terça-feira, 30 de junho de 2009

Coisas de homens

Podia escrever uma lista interminável de "coisas de homens", mas no momento só uma me vem à cabeça. Acabei de tentar a proeza de passar uma boa meia hora na casa de banho perdida em leituras. Levei O Sono do Monstro do Bilal, que tinham acabado de me sugerir, e pensei "É desta, é desta que vou ser capaz!". Não demorei 15 segundos dentro do cubículo. Foi o tempo suficiente para me dar conta de que é uma das coisas mais incríveis que eles fazem: folhear, no caso, 70 páginas de um livro de banda desenhada, repito, banda desenhada [não basta ler, é preciso estar atento às ilustrações], enquanto fazem a necessidade fisiológica 2 que os demora, talvez, até à 5.ª página, vá, e permanecem sentadinhos nas restantes 65 a deixar incrustar na pele uma das matérias mais mal-cheirosas. Deve ser das poucas vezes em que, mesmo que por breves segundos, são capazes de fazer mais do que uma coisa ao mesmo tempo.

Pina Bausch (1940-2009)

Uma dona de casa exemplar II

Uma dona de casa exemplar é uma mocinha que vai toda lampeira, depois de horas a passar a ferro, triturar morangos com a batedeira e que só depois de ter a cozinha toda pintalgada de vermelhinho se lembra que triturar é com a trituradora [varinha mágica ou 1, 2, 3, vá] e nunca com a batedeira. Ficou espantado e perguntou-se "Onde é que eu fui desencantar esta miúda?!" Não foi por falta de aviso...

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Uma dona de casa exemplar

Vou passar a ferro.
Preferia escrever horas sem fim, mas ainda não consigo essa proeza, nem sou capaz de me sentar disciplinada a escrever e apagar e a rasgar folhas e a reescrever tudo outra vez e a fazer colagens das folhas rasgadas... Fico triste, mas nunca me soube muito forte no que respeita à auto-disciplina e ao auto-controlo. Quem sabe quando trabalhar na livraria e, envolta em livros, me fechar na sala do fundo a tricotar palavras que, espero, me façam sorrir.
Bof... mas por agora vou montar a tábua e fingir que me ajeito e, principalmente, que gosto das lides domésticas.

Flor



"Meu bem
meu menino
me dê o seu sorriso
a sua gargalhada escancarada
me empreste seus pés morenos

Coberto de sol
veloz sobre o areal
em corrida descalça, descarada
rei da praia
herói sem igual

Me devolva meu côco
seu moleque bonitinho
me dê sua bochecha
para eu lhe pôr um beijinho
beijinho

Não ria de mim, ria para mim

- Quer comer?
- Quero! Farofa com arroz, batata com feijão! Vai jiboiar três dia inteirinho

Meu bem
meu menino
me dê o seu sorriso
essa sua risada encantada
seus saltos mortais salgados

Porta-voz bandeira
liberdade geral
fio de areia voando sem parar
rei da praia veloz e sem mal, sem mal

Não ria de mim [não ria de mim]
Ria para mim [só para mim, só para mim]

Tu vai inté à cidade
eu vou também
tu vai com a praia
eu vou com ninguém
quem chegar primeiro
tens direito a um pedido
tu quer uma flor
eu quero um vestido"

Flor, Maria João & Mário Laginha feat. Lenine

A música é linda e o teledisco, delicioso!

Sexta-feira

Dia tranquilo entre frutinha e bolachas enquanto dávamos uma mãozinha à professora-mãe neste final de ano lectivo. Mais tarde, alguma moleza trazia a vontade de ficar por casa, a borregar, mas um final de tarde para caracolar e sardinhar estava já combinado e a combinados destes ninguém deve faltar. Rumámos ao Camões, que estava no mesmo sítio, os camaradas do petisco é que não. Lá os encontrámos e acabámos por ser 10. Aviámos umas quantas ainda antes das 21h30, hora em que as barrigas começaram a dar horas e a prudência mandou forrar o estômago. Jantámos mais ao lado [o outro estava cheio] e a sagrada refeição foi, como manda a tradição, sempre bem regada. Rumámos, pois, ao Bairro com bossa-nova, descemos à Bica em conversas animadas e com o corpo a pedir uma musiquinha dançável, descemos mais um pouco eram talvez 2h, virámos à esquerda como quem vai para coiso e tal, depois à direita, passámos debaixo do arco e pumbas! Jamaica com eles até à hora da valsa. Já de manhã, entrámos na porta ao lado e voltámos à Europa. 8h30 e... pá! Se calhar está na hora de irmos. Não contentes ainda fomos dar-nos a fumos lá a casa. 9h30 e rendi-me aos estragos. 3h da tarde acordo e durante um bom par de horas desejei ardentemente ser o cavaleiro sem cabeça. O dia soou como V. Exas. podem imaginar. Ainda assim, foi muito bom! Temos que repetir, camaradas!

Quinta-feira

Saiu de cena ontem mas, ao que parece, vão repôr lá para Outubro. Experimentem assistir a Querida Professora Helena Serguéiévna, vale a pena! Uma história de chantagem e de questionamento da capacidade de resistência da Querida Professora às teias discursivas e de pensamento de um grupo de alunos. É de aplaudir de pé!

sábado, 27 de junho de 2009

O poeta é um sofredor


"No teu deserto" tem 128 páginas e segundo o escritor é "quase um diário de viagem" ou "quase um romance de amor". Foi um livro que escreveu "essencialmente pelo muito prazer de escrever" e que lhe causou menos sofrimento do que a escrita dos livros anteriores.

Sempre achei uma certa piada a esta ideia dos escritores que sofrem imenso para escrever um livro. Parece que fica bem dizer isto, dá ideia de um ser altruísta que se prejudica para o bem dos outros. É duro o processo de escrita mas elevará a plebe. Que presunção! Quem escreve tem que escrever por gosto ou, pelo menos, por algum bem que isso lhe traga – nem que pelo tal exorcismo de inquietações e dores. Claro que escrever sobre certos temas é obrigarmo-nos a pensar neles, revivê-los para os saber descrever o melhor possível, principalmente os mais difíceis, mais dolorosos. Mas até neste sofrimento existe libertação, a sua consciência e vontade. Consoante esses mesmos temas e o modo como são escritos temos, nós leitores, mais ou menos prazer em ler as suas palavras. Sem dúvida que podem ser de tal forma poderosas que conseguem mudar vidas ou concepções do mundo, mas essa mesma importância a essas mesmas palavras é atribuída por quem as lê, não pelo escritor. Irritam-me estas expressões de pura altivez, como se soubessem do poder que podem exercer e o proclamassem donos e senhores de destinos alheios. Não me agrada de todo, cheira-me a cenário emproado ou a laivos de diário de adolescente. Não sei… desconstrói-me o conceito que eu quero de livro.

Blá, blá, blá

Se há coisa que tenho vindo a reparar ultimamente é em pessoas que nos abordam com a conversinha mecanizada do costume e não estão minimamente interessadas na resposta. Lá vêm a perguntar se está tudo bem, e o trabalho e a família mas esperam exactamente a mesma réplica que as pessoas mecanizadas estão habituadas a dar: “tudo bem, obrigada”. Ora se há alguém que ingenuamente sente algum interesse genuíno da parte do emissor e procura explicar, de facto, como andam as coisas percebe rapidamente que mais valia estar quietinho. O que se passa a seguir é um leve esgar com sucessivos alheamentos e olhares para as redondezas, “hum, hum” do género “vê lá se te calas que já percebi a ideia”.

Não percebo porque perguntam! É que nem estou a falar de casos em que o receptor se desdobra em enredos e aproveita para contar logo meia vida, basta desenvolver um pouco mais do que o normal para o outro começar a fugir a sete pés.

Que raio de gente somos nós? Parece que se simula a preocupação, o interesse, a alegria de ver alguém porque geralmente é isso que se faz, é o que supostamente se deve fazer. Tudo porque fazemos parte de um bolo a que alguém chamou sociedade e há regras de convivência que parece que têm que ser cumpridas. Não passam de meras formalidades completamente vazias de intenção, mas caso as saltarmos somos automaticamente apelidados de antipáticos, bichos-do-mato, egoístas, altivos e anti-sociais. Torna tão mais óbvia a estandardização da massa de que somos feitos, dos comportamentos moldados como se fossemos fabricados em série, em intervalos de vómitos sociais. Soubéssemos, pelo menos, disfarçar melhor.

domingo, 21 de junho de 2009

Against all odds

Como dizia o Phil. Respira-se, finalmente, com plena leveza.

sábado, 20 de junho de 2009

Programa das festas

E é assim que se aproxima o final das minhas mini-férias, que não podiam culminar melhor com o dia de hoje. Um calor de ananases, como diz aqui a minha parceira vinícola, impede-me qualquer movimento, só respirar já é um sacrifício. Não consigo evitar o andar "à pata" tais as humidades e assaduras e pesos abdominais/peitorais. A minha vidinha, nos últimos dias, resumiu-se a dormir sestas, comer, ler qualquer coisita e bezerrar no sofá. E aqui estou, hoje solitária que o progenitor foi ganhar o pão para esta casa, a ver o belo do Pic-Nic do Modelo. Ora toma, é verdade sim senhor. Não vejo a hora em que me vai aparecer o Tony pelo ecrã adentro, com aquele seu charme capilar, ver as velhas gaiteiras histéricas com os cartazes ao alto - "Tony deixa-me ser tua comaaaadre!" - os beijinhos ao Baião e à Taniazinha e o belo do garrafão de vinho que acompanha qualquer merenda daquela gente. Eu sou um bocadinho masoquista, é um facto, e até me contorço de vergonha cada vez que aparecem jovens desdentadas agarradas ao microfone para mandar beijinhos à família, mas há aqui um prazer perverso inexplicável em mandar umas bocas, cortar no povo e na programação televisiva. Ou então, estou mas é cheia de inveja de não estar ali no meio daquela animação, da simplicidade das hostes, ter um boné do Modelo e ouvir aquela que - eu Lira me confesso - mais gosto:

sexta-feira, 19 de junho de 2009

"Tomo conta desta tua casa imprópria para amar sei lá porquê"

