quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Descobertas #17

O algodão não engana. E é isto:
O Algodão não engana, porque mostra uma verdade que desafia os limites do real, suja e pouco confortável. Os textos são genuinamente indecorosos e a música, muitas vezes feita e gravada às três pancadas num quarto, também poderá ser considerada demasiado prosaica, e ainda bem, porque a ideia é mesmo essa. Alguns perguntarão:
O “Algodão” é xunga? É pois. Como o caralho.




De cada vez que tentava começar uma frase, subitamente as ideias desvaneciam-se. «Porra, tenho a certeza que esta era porreira». Coçou a cabeça e deu um golo no copo de cerveja onde flutuavam dois cubos
de gelo. O Puto esquecera-se de meter as garrafas no frigorífico e agora improvisava desta maneira. Desde que a bebesse rápido, não havia espiga. Bebê-la morna é que não podia ser, não senhora. Era da mais barata do mercado por isso, às tantas toda a situação não deixava de fazer
um estranho sentido. À força do hábito, o puto acabara por desenvolver uma predilecção pelo mais xunga. Pelo menos na bebida, nas drogas e nas mulheres. Mais valia a pena fazer uma pausa. Escrever naquele momento estava a custar demasiado. Pegou no telefone e ligou para a Teresa.
- Sabes que horas é que são?!
- São horas de passares em minha casa…
- São três da manhã, meu cabrão. Já estava a dormir. O que é que queres?
- Não consigo escrever.
- E o quê que eu tenho a ver com essa merda?
- Às tantas podias inspirar-me...
- Ah é? Então e a outra puta que anda a parasitