da Silva

Militante assumida do querer saber quem sou e o que faço aqui, partilho da causa do conhecer o Eu em liberdade. Porque hoje posso. Podemos. Revelar as cores dos sentidos, das sensações, os sabores das opiniões, as texturas várias de uma vida que se vive das escolhas que se fazem. A cada dia. Livremente. Obrigada!

Descobertas #6


Sei de um rio, Camané

34 anos depois

Que seja cliché, que seja previsível e banal. É bonito demais para não se evocar, relembrar e ouvir esta força que às vezes nos falta.

Amanhã lá estarei. Na marcha para não esquecer o que, graças a tais vozes, não vivi.



É de murta e de mar a tua voz
Com algas de canção estrangulada.
Aberta a concha da trova malsofrida
Saíste como sai a madrugada
Da noite, virginal e humedecida.

É de vinho e de pinho a tua voz
Com pranto de insofríveis flores banidas.
Mas é pela tua garganta que soltamos
As eriçadas aves proibidas
Que no muro do medo desenhamos.

Zeca Afonso: trovador da voz d'ouro insubmisso, Natália Correia

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Eu também trincava!


Dark Temptation, Axe

Conceber Vida


Teardrop, Massive Attack

Para as mulheres que me rodeiam que cerraram os dentes e gritaram num último esforço de expulsão, para as mulheres que me rodeiam cujos ventres pulsam uma energia nunca antes sentida, para as mulheres que me rodeiam que desejam, sonham, precisam ceder o colo.

Porque absorvo todas e cada uma como parte de mim.

Certidão de Óbito

Quando morre o amor? Quando lhe declaramos o óbito, lhe sentenciamos o fim? Quais os sinais vitais que deve perder para que o oficializemos? Não há mesmo hipótese de reanimação?

E regras/modelos/fórmulas para tudo isto... será que há?

domingo, 20 de abril de 2008

Contrastes

Moonshine, Billy Bradford

Hoje o dia esteve especialmente brilhante. Não sei se pela luz forte do sol a espelhar o chão molhado; se pelas gotas nas folhas das árvores mais verdes contra o cinzento e branco do céu; se pelas cores vivas do arco-íris; se pela luz da lua cheia que até atrás das nuvens me iluminou o caminho.

Só os meus pensamentos permaneceram baços e tristes. Candeia nenhuma os clareou.

Ouvia hoje o José Mário Branco dizer, a propósito de paralelismos com outros Abris, que vivemos com os punhos cerrados, mas dentro dos bolsos. Há mesmo brilhos que espelham...

Parabéns.

sábado, 19 de abril de 2008

Despertares

"Possivelmente, o amor continua a chamar-nos do centro do labirinto e nós andamos às voltas sem sermos capazes de o encontrar. Porque o labirinto não é um jogo: é a defesa mágica dum centro, duma significação, e talvez seja necessário despojarmo-nos de muitas coisas e tornarmos a vestir as vestes da inocência para que o amor nos possa ser revelado. É à volta do amor que as grandes literaturas têm dado o seu melhor mas não estou a escrever isto para ver se entro, ainda que humildemente, nessa plêiade tão gloriosa. Não é nada disso. Acontece é que em certos momentos sinto que uma indomável força me obriga a tentar descobrir o que não sei ainda o que é: qualquer coisa que fica entre a procura do mapa do tesouro e a receita do filtro que nos livrará da morte. Estou certo de que os indícios andam dispersos pelo mundo, mas, ao mesmo tempo, desconfio que esses segredos são capazes de estar escondidos debaixo duma pedra do nosso jardim, ali mesmo, ao alcance da nossa mão. É ainda essa irresistível procura que me tem levado, às vezes sem eu saber, para os braços de uma mulher. Diz a sabedoria tântrica que toda a mulher nua incarna a natureza - a Prakriti - Natureza-Mãe que é necessário solarizar para que a junção do Sol e da Lua regresse ao estado primordial de indiferenciação. Não se trata da dualidade, mas de, com a ajuda da mulher, despertarmos a mulher adormecida que temos dentro de nós. Porque nós não nos pomos no lugar do outro: temos é que descobrir o que o outro acorda em nós."
(O Riso de Deus, António Alçada Baptista) [bold acrescentado]

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Andar às vozes

Porque hoje foi o dia mundial da voz, apetece-me honrá-la. Porque dela me saem dois dos maiores prazeres que tenho na vida: o riso e a cantiga. Salvé as cordas vocais! Amen. Esta noite assim foi a homenagem, piadola regada a tinto e motes musicais na ponta da língua a relembrar velhos tempos, quando ficamos mais leves depois da densidade marasmática de dias mecânicos.

Por outro lado apraz-me, a propósito, dizer que, das vozes que oiço pela manhã, há duas que me fazem espécie, daquela estação que começa com "r", termina em "m" e pelo meio tem "f". Alguém podia dizer aos senhores que os risos e piadas são claramente forçados e não precisamos da maravilha do ecrã para perceber que estão a debitar discursos previamente preparados, que não surtem acordares frescos e fofos nos senhores ouvintes. Digo eu...

Come on, everybody singing a song!



Sing a Song, Earth, Wind and Fire

Dicas

O melhor é dormir sobre o assunto. Mas para o lado certo! A ver...

Hoje ofereço a palavra confiança.

terça-feira, 15 de abril de 2008

1234 tell me that you love me more


1234, Feist

Cavalheirismos

Acho que sim. Até porque se aquilo não é uma peruca vou ali e já venho. A Nandinha que não se achaque que todos sabemos que ao Zé lhe calha que nem ginjas. Pois bem que seja competente e ideal para a tarefa, mas não me venham com cantilenas pseudo defensoras dos direitos no feminino. “Coitadinha está a ser injustiçada porque é amantizada com o nosso Primeiro, logo ela que é tão discreta…” Mas é impressão minha ou anda tudo parvo? Parece-me que estas justificações, bem desembrulhadinhas, têm pouco de paritárias e mais de sexistas. É obvio que, como em tudo, existem interesses sub-reptícios que folgariam em ter tal senhora em tal poiso e inclusive lhe deram a mãozinha cavalheirescamente para ajudar a alçar a perna. Na sociedade actual a mulher desempenha, de facto, vários papéis em simultâneo e fá-lo, por vezes, com maior eficácia que o homem, mas não assobiemos para ao lado quando é claro que certos papéis se chocam. E isto vale para homens e mulheres. Porque não o assumimos de uma vez por todas e nos deixamos de paninhos quentes disfarçados em vozes supostamente plurais? Claro que o acenar ridículo da questão pela oposição diminui em grande parte a pertinência da mesma, ainda assim, a meu ver, as reacções não elevam a contenda.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

A casa quieta...

O caminho mais longo para casa. Vou olhando para trás para ver se lá vens e que, afinal, não fechaste a porta enquanto ainda te esperava. A cada esquina olho em redor, é que podes estar lá escondido para me fazeres uma surpresa. Telefone sem bateria, se calhar já me mandou uma mensagem... Faço um sprint até à paragem para ir no mesmo autocarro que tu. Sim, porque no meu imaginário tu vais lá estar hoje comigo. Procuro entre as cabeças dos passageiros, descobrir a tua. Não estás. Então, saio uma paragem antes e corro até casa na esperança de que lá estejas à porta a sorrir. Nada. Arrasto-me escadas acima. Abro a porta, entro e fico à espera que entres logo depois de mim como costumavas fazer. Mas não se vê ninguém. Vou até ao quarto. A casa quieta. Foi-se a alegria. Corro para ver se usaste outra tecnologia para me falar. Não tem mensagens novas! O raio! Isto deve estar com problemas, penso. Volto a abrir a caixa. Continua sem novidades. Falo-te sem ouvir a tua voz. Respondes-me da mesma maneira. Derrotista. Mas eu não estou melhor sem ti...

Com amor...

Gabas a minha força. Dou-te parte dela para juntos construirmos um castelo.
Gabas-me o sorriso que trago [quase sempre] nos lábios. Ofereço-to, para mo devolveres e eu voltar a dar-to e tu a mim.
Duvidas. Eu uso da força e faço-te acreditar.
Acreditas. Juntos podemos acreditar ainda mais.
Abraças-me. Abraço-te ainda mais forte para que saibas que estou aqui. Sempre foi assim...
Lês-me. Lês-me e descobres que não vim para te salvar, porque isso tem que vir de ti. Mas vim para te ver sorrir, para te fazer feliz.
Faz tempo que fechaste a porta. Abri eu uma janela para respirares melhor. Porque não a deixas aberta por mais tempo, se tens sentido o ar entrar feito brisa a tornar-te mais leves os passos?
Pergunto-te. Responde-me...

Não morreste, adormeceste. E tenho-te acordado lentamente. Com amor.

[...]

Perdoem-me os mais sensíveis a expressão, mas é fodido não saber lidar com as emoções de outra forma senão ficando com o corpo todo empedernido. Movimentos controlados por uma terrível dormência, ombros tensos, peito apertado como se alguém nos esmagasse contra uma parede. Cada passo, um tormento porque se adivinha a caminhada para o fim. Triste, antecipado, desolador. Quem não se sente não é filho de boa gente! Está bem, mas era escusado ser desta maneira.

Cabeça pesada de tantas voltas dar na esperança de uma ideia brilhante, de tanto procurar encontrar formas de te alegrar, de te fazer viver [o próximo fim-de-semana pelos Alentejos, por exemplo], de querer ser aquilo de que precisas... De tão cheia, trago a cabeça vazia, os pensamentos são contraditórios, embora o sentimento se mantenha.
Minutos contados para te falar, horas intermináveis até poder fazê-lo. Impotência. Vontade louca, as melhores intenções. Mas impotente. Abraço-te com o imaginário. Não te preocupes, só te abraço.

Que é de ti a tentares o caminho a meu lado? Que é feito de pequenos sonhos que tivemos tempo apenas para sonhar? Que é feito daquele que tem estado comigo? Não é mais o mesmo. Perdi-o. Perdeu-se. E não quer deixar-se encontrar.

Apesar de o amor ser um lugar estranho...

Nunca ouvimos dizer o contrário. Nunca ninguém nos enganou e disse que o amor é só feito de coisas bonitas, que sossegam. O amor também dói e faz sofrer. Quando se vai, leva com ele a força, o brilho, a vontade de viver. E sentimos o mundo pesado nas costas. Vergamo-nos ao sofrimento, vivemos só por viver. Mas, descansemos. Logo vem outro amor que, não tentando ser nem parecer o que foi o anterior e, menos ainda, querendo que o façam passar por alguém que esteve e já partiu, oferece o mais que pode. Por um sorriso. Nessa altura, podemos optar por uma de duas coisas: prolongar a "cinzentice" e cavar cada vez mais fundo o buraco deixado [para ver se chegamos à Austrália, desculpem-me a piadola, mas alguém tinha que aliviar este negrume] ou aceitar que a vida está a oferecer-nos outra oportunidade e que um coração que se obriga a não sentir não demora a tornar-se pedra. Quanto a mim, tenho sempre optado por esta última e, quando menos espero, alguém partilha comigo a sua pedra preciosa. Lentamente, depois do devido luto, aprendo a aceitá-la e o céu torna a ser azul e as flores têm as cores mais bonitas. Respiro de alívio: a vida a preto e branco, só no ecrã. E não é sempre...

domingo, 13 de abril de 2008

Para ti. Porque te gosto...

"Dá-me a tua mão.

Deixa que a minha solidão
prolongue mais a tua
- para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.

Dá-me a tua mão companheira,
até ao Abismo da Ternura Derradeira."

(José Gomes Ferreira)

***************
"Viver não é parar: é continuamente renascer. As cinzas não aquecem; as águas estagnadas cheiram mal." (Florbela Espanca, Diário - 12 de Dezembro)

Nós, por cá

Mensagens, ideias, sinais e mais mensagens. Num só dia. E tudo gira em torno de um único conceito: o amor.

Porque não lutamos pelo amor. Porque o amor nos mata. Porque caduca. Porque é inconsequente, porque é rebelde, porque é inconstante. O amor que hoje se gasta, salta avidamente para outro colo, aleatório, e lambuza-se sôfrego para amanhã se voltar a esgotar. E volta a saltar. E nada nos garante que o esforço do pulo valha a pena, porque depois sossega. Nada.

De olhos vendados segue a marcha. “E como o riso vem ao ventre, assim veio de repente uma criança” e a casa enche-se de luz, de alegria e é tão bom de saber! Vive-se o espasmo com ardor, relembrando gestos da criança que também fomos, nas tardes em que dávamos biberão às bonecas. Agora que partilhamos a medo o maior passo de sempre, entre lágrimas e risos alternados, que não sabem a sua função. Porque tudo é novo, porque tudo é mágico. E agora é a sério.

O amor dói. Aponta-nos o gume da faca quando o largamos e persegue-nos para sempre. Não perdoa por mais que o aparente. É varinha de condão para os mais belos encantamentos e as mais terríveis maldições. Impele-nos à loucura, ao risco. Joga e brinca com os nossos destinos de meros transeuntes.

Joga em casa, sofre horrores

E a modos que é assim, mais vale render-me. Olhos negros até à alma, desejo incontrolável por chocolate - momento ideal para experimentar aquele das bolhas, pela primeira vez a publicidade influenciou-me -, sentimentalóide até mais não e sonhos de gravidezes - não falha, "sua inútil" digo de mim para mim.

Embrenho-me a fundo nestes episódios mensais, indago acerca da curiosa semelhança com o panorama desportivo.

O Boletim Meteorológico [3]

Desencontros.
Como o tempo.
O sol volta a esconder-se.
Eu a pensar que ia ver o pôr-do-sol do cimo de um castelo: levas a miúda e é um espectáculo lindo!
Já não percebo nada.
Sorriso aberto, verdadeiro. Ontem. Daqueles que não temem, acreditam.
Golpe inesperado. Não vai a lado nenhum. Não me ouviste isso, nunca!
Aterroriza-te o medo de o coração te passar a perna e se entregar aventureiro.
Foges, por isso. Medroso. Egoísta.
Era tarde. Tarde não posso ficar, além de que não é razão para duvidares.
Porventura, terás outras. Tens outras. Temos outras.
Disse-te: senti-te tão meu e eu tão tua, que a surpresa me cegou e impediu o sono descansado.
Sonhei contigo.
Aceitei sempre o desafio de cuidar dos teus medos. Com carinho. Cuidei deles com ternura.
Agora preciso eu da tua ajuda. Então, de ti cuido eu! Sim? Quando? Conversa...
Não vamos perder mais tempo. Não é bonito pôres a nossa construção nesses termos. Mas que posso fazer? Sempre que negaste, tentei. Com um brilhozinho nos olhos.
Precisava eu agora que me amparasses o passo. Me secasses as lágrimas que têm direito a cair. Me serenasses o coração quando me quer saltar boca fora.
Tu foges. Gosto de ti mas não dá... Desculpa. Outra vez?Acho que perdi as forças...
Voltamos a ser como dois amantes de olhos vendados.
Desculpa-me por gostar muito de ti. Mas nem sempre sou capaz de ser a fonte que jorra força suficiente para nos alimentar aos dois... Mas esta sou eu. Nunca to escondi.

sábado, 12 de abril de 2008

Tu aproveita a vida, Margarida!

Se eu fosse a Margarida...

... preparava a mochila de campismo e passava o fim-de-semana na planície alentejana.
... corria nua à beira-mar e desentupia o nariz com água salgada.
... tinha uma filha e trazia-a abraçada a mim como as mães canguru.
... viajava até à América do Sul.
... escrevia romances numa casa de campo.
... viajava até ao Norte da Europa.
... tomava uma cerveja numa esplanada ao fim da tarde.
... juntava a família em minha casa e comíamos bolo de chocolate.
... vivia numa casa com vista para o mar.
... aqueles de quem gosto nunca iam desta para melhor.
... enchia a dispensa de doces...

Eh pá, se eu fosse a Margarida se calhar não estava para aqui a despejar baboseiras só porque sim...

quarta-feira, 9 de abril de 2008

É esse teu cheiro...

... o culpado por querer ter-te junto a mim a toda a hora. Desde o primeiro minuto naquele balcão de madrugada veraneante a desafiar-nos para a partilha de cheiros, logo ali, sem preconceitos, palavras, toques ou beijos, apenas cheiros a imaginarem as sensações do corpo ao lado, do nosso corpo no corpo ao lado. Colados, calados. Atirar-me ao teu pescoço e sorver-te a essência até à última gota. Ver atordoarem-se os sentidos e viver assim nesta dormência suave. Tocarem à porta e saber que és tu, porque descubro o odor do teu corpo à distância. Porque mesmo antes de chegares te toco e abraço, num abraço quente que pede o calor do teu corpo mais e mais. Encontrar-te o cheiro no meu corpo e inspirar, inspirar até que se gaste e assim ter mais uma desculpa para te ter a meu lado esta noite. Noctívaga, vampira. Excita-me o cheiro de recantos inauditos e a ideia de cheiros mais intensos que se expelem com doçura e prazer. Excitas-me tu!

Então, de ti cuido eu...

Tão bom de ouvir!

Oh se fosse assim tão fácil... Sabes, porventura, o que é cuidar de mim? É cuidar de exigências mil, fruto de uma dose redobrada de insegurança e de outro tanto de incertezas do que será o dia de amanhã. É pisar a medo o terreno que se avizinha, tremer de cada vez que sinto o chão fugir, esconder-me, sozinha, comigo. Em silêncio. Cuidar de mim é rir também, porque eu até sou uma miúda divertida, é mimares-me por tudo e por nada e eu gostar, é não me mimares por uns segundos e eu reclamar a atenção. É olhar-te lá no fundo e sorrir e depois esconder o sorriso por não saber se seremos capazes, se serei capaz, se serás capaz. Ter-te dentro de mim e soltar uma gargalhada porque é bom! Fechar os olhos e ver-te a silhueta e o sorriso e as carícias que sinto mesmo quando não estás. Cuidar de mim é também cuidar do medo. Mas o importante é cuidar de nós.

Do que se diz por aí...

Volto à concha de onde, aliás, pouco tenho saído. De vez em quando experimento aventurar-me por aí, mas tropeço em mim a cada passo. Sou todo o peso do meu corpo e da minha alma juntos. Sufoco. Por breves momentos ofereço-me ar puro, encho os pulmões, sou uma pessoa nova. Digo olá ao sol, abraço as flores no caminho, deixo a música penetrar-me os sonhos. Estou de volta! Ilusão apenas. Porque eu fiquei lá atrás há uns tempos. Cada dia é só mais uma etapa nesta reconstrução incessante do eu. Tentando evitar aquelas imperfeições, conhecendo outras... dizem que viver é mesmo assim.

Descobertas #5


The architect, dEUS in Vantage Point

terça-feira, 8 de abril de 2008

Espécie em vias de extinção

Homens com plena noção daquilo que valem e são sem auto-centralismos. Sem necessidade de o expor. Homens que reconhecem o valor de uma mulher sem a tomar como garantida. Sem receios de inferioridade.

Onde é que já se viu!

Eu uno-me em torno desta grande luta. E desta também.