Dio e'malato forse

Passou ontem na rtp2 e ainda bem que fiquei para vê-lo. Este excelente documentário com direcção de Franco Brogi Taviani, revisita várias perspectivas da dura realidade africana, da procura desenfreada de comida em extensas mantas de lixo, à sida cuja cura muitos ainda acreditam passar por relações sexuais com crianças, às crianças com "feitiço" abandonadas, ignoradas ou maltratadas pelas famílias que as vêem como as causadoras de todos os males... Moçambique, Angola, Uganda, Senegal, Camarões e África do Sul são os palcos por que passa a equipa de realização, entre conversas em português, inglês e dialectos da terra, entre a realidade e a ficção. Desconcerta e faz chorar quem ainda tiver coração. Aqueles que acreditam que é possível um dia olhar uma outra África chorarão lágrimas ácidas, corrosivas pois já cá não estarão para partilhar dessa alegria. Há tanto caminho a percorrer... Porém, espero poder assistir e participar dos progressos, ainda que pequenos, que lá se possam operar. A forma desumana como ali se sobrevive é atroz, o coração fica pequenino e afasto de mim naquele momento tudo o que de material me liga ao mundo, sabendo porém que quando acordar serei novamente eu, um pouco diferente, talvez, mas eu, cá neste lado em que tudo se passa de uma maneira tão diferente. Aconselho a quem não viu o documentário, que o faça. A banda sonora é ímpar e cai que nem uma luva.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

E é isto








Num livro alemão para as crianças. Não tem nada que saber. Ela com um arzinho um bocadinho infantil com aqueles totós e ele de semblante vivido, de barbicha malandra. Muito real, pá.

Descobertas #15

GOVERNO - Meio Bicho e Fogo from 8 e Meio on Vimeo.



É o meu Valter, que agora também canta. Imaginava-lhe outra voz, tal menos à la "Antony and the Johnsons".

Lufada de ar fresco



Só apetece ficar ali. Estender a manta, abrir a cesta e o vinho para acompanhar os morangos que saboreamos nus depois de nos rebolarmos na relva que refresca o que temos mais quente...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Cidade nua...



Cidade nua
Faz serenata
Beijo na boca, vira-lata, de lixo

Amor de bicho
Paixão maluca
Cama de gato
Kama Sutra ao luar

Aaaaaaaaaah! Muito bom!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

45 anos and he's still a child...

[Ao telefone, esta tarde]

- Há muitos indianos por aí?
- Hum... Indianos, restaurantes ou pessoas?
- Pessoas, pessoas!
- Há, sim.
- Então já viste aquelas senhoras com um pinta vermelha na testa...?
- Sim, já! [Daaaaah!]
- Vê lá tu que um amigo meu um dia destes foi a uma loja de indianos e comprou uma lâmpada...
- Claro, uma lâmpada mágica, pôs-se a puxar-lhe o lustro... - atalho com tom irónico.
- Mau, posso contar ou não? Bem... Comprou a lâmpada, chegou a casa, começou a limpá-la e saiu de lá um génio.
- Hum, hum... - digo entre o enfadado e o "o que é que virá aí".
- Então o génio disse-lhe que podia pedir um desejo e ele pediu muito dinheiro.
- Sim... diz lá, vá! - disse eu com o ar desinteressado que faço sempre quando conversamos.
- Pá! No dia seguinte, saiu-lhe um milhão de libras na lotaria.
- Ahahah! [Parti-me toda, na verdade]
- Então fomos jantar para comemorar e tal.
- Sim... [acaba lá com isso, vá, não me faças de parva]
- Uma das empregadas era boa, muita boa e muito bonita, mas bonita mesmo, hein? Vai daí que lhe dissemos "Já que tens um génio dentro da lâmpada, pode ser que estejas numa boa maré, por isso, tenta aí a tua sorte com a empregada".
- Ah, claro! Estou mesmo a ver [Estava praticamente a desconjuntar-me pois já lhe conheço as piadas].
- O gajo começa-se a fazer a ela e pimba: leva-a para casa e dorme com ela. De manhã quando acorda olha-a em contemplação e repara novamente na pinta vermelha que ela tem na testa, esfrega a pinta e saiu-lhe um Ford Focus.
[Isto ao telefone e contado por ele teve muita piada, acreditem]

Parti-me toda, claro. Contive-me quanto pude para não lhe dar o gostinho de estar a rir de uma piada sua e, de mim para mim, perguntei-me: Como pôde algum dia este homem querer criar duas filhas e manter uma família?

Segunda volta

O riso de Deus outra vez e vezes sem conta. É um livro que, creio, não se esgota. Ainda há coisa de um ano o li pela primeira vez e foi como um bálsamo para os dias menos bons. E para os dias felizes também porque retrato da simplicidade que pode ter-se no viver. Se bem que, embora o Francisco diga que se despojou do mais que é material, alguns dirão que vive à sombra da herança que o pai lhe deixou. Mesmo assim, gosto dele, vive melhor que a maioria de nós: numa constante (re)descoberta de si mesmo, aceita as dores que prega ao peito nas horas de solidão e (re)aprende com elas na certeza de que "o importante é o sentido que soubermos dar à vida de maneira a vivermos em harmonia com as aspirações profundas do nosso Ser". É bonito de mais o que sai da pena do Alçada Baptista.

Releio, então, este livro, agora com um caderninho e uma caneta ao lado. Aponto tudo o que me enche os olhos. Abro aspas e guardo o que de melhor tem para mim, como se para o perceber melhor. Fazia muito isto quando era miúda: apontava frases, ditados, expressões. Perdi há anos o bloco onde as guardava e, com essa perda, perdi o hábito de escrever o que me importa para não esquecer. Retomei este hábito há algum tempo. Subtraindo-me sempre à maçada de me olharem como a uma frase feita, as palavras que me fazem tanto sentido e me ajudam a encontrar paz tomo-as apenas como emprestadas e reorganizo-me e volto a desorganizar-me e a organizar-me mais uma vez e vivo desalinhada... Porque acredito que é na permanente reinvenção de nós próprios que encontramos a nossa essência, tento dia após dia ver se tenho tempo para ser eu própria.

"Gosto de ti porque és minha irmã da seita do sonho. Os que sonham a dormir sabem, de manhã, que isso era uma ilusão mas os que sonham de olhos abertos acreditam que o estofo do futuro será feito desse sonho. Por isso são tão inquietantes aos olhos dos que preferiram ficar por aí, convencidos de que a vida se vive nestes limites, e nem ousam tomar conhecimento daquilo que se pode arriscar para poder experimentar as suas margens. (...)
Se me perguntares o que é que eu tenho andado a fazer, nem sei bem, mas acho que andei a explorar essas margens e que procurei estar atento ao que por lá se passava. Não encontrei uma fé: a minha fé é a minha procura e penso que só irei desistir dela no dia em que encontrar esse não sei quê que me cita e se esconde sempre que julgo que o tenho nas mãos." [O Riso de Deus, António Alçada Baptista, pp. 22-23]

O homem que corre riscos

é Júlio Pomar, pintor português, galardoado no passado dia 2 de Junho com o Prémio da Latinidade/2009. Homem que arrecadou já vários outros prémios, reafirmou ontem, em conversa com Paula Moura Pinheiro, não se considerar um génio, mas um homem dedicado ao que mais gosta de fazer e que só mais recentemente encara o seu trabalho como um ofício, outrora por si olhado apenas como um hobby. Homem sério, personalidade de valor na praça dos artistas portugueses, é-me querido pelo seu trabalho eloquente e pelo seu ar desalinhado. É, portanto, um homem de 83 anos "com muita pinta". Júlio Pomar, artista em permanente dialéctica entre a simplicidade e a representação arrojada da sua arte, é o homem que afirma, por detrás de um olhar verdadeiro e de um jeito apaziguador, que "ser indisciplinado é estar vivo". Subscrevo esta forma de vida em que "o acaso é a matemática mais rigorosa".

[O Centro de Arte Manuel de Brito (Algés) apresenta nos próximos meses uma retrospectiva da obra de Júlio Pomar.]

Ainda não conheço bem a obra de Júlio Pomar mas acontece-me em relação a ele a mesma coisa que em relação ao António Lobo Antunes: gosto da simplicidade, do despojamento do que é material que me parece que colocam no que oferecem, do profundo respeito que nutrem pelas formas de arte de que são representantes. Mais do que isso, admiro-os pelo evidente amor que têm pelas palavras.

domingo, 14 de junho de 2009

Curtas [17]

Dia: Madrugada de 12 para 13 de Junho.
Ano: 2009.
Hora: 06h30
Local: Banco de pedra no centro da praça dos Restauradores, Lisboa.



Desesperei por um táxi, eu e tantos outros. Santo António milagreiro de nada nos pôde valer. Quem manda querer ficar sempre até ao fim da festa? Calcorreámos Lisboa, subimos, descemos, parámos, mais um copo, um cigarro, dois dedos de conversa, um pézinho de dança, gargalhadas, continuámos, desculpe, com licença, agarra-te à minha mão para não te perderes, e água, ninguém tem água?, pés cansados, cabeças em autênticos filmes, uns foram a pé, outros ficaram de olhos raiados, sentados. Meia hora à espera do metro. Até hoje à espera de uma explicação.

Da língua portuguesa

Gosto de ouvir falar o português do brasil, mas gosto ainda mais de ouvir cantar. A dicção é sempre perfeita, de cada palavrinha dizem-se todas as sílabas. É delicioso. Como em todas as línguas, canta-se muito o amor. Podia, por isso, cair-se no exagero, mas tenho cá para mim que, mesmo nos covers de covers de covers há sempre algo de original em muitos dos que de lá nos chegam. É o que acontece na Camisa Amarela da minha mais recente descoberta de Vera Cruz, Nara Leão. Apreciem!



"Voltou às sete horas da manhã, mas só na quarta-feira". Gosto do que se pode fazer com a língua!

Vícios partilhados

Apareceu sem querer. Deixou o comentário ao som que passava, quem seria, de tão bom gosto, que adorava Lhasa e como era raro ouvir em espaços públicos. Parece que foi ficando a bambolear-se e até levou dois livros, por acaso. No dia seguinte escreve-me a indagar de onde viria tal selecção, que muito gostaria de ficar com uma cópia, que convida à compra e ao passeio pelas estantes e envaideço, naturalmente. Terceiro dia e aparece-me meio envergonhado, risonho e olhar semi-alucinado sem esperar encontrar-me. Os olhos são claros e esbugalhados, o cabelo grisalho e a camisa solta no corpo magro demarca-lhe a escolha de vida no plano etéreo, entregue à melomania e à história. Vem para me deixar dois “álbuns mesmo fantásticos” para troca, tal como combinado, com a promessa de voltar a deixar-me mais material e vai-se rapidamente, corcunda, ainda de sorriso pueril, a descer as escadas e ainda a falar-me da Lhasa e do segundo álbum, melhor que o terceiro que tem que se ouvir mais vezes. Vai trazer-me um dia destes. Deixa-me a mim de sorriso parvo, alheada e deliciada nesta espécie de contrabando musical, transacções narcóticas de adictos que partilham a mesma ânsia de alucinação sonora. E assim, de repente, é isto que me enche o dia. E nunca o volume de vendas.

"Enquanto nos amarmos tudo corre - não é assim"

E não é mesmo. Uma reportagem da Única, fala de casais que acordam sexo todos os dias durante um mês ou um ano, non stop, como forma de estimular a libido e combater a abstinência que as rotinas diárias vão "impondo". De facto, a mim também não me parece lá muito eficaz essa ideia da obrigação. Aquilo que se torna em "tem que ser" faz perder até a pouca vontade. Tenho cá para mim que, com este tipo de soluções, estamos longe de ter percebido a fórmula - que deverá passar muito mais pelo diálogo à vontade sobre sexo e uma conquista constante. De não se ter medo de assumir que gostamos mais assim ou assado, de propor, de ousar, de falar só por falar e suscitar só o desejo nas mentes. Até estes pequenos comportamentos são galanteio! Mas claro que isto depende muito de quem temos em casa... Não vale a pena tentar transformar alguém naquilo que não é, treina-se, claro, mas a cumplicidade entre um casal não é interruptor, tem que surgir no início e ir-se aprimorando. Acho mesmo que insistir num homem ou mulher com quem não temos empatia sexual é pura perda de tempo, um adiar da frustração até se fisgar uma alternativa que - nem que seja apenas em pensamentos molhados - nos leva ao céu até ao último fôlego orgásmico. Que enjoo, sexo todos os dias para picar o ponto. Há lá orgasmo melhor que aquele guardado uns bons dias a apurar.

sábado, 13 de junho de 2009

Apelos


Li hoje o discurso de Obama de visita ao Egipto. Não tinha ainda ouvido sequer excertos ou posteriores análises e fiquei, de alguma forma, curiosa com uma apreciação que li de relance: diz-se que se tratou de um momento histórico e eu quis perceber porquê. Eu posso ser uma grande patega sentimentalóide, mas mesmo sem sequer ouvir de viva voz a expressão daquelas palavras fiquei estarrecida. É um dado adquirido que se trata de um homem extremamente carismático e inteligente que sabe exactamente o que deve dizer e como deve dizer. Este discurso parece provar isso mesmo, até porque, como se sabe, tudo vindo daquela máquina política americana é meticulosamente preparado, estudado. Até mesmo as reacções a este discurso foram estudadas em vários pontos estratégicos, consoante as orlas que o mesmo pretendia exactamente atingir. No entanto, para mim, o que há de diferente neste discurso é a atitude, é a intenção que a envolve, é a motivação que dá lugar àquele explanar de argumentos com fim a um só objectivo aparentemente tão simples e, na realidade, tremendamente problemático. Tenho por hábito desconfiar sempre um bocadinho daquilo que me parece logo, à partida, bom, principalmente no que diz respeito à política pelas já batidas razões de descrédito que 57 pontos percentuais de abstenção retrataram nas últimas eleições nacionais. E agora não foi excepção, dei por mim a pensar se tais palavras tão cheias de boa vontade, optimismo e poder de iniciativa não seriam meio vazias, apenas flores e perfumes para suavizar o negrume de todos os pontos que apontou até porque estamos a falar de pedras no sapato que incomodaram já ao ponto de corroer a meia e fazer ferida no pé. Geralmente, os grandes impulsionadores da mudança são imediatamente apelidados de utópicos, sonhadores, loucos carentes de sentido da realidade, dos problemas, dos lobbies, das diferenças… do impossível. Mas eu li e pensei e acreditei que era possível. Na verdade são expostas todas as dificuldades, fica latente a noção de que não vai ser fácil nem ser resolvido amanhã, que terão que se unir esforços de todas as partes sem excepção, que há limites para qualquer acordo de cooperação e esse limite é a violência extremista. Mais do que isso são apresentadas alternativas, medidas e propostas para se poder avançar. Fica dado um primeiro passo, sem conversas de treta, demagogias, enredos de cordel e sim com objectivos claros, numa clara afirmação de que “se está mal, aqui estão hipóteses de solução. Quem avança?”. Tudo isto vem num embrulho impressionante, a meu ver: a clareza e seriedade de ideias numa linguagem simples e eficaz. Trata-se de um “estender de mão” com humildade, sem perder a noção dos princípios que defende, explicado directa e logicamente a uma plateia que, assim, fica presa ao que se diz. Faz-me lembrar uma música dos Police, a propósito da Guerra Fria, “we share the same biology regardless of ideology”. No fundo é exactamente isto, parece tão simples porque será que se tem complicado tanto em teorias diplomáticas repetindo os mesmos erros uma e outra vez? Espero mesmo que não lhe esmoreça o fulgor e que tenha fôlego para o que há-de vir. Em todo o caso será sempre sinal de que se avançou e é esse o espírito que falta em cada um de nós, no meio de tanta desgraça e guerra e crise e tudo quanto é mau. Haja alguém com energia para avançar apesar dos pesares, contra velhos do Restelo, com alento que contagie. Parece que o “Yes, we can” não foi apenas para empolgar as massas numa espécie de euforia psicadélica e eu gosto mais de Obama por isso.

Pós-elucidações vaginais


Imagem daqui.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Acudam

Já não a posso ouvir. Tem aquela maneira agreste de falar que empobrece a beleza de uma frase como “na sê da nha mãe”, à la terrinha que muito prezo. Apanha-me desprevenida, deixa-se ficar mesmo quando finjo concentração em meros fóruns de opinião sobre se o gaiato dentro do bandulho ouve a mesma música que a mãe ouve, mas com auscultadores – que, acrescente-se, trata-se de um tema esmagadoramente inquietante e que só uma mente como a minha, em dias como este, poderia despertar. A dita passa e eu disfarço, sempre que posso, mas não resulta. Matraqueia-me os ouvidos com os mais variados temas, desde o novo caso Alexandra-coitadinha-arrancada-aos-pais-adoptivos-como-a-outra-daqui-pobres-crianças-que-não-têm-culpa-mais-valia-terem-feito-logo-um-aborto e outras temáticas como a mudança-de-óleo-que-já-não-faço-há-que-tempos-e-qualquer-dia-arranjo-um-problema-qualquer-ainda-por-cima-com-as-viagens-que-faço-até-chegar-aqui-e-o-calor-e-não-sei-quê.

E isto dura-me umas horas, sem que eu tenha hipótese de fuga. Fico exaurida. Sim, é este o termo. “E tu não achas?” com longas contemplações à minha cara de parva à espera de resposta que não vem. Mas não faz mal, ela prossegue o rosário mesmo sem o meu acompanhamento. No fundo, está-se nas tintas para que lhe dê saída. Também ela pertence a um grupo de infindáveis membros, que assola a humanidade: os que adoram ouvir-se.

Jorge


O Jorge anda perdido. Mas o Jorge não seria o Jorge se não andasse perdido. A boémia está-lhe na essência das notas e das palavras geniais, alucinadamente simples. Não lhe perdoo as bebedeiras com gafes e os dedos nas teclas erradas só porque é o Jorge. Nem o exalto pelos refrães de “encostos” batidos, sem o arrepio da surpresa nos tons, nem poema sublime. Amo-o quando gritava “podem falar”, pela terra dos sonhos que criou nos meus próprios sonhos, pelas maçãs à espera do fim, pelo orgasmo na gruta ainda fria, que eriça os pelos pela crueza, as travessuras rebeldes de um Jeremias à margem, os sensuais pedidos de lume. Amo-o porque no final me incitou a ser uma mulher nova sem preconceitos, poder saber amar, ver no espelho os meus próprios defeitos, poder ter os ombros fortes para aguentar o peso da liberdade e o coração de leão para não ter medo de encarar a verdade. Deixar brilhar as estrelas no olhar.
O Jorge sabe do que fala, sabe que os vícios são prisões que embaciam as estrelas do olhar.

“Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo”

A gente vai continuar

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Um português surreal


Fiquei contente, hoje, com a condecoração de Cruzeiro Seixas. Aquele que não gosta que o adjectivem de pintor, mas como "um homem que pinta". Conheci-lhe o trabalho durante a faculdade, a propósito das aulas de Artes Plásticas e Literatura. Um surrealista com muita pinta.

Alguém pediu Jorge de Sena?

"Um beijo em lábios é que se demora
E tremem no abrir-se a dentes línguas
Tão penetrantes quanto línguas podem.
Mas beijo é mais. É boca aberta hiante
Para de encher-se ao que se mova nela.
É dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
Irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
E sobretudo o que se oculta em sombras
E nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
Quanto de lábios se deseja."


Jorge de Sena, Beijo [in Antologia Poética]

Curtas [16]

Estou com o Miguel na ridicularização das letras das cantigas do amigo RR.
Quase não consigo eleger a minha favorita mas, vá, nota 10 para a "Meio-dia não sejas triste". Perdoai-o, Senhor!

Descobertas giras! Ahah!

Isto é que é um homem, hein? Muaaaah! Blharc...

[em breve tê-lo-ão disponível na barra lateral. O blog, não o homem.]

terça-feira, 9 de junho de 2009

Da gestão espácio-temporal dos pensamentos e das emoções

"É preciso sabermos regionalizar os pensamentos", disse ele com a autoridade que lhe conferem os seus 74 anos. Fazíamos a viagem de regresso à nossa segunda casa e mesmo quando ele já falava de expressões nortenhas ou da luta da burguesia portuense do seu tempo por um lugar ao sol, a frase que proferira antes não deixava de assolar-me o pensamento. Acrescentei que também com as emoções precisamos fazer esse trabalho que é, por vezes, doloroso, mas que prima por constituir uma boa forma de educar a ansiedade. Concordou. O problema é que, a ser verdadeira a premissa de que partimos, ele há 42 anos e eu quem sabe um dia, é preciso ter também em atenção a gestão temporal desses mesmos pensamentos e emoções, pois de que nos vale arrumá-los bem arrumadinhos, se os repescamos a todo e qualquer momento intencional e/ou inconscientemente? Há quem diga que é possível viver assim: com tudo arrumadinho em gavetinhas, bem etiquetadas [como as que se põem em caixas com "roupa de cama de inverno", "lençóis de verão"...], claro, que abrimos voluntariamente quando nos apetece pensar ou sentir isto ou aquilo. Posso até entender, mas o maior das vezes parece-me que não são mais que puros mecanismos de protecção que nos dão a ilusão de um absoluto auto-controlo e, por isso, nos confortam. Caixas de pandora que, pelo sim pelo não, é melhor mantermos fechadas, não vá o diabo tecê-las...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Ontem e hoje

Ontem o final de tarde tocou assim:



Hoje o dia toca assim (já não os ouvia há que tempos, lembrei-me):



Para ver se arribo!

Laura

Há-de chamar-se Laura, a minha primeira filha. Vai ser linda e feliz.
Sempre que a avó tem uma nova orquídea, chama-lhe Laura. Então far-lhe-ei este carinho por tudo o que recebo em troca todos os dias e porque gosto do nome. É bonito. Sossega-me.

Estados...

Domingo. Dia de sol. Passeio e capilé. Gelado no jardim. Amêijoas nos olivais. Boas energias.
Segunda-feira. Dia cinzento. No 2x2 a trabalhar. Olhos pesados. Sono.

domingo, 7 de junho de 2009

Outros registos...

... que fazem lembrar o de baixo. Sempre gostei destes confrontos macho-fêmea.
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Ele:
Eu te adivinhava
Eu te cobiçava
E, te arrematava em leilão
Te ferrava a boca, morena
Se eu fosse o teu patrão
Aí, eu tratava
Como uma escrava
Aí, eu não te dava perdão
Te rasgava a roupa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu te encarcerava
Te acorrentava
Te atava ao pé do fogão
Não te dava sopa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu encurralava
Te dominava
Te violava no chão
Te deixava rota, morena
Se eu fosse o teu patrão
Quando tu quebrava
E tu desmontava
E tu não prestava mais não
Eu comprava outra, morena
Se eu fosse o teu patrão

Ela:
Pois eu te pagava direito
Soldo de cidadão
Punha uma medalha em teu peito
Se eu fosse o teu patrão
O tempo passava sereno
E sem reclamação
Tu nem reparava, moreno
Na tua maldição
E tu só pegava veneno
Beijando a minha mão
Ódio te abrandava, moreno
Ódio do teu irmão
Teu filho pegava gangrena
Raiva, peste e sezão
Cólera na tua morena
E tu não chiava não
Eu te dava café pequeno
E manteiga no pão
Depois te afagava, moreno
Como se afaga um cão
Eu sempre te dava esperança
D'um futuro bão
Tu me idolatrava, criança
Seu eu fosse o teu patrão
Mas se tu cuspisse no prato
Onde comeu feijão
Eu fechava o teu sindicato
Se eu fosse o teu patrão

Chico Buarque, Se eu fosse o teu patrão in Ópera do Malandro

Aí está ele. Em grande.



Ela:
Eu nunca suspirei, nunca te adorei
Eu nunca quis saber, eu nunca te quis bem.
Eu fingi ter prazer, gritei...,pus-me a gemer,
Mas nunca desliguei pensei sempre em sair, fugir e me encontrar com estranhos nalgum bar, gozar...rir-me de ti.

Ele:
Eu nunca suspirei, nunca te adorei
Eu nunca quis saber, eu nunca te quis bem...
Mais que a um saco de prazer, um bicho de salão com modos de pavão.
Pensei em passear-te por galerias de arte na trela como um cão,
Um vicio, um precipício....
Cio.

Foi tanta porcaria, tornou-se natural
E por toda a cidade fez-se pratica normal,
Falar dos velhos tempos com grande exaltação,
Encher de fancarias a má de coração.
Tantos verões de amor azul como na televisão:
"Eu era uma princesa...actriz",
"E eu era um Rei feliz!".

Mente ao antigamente, mente...
Contente e constantemente...
Como antigamente.

in Boato

Jovens eleitores

Pergunta: Explique em que sentido, para Kant, o juízo estético é desinteressado.


Resposta: "O sentido estético para kant é desinteressado, pois aprecia-mos um rapaz apenas por ser giro não faz qualquer sentido, achamo-lo giro porque pode até ser o nosso genero, mas não o estamos a apreçiar pelo que ele é por dentro".


Caras amigas, tanto teclar em torno das mais diversas dicotomias que nos assolam as mentes à custa da temática das relações interpessoais, do caos emocional, do compromisso, dos afectos, desejos e protótipos ideais. Fiquei estarrecida perante este confronto duro de uma verdade que desde sempre nos atormentou, a nós, fêmeas inquietas. Um rapaz giro é só um rapaz giro. Pura estética fria, vazia de conteúdo ou profundidade de tal consistência que nos faça largar tudo e correr para os braços do dito sem olhar para trás. Reveste-se, este rapaz, de não mais que uma capa macabra para nos enfeitiçar por instantes fugazes, de prazer imediato, para mais tarde descobrirmos, como alertava Saint-Exupéry, que o essencial é invisível aos nossos olhos. No final desta reflexão alcança-se, então, a clarividência: o âmago interessante deste rapaz habita no seu interior, por dentro, vá. Ó futilidade humana que nos encarceras neste vício do deslumbramento mundano!

Afinal, sabemo-lo agora, Kant fora um acérrimo pensador das inquietações femininas…

Tocou-me este “apontamento” deixado pelo José Ricardo Costa, por aquilo que deveria ser e não é – uma resposta fundamentada em bases teóricas, com alguma reflexão pessoal –, pela já conhecida imagem de marca acusada pelos erros ortográficos e pelo facilitismo descaradamente assumido. Para mim é, acima de tudo, assustador.

sábado, 6 de junho de 2009

So girlie

Descobri há dias um blog com t-shirts e chuchas para putos com estilo. Chama-se Piranha Baby e vale a pena dar uma espreitadela!

Deixo aqui um "cheirinho"...


quinta-feira, 4 de junho de 2009

Mudança de planos


A Mayra trocou-me as voltas. Mas como não sou miúda de me ficar, vou "laurear a pevide" até ao Auditório dos Oceanos.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Lindo...

se conseguires entrar em casa e
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra duma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
contínua e miudinha - não te assustes

são os teus antepassados que por um momento
se levantaram da inércia dos séculos e vêm
visitar-te

diz-lhes que vives junto ao mar onde
zarpam navios carregados com medos
do fim do mundo - diz-lhes que se consumiu
a morada de uma vida inteira e pede-lhes
para murmurarem uma última canção para os olhos
e adormece sem lágrimas com eles no chão

Al Berto, Incêndio

Já cá canta!

Divagações matinais

Cansada deste 2x2 em que me fecho em média 7 horas por dia. Pouco respirável e claustrofóbico é, no entanto, a personificação do que gostava de fazer durante longos anos. Empresas, não obrigada. Associações, talvez, mas funcionam sempre pior quando lá estamos dentro do que quando ouvimos, cá do fundo, da sua missão e objectivos. Parece concorrer tudo para o mesmo: cada um acha-se grande dentro do meio em que trabalha mas, bem vistas as coisas, muito poucos fazem esta merda andar para a frente. Paradoxalmente, pela primeira vez em sete anos, sinto que devo exercer o meu dever cívico e, por isso, lá estarei seja a que horas for no domingo a pôr a cruzinha nos papelinhos. Devo ter crescido. Ao mesmo tempo continuo a viver num quase permanente alheamento político e não sei bem porquê. É... devo mesmo ter crescido, o que me permite, talvez, uma melhor percepção da imundície que vai nos discursos dos grandes a quem não falta o pão nosso de cada dia. Talvez também por isso deseje manter-me por aqui, não sei, fazer uma carreira académica, continuar a estudar, investigar, dar aos outros o que queiram receber daquilo que tenha para partilhar. Não por me achar grande neste território que até é pequeno, mas por me achar pouco forte para enfrentar o que se passa lá fora. Cobardia, talvez...

terça-feira, 2 de junho de 2009

Golpadas



Chamam-se "Os Golpes". Têm sangue torrejano, já por cá actuaram e contam com um destaque no Ípsilon. Toma embrulha. Pensei cá para mim que deveria ver do que se tratava, até porque a crítica parece bem favorável. Confesso que o nome me deixou logo pouco confiante na performance, mas isso sou eu com a mania das minhas impressões ao primeiro som. Tenho que concordar na aparente convicção e uma urgência impossíveis de ignorar, mas... não me convence. Fico contente que desta terra brotem espécimes com sangue na guelra, que acreditem no seu trabalho e que, de facto, tenham o talento para tal. Isso é de louvar, sem dúvida. Mas neste caso não consigo concordar com o Sr. Mário Lopes na observação começando pelo título e pela capa, foi pensado e criado como um manifesto - a primeira proclamação. Isso foi o que os Golpes elaboraram, com um atentíssimo cuidado pop que se revela nos pormenores. Ok, até pode ser verdade, mas a mim, humilde ouvinte, não me soa a mais do que remakes de estilos já batidos, apoiados em orgânicas de Strokes e afins, que quando aparecem rasgam por completo um panorama musical que não os esperava, revigorando a canalha sedenta de uma rockalhada à maneira. Parece-me que se continua a martelar na mesma tecla, tentando recriar fórmulas de sucesso. Existe, actualmente, um rol de bandas a roçar os mesmos toques, tiques e tons à espera do seu lugar ao sol. Apareceram, de facto, algumas boas bandas portuguesas, ultimamente, mas nem tudo o que é português, jovem e com grandes guitarradas é bom. De repente anda tudo em bicos dos pés a ver quem consegue sobressair mais entre o "mais do mesmo", fala-se imenso de novas bandas, destacam-se em rádios e jornais, porque há que falar das novas bandas portuguesas, dar-lhes espaço e tempo de antena. Também acho muito bem, só não acho lá muito bem que se aglomere tudo, misture e sirva com tempero e hortelã para ficar mais apetecível à massa consumista.

Amigo David,

Obrigada por isto. É muito bom!




David Bowie, Starman

Declarações de amor

Cá está ela a fazer apetecer outra vez. Luminosa e quente. Refrescada pelos muitos que por ela passam. Linda de morrer. Todos os dias me apaixono mais um bocadinho por ela. O que tem de inocente e ingénua, tem de frenética, arrojada. É esta dualidade que a torna apaixonante. Capaz de provocar sensações diversas, deixa-se povoar por este e aquele porque a tornam especial, multicultural, por isso, desafiante, saborosa. É tão bonita à beira rio, como nas ruelas mais estreitas, quando cheira a terra molhada ou a sardinhas, quando se passeia florida ou quando deixa pisar as folhas vermelhas no chão. Por isso a quero comigo ao deitar e ao amanhecer... Lisboa.


Lisboa que amanhece - Séergio Godinho