terça-feira, 13 de julho de 2010

Amátrida

A nossa Mátria não é a mesma. Surgiu no tempo certo e foi-se desvanecendo quando deixou de ser a duas mãos. Talvez a prova de que tudo tem um fim ou, pelo menos, um intervalo sem termo certo. Isso mesmo, chamemos-lhe um intervalo sem termo porque a vida não acabou. Na casa da Minhamátria continuarão a bater corações alimentados pelo que cá fica guardado, nestes quase três anos de vida. Damos novo salto para ir mais além, ser, procurar e viver outras coisas, mas voltaremos sempre a esta casa para recordar e viver, porque Lira e Vinho precisam ambos disso, do alimento do que já foi, afinal é o que já foi que os faz serem hoje quem são. Fica a certeza de que serão sempre no sonho e na vida um complemento, mesmo quando as palavras não se cruzam por estas paragens. A Lira e o Vinho continuarão, por isso, de braço dado em tudo aquilo que lhes é poeticamente perene, apenas separadas no mundo literário virtual: a Lira noutras Inquietações, o Vinho, em paragem incerta, vai deixando a sua marca.

Um até já.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Jesus and the Weather



"I don't think Jesus, who is our Lord,would have liked the weather in Limerick, because it's always raining and the Shannon keeps the whole city damp. My father says the Shannon is a killer river... because it killed my two brothers. When you Iook at pictures of Jesus, He's always wandering around ancient Israel in a sheet. It never rains there, and you never hear of anyone coughing... or getting the consumption or anything Iike that. And no one has a job there, because all they do is stand around, eat manna, shake their fists, and go to crucifixions. Any time Jesus got hungry, all He had to do was to walk up the road... to a fig tree or an orange tree and have His fill. Or if He wanted a pint, He couId wave Hish and over a big glass... and there was the pint. Or He couId visit Mary Magdalene and her sister Martha, and they'd give Him His dinner, no questions asked. So it's a good thing Jesus decided to be born Jewish in that nice warm place. Because if He was born in Limerick, He'd catch the consumption... and be dead in a month, and there wouldn't be any Catholic Church, and we wouldn't have to write compositions about Him. The end."



Angela's Ashes, Frank McCourt

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Dicionário DoInês-Português

Gente de três ao prato - pessoas sem maneiras, grosseiras, indelicadas.

domingo, 27 de junho de 2010

Momento "compreendo e pretendo continuar"



De libertinos é sempre um prazer saber, desta vez com improvável selo JR. Traz-me uma mistura de Marquês de Sade com Milo Manara, a assinar "Georges Pichard".
Tudo é volúpia ao extremo, luxúria a um nível de imaginação que poucos conseguiriam. Desprezo-lhe a postura da mulher-objecto submissa, violada, torturada e rendo-me ao efeito que tudo isso me provoca. Tal como Manara, com a sua suposta-casta-mas-sedenta Cláudia, de formas e herança generosas, Pichard desenha Paulette. Depois remistura influências às personagens do Kamasutra Indiano e remata com as imagens mais chocantes - e até surreais - de prazer, dor, voyeurismo e brutalidade. Eis o sexo puro e duro numa alternativa ao conceito que lhe atribuimos de simples e básico: a exaltação do carnal e mundano.

Não resisto a relembrar isto...

"Falais-me dos laços de amor, Eugénie; oxalá nunca os conheçais! Ah! Que um tal sentimento, pela felicidade que vos desejo, nunca se aproxime do vosso coração! O que é o amor? Parece-me que só poderemos considerá-lo como o efeito resultante das qualidades em nós produzidas por um belo objecto; estes efeitos arrebatam-nos; inflamam-nos; se possuirmos o objecto, eis-nos contentes; se nos for impossível tê-lo, desesperamos. Mas qual é a base deste sentimento?... O desejo. Quais são os resultados deste sentimento?... A loucura. Falemos do motivo e provemos os resultados. O motivo consiste em possuir o objecto; pois bem! Tentemos consegui-lo, mas com sagacidade; gozemo-lo quando o tivermos; consolemo-nos no caso contrário: mil outros objectos semelhantes e, frequentemente muito melhores, consolar-nos-ão da perda daqueles; todos os homens, todas as mulheres se parecem; não há amor que resista aos efeitos de uma sã reflexão. Oh! Não há maior engano do que essa loucura que, absorvendo em nós os resultados dos sentidos, nos coloca em tal estado que deixamos de ver e existir, senão para esse objecto loucamente adorado! É isso viver? Não será antes privar-se, voluntariamente, de todas as doçuras da vida? Não será querer permanecer devorado por uma febre ardente que nos absorve e nos devora, deixando-nos apenas a felicidade dos gozos metafísicos, tão semelhantes aos efeitos da loucura? Se devessemos amá-lo sempre, a esse objecto adorável, se fosse certo que nunca devessemos abandoná-lo, seria indubitavelmente uma extravagância, mas, pelo menos, desculpável. Acontece isso? Têm-se muitos exemplos dessas ligações eternas, que nunca se desmentiram? Alguns meses de gozo que depressa devolvem ao objecto o seu lugar verdadeiro, fazem-nos corar pelo incenso que queimámos nos seus altares e vamos muitas vezes ao ponto de nem sequer conceber que ele tenha podido seduzir-nos até esse ponto.