Reset

Dor de cabeça. Dia de merda. Produtividade zero. Discursos de chacha. 200 euros de gás. "Minha senhora, por lapso não emitimos facturas até agora". 1 euro na chamada de esclarecimento. Médio do carro fundido. Inexistência de jantar. Cama no chão. Almoço fantasma. Neuras alheias. Paciência por um fio.

Montículo de cume arredondado

Os cumes dos meus amados montes já tiveram melhores dias. A ideia de alguém me chupar, sugar ou morder os mamilos leva-me rapidamente às lágrimas. Mais que intumescidos, sanguíneos, doridos e hipersensíveis castigam-me pela latente ineficiência parideira. Bem sei. Soltam pequenos resquícios epidérmicos em protesto e lamento, fazem um ar de coitadinhos e ainda se empinam a pedir atenção. Ficam erectos por dá cá aquela palha, num triste aceno de protagonismo e anseiam pelo toque, mesmo implicando dor.

Já lá vai algum tempo desde que constatei a autonomia do meu corpo. Inúmeras vezes se manifesta por livre iniciativa, sem esperar sinais ou ordens superiores. Tem vontade própria, sua excelência, capaz de ruborizar os mais incautos. Desde cedo aprendi a fazer cedências, a levá-lo com jeitinho, a desenvolver com ele uma relação diplomática, com algum… tacto, vá lá. Mas a este ponto de independência imperativa, nunca.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Leituras

The maker, Brian Applebaum


Sai um natural açucarado, por favor e esta noite relego o corpo ao chão, em penitência pelas indecências vespertinas. Inquieta-me a premonição destas linhas que eu não desenhei, por mim não decifradas e que só eu vivo. Por vezes irrita-me pensar que cada seu traço seja cada meu passo, outras vezes delicia-me que o sulco incisivo tenha definição minuciosa e por ele deslize a cumprir desígnios, na sublime extrapolação da vida. E vou, deixo-me ser conduzida, assisto ao rumo, assumo o papel de espectador activo, faço-o consciente e faço-o por puro prazer. Se assim me foi cravado na carne, feito estigma, não o vou rasurar. Nem quero. Antes me demoro no deslumbre da estória que supostamente me foi escrita e bebo sofregamente os pedaços de realidade que a corroboram. Ignoro desvios outrora percorridos, cuja função foi apenas orientar-me até à estrada de tijolos amarelos e ponho a saia mais bonita para o dia em que as linhas se intersectam. Entre suspiros aliviados de etapas fechadas concluo que é uma pena… que esta chuva, o vento e o frio pediam calor do outro lado do lençol.

domingo, 6 de abril de 2008

Curtas [4]



Faz a música o músico?

É a Produção...

... quando na rua escura há uma despedida, se viram costas e, segundos depois, já afastados, as cabeças rodam e os olhares se reencontram ao mesmo tempo. Uma última vez. Para congelar a imagem.

Fragmentos dos dias #3

sol sono gelado corpos lunch time viagens arrogância hoje bonita dancemos no mundo sentir-te devoluções e se... eu... de repente... fluidos encontros inesperados trabalho bonés és especial quero mais do que isso, obrigada stressadinho vem-te calor mensagens rio mimo filmes quem era o jeitoso à tua procura ovulo amor almondegas olhar-te vinho tu alfama esta casa baldas rir por rir mudar cheiros crianças

I confess I'm a fool for a man with a clever mind


Typical male, Tina Turner

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Feliz Primavera!

Aproveito as good vibes do sol e da chegada de uma das minhas estações do ano favoritas. Se a cabeça começar a fazer das suas e a fechar-me em pensamentos circulares que me sufocam, pouso-a sobre a mesa de trabalho, sussurro-lhe que descanse em paz por uns tempos e saio de fininho para um passeio sem destino. Na mala levo uma cuidada selecção musical, um livro de domingo à tarde, uma braçada de flores amarelas do quintal da vizinha, um lápis de carvão, um bloco de notas. Descanso o corpo na margem do rio. Ponho as pernas à chinês, fecho os olhos e respiro fundo, abandono o mundo à minha volta e revisito os anos que já lá vão, sorrio porque o balanço é positivo. Deixo-me viajar por terras que não conheço e reparo que não perdi a capacidade de me deslumbrar. Volto a sorrir. Páro no cimo da montanha mais alta e tenho um bocadinho de medo, medo de ter um coração eternamente viajante. Logo fujo destes pensamentos porque hoje resolvi dar-me umas tréguas. Aproximo-me do bloco de notas e esboço futuras primaveras. Avalio o resultado: não me saí nada mal! Continuo viagem, páro à beira-mar, dispo-me de convenções sociais, de preconceitos, tiro a roupa, mergulho e abro os olhos debaixo de água, volto a ser criança, sento-me de corpo molhado na areia, faço um castelo à minha maneira, espero duas ou três ondas para ver o que acontece, aproximam-se apenas, o castelo fica intacto... É bom sinal!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Elixir solar

O sol da Primavera dá-me a energia de nenhum outro. Sinto um vigor radiante só possível pela tonalidade e intensidade desta luz. Até o calor que brota tem o grau certo e aconchega sem amolecer. Perfeita, esta estação! Depois tudo isto resulta na subtil impressão de que hoje até estou mais bonita. E quem não fica, sob esta claridade alaranjada de final de tarde e cabelos ao vento? Gosto deste ameno a dar para o quente…

Curtas [3]



Ninguém nos ensinou a usar nada do que recolhemos pelo caminho perto das ilusões, entre o amor e as razões perversas.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Sorrir ao final do dia

O olhar triste e o sorriso ficaram-me desde o primeiro dia que a vi. Assim. Apetece ficar a olhá-la eternamente, ouvi-la até se entranhar nos ouvidos em repeat. Emana uma luz, uma energia que nos transporta para as emoções que ela mesma sente e sentimos-lhe a música na pele. De tão pura, tão bonita, tão expressiva, tão única. Sem subterfúgios balança nas notas com a crueza ou a doçura impressas nas palavras, uma sinceridade e mágoa misturada com o mais genuíno gozo, que enamora. Ninguém canta histórias como ela.


Vou deitar e rolar + Aviso aos navegantes, Elis Regina

Grão de areia feliz

Oscilo entre passeios flutuantes de algodão doce por tapetes de nuvens e o rastejar fatigado na terra escura, arenosa e esburacada. Falta-me encontrar as palavras enlameadas que restaram da enxurrada, mas depois descubro que não me apetece. No entretanto do cataclismo algumas surgem sujas, sem o encanto e perfeição que espelham. Preciso de as lavar, polir e beijar. Fazer-lhes jus à magnificência.

Deslumbro-me a cada dia pelo equilíbrio no meio do caos.

Boneca de trapos

Até as mantas de retalhos fazem mais sentido [O comprador até pode achar que cada quadradinho é atirado para ali sem rei-nem-roque, mas estou convencida de que há quem se encarregue de fazer os "estudos para uma manta de retalhos", como os pintores, por exemplo]. Ora, uma boneca de trapos à primeira vista é bonita, sempre de sorriso nos lábios, quase sempre em tons de cor-de-rosa bebé [que, por acaso, é uma cor que na maioria das vezes me dá náuseas de tão morta, mas ali joga bem] e um vestidinho de flores a lembrar a Primavera. Por dentro só os "engenheiros" as conhecem. Aqueles que de tão diabólicos ou, tão-só, interessados agem que nem faquires rasgando-as para conhecer o que lhes vai dentro. E a imagem pode ser aterradora: uma confusão de bocados de algodão ou esponja de vários tamanhos e cores, geralmente ásperos ao tacto, que sufocam de tão condensados para parecerem bem a quem lhes passa os olhos pela primeira vez ou muitas vezes mas que se fica sempre só pela superfície.

Quem disse que por dentro as pessoas não podem parecer-se com bonecas de trapos?