Oh, raparigas voluptuosas! Entregai-nos, pois, os vossos corpos, tanto quanto puderdes! Fodei, diverti-vos, eis o essencial; mas fugi cuidadosamente do amor. Ele só tem de bom o físico, dizia o naturalista Buffon, e não era só por isto que era bom filósofo. Diverti-vos, repito; mas não ameis; não vos perturbeis por isso: não deveis externuar-vos com lamentações, suspiros, olheiras e ternos bilhetes; o aconselhável reside em foder, multiplicar e trocar frequentemente de parceiros; deveis, sobretudo, opor-vos a que um só queira cativar-vos, pois que o fim deste amor constante seria, ligando-vos a ele, impedir-vos de vos entregar a um outro, egoísmo cruel, que cedo se tornaria fatal aos vossos prazeres. As mulheres não são feitas para um só homem: foi para todos que a natureza as criou. Se escutarem apenas esta voz sagrada, deverão entregar-se indiferentemente a todos aqueles que as queiram. Sempre putas, nunca amantes, fugindo do amor, adorando o prazer, só encontrarão rosas no caminho da vida; só nos prodigarão flores!"


Marquês de Sade, A filosofia na alcova

terça-feira, 22 de junho de 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

"Mizé - antes galdéria que normal e remediada"


Lá diz o Ricardo Adolfo.

Eu concordo com a Mizé. Para se ser galdéria não é preciso muito, basicamente é ser-se o equivalente ao macho que as papa todas. Mulher com despudor e nas tintas para os falatórios é basicamente isso... uma galdéria, uma slut. Não vejo mal nenhum, aliás até gosto do som da palavra. Como badalhoca, é vocábulo que me agrada entoar.

Faz-me pensar que estas palavras não existiriam se as pessoas gostassem menos de opinar sobre a vida alheia. É incrível como somos juízes dos outros e nos sentimos poderosos para sobre eles dissertar, decidir do melhor, criticar e sentenciar futuros, desgraças, caracteres. Como dizia o outro senhor, quem nunca o fez que atire a primeira pedra.

Não sei que raio de condutas nos auto-impusemos, nem quando. Sei que quando cá vim parar, a isto que se diz mundo, já elas existiam. Ou alinhas ou não alinhas. E muitas vezes alinhas por defesa: na protecção e no ataque. Cá vamos andando aprumadinhos na linha das convenções ou construindo a carapaça para melhor dissimulação, continuamente estudando o inimigo. E sempre, nunca descurando, o ataque aos desvios detectados, às galdérias desta vida. Que enquanto os olhos estiverem postos nas galdérias, os perversos defensores dos bons costumes estarão a salvo.

Ou não...

A reza desta vez seguiu já badalavam os 45 minutos. Se já estavam bentos ficaram mais ainda, pelo menos pela inspiração que se seguiu...

terça-feira, 15 de junho de 2010

Momento bola de cristal

14h00 - DonInês reza o quebranto à Selecção Nacional para que a cura chegue a tempo a África do Sul (jogo às 15h00).

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Dicionário DonInês-Português

Escabeçar - pender a cabeça a dormir; dormitar

Perniscuidade - promiscuidade

Pecissão - procissão

Come bem sem vento - tem apetite

Re-

Gosto do re-. Percebo agora porque a palavra arrependimento tem um rre tão forte e as pessoas lhe fogem. Não acredito em arrependimentos, exactamente porque o que aconteceu teve um determinado momento e contexto que, se repetido em igual momento e contexto, teria as mesmas repercussões, desencadearia as mesmas reacções. Nunca vi prefixo com cargas tão pesadas. Para o bom e para o mau. Tresanda a passado e a um bisar de qualquer coisa. Reviver, reencontrar, repetir um olhar, um beijo, um riso, um pensamento… Mas perceber que o que se conheceu um dia está exactamente igual é, quase sempre, um prazer, sejam boas pessoas, sítios bonitos ou situações agradáveis. Surpreendentemente instalam-nos quilos de energia e boa disposição, como se nos envolvessem numa aura de boas vibrações. Conclui-se com alguma melancolia que o que as encruzilhadas têm de pior são as pessoas que perdemos pelo caminho, apenas porque tivemos que cortar à esquerda, enquanto outros seguiram em frente. Voltar e fazer diferente não, obrigado. Mas voltar e viver de novo aquele dia ou aquele momento… porque não? Se calhar pelas sedutoras amarras do re- que nos impediriam de voltar a viver o presente, deixamo-nos de rres e convém fazer coisas novas. Deve ser por isso que reinventamos rres no presente e procuramos repetidamente aqueles com quem fomos felizes, criamos as mesmas condições que nos fizeram felizes enquanto, sem querer, inovamos nas pessoas, nas coisas e lá nos vamos reinventando também.


Don't ever change, don't ever worry
Because I'm coming back home tomorrow
To 14th Street where I won't hurry
And where I'll learn how to save, not just borrow
And they'll be rainbows and we will finally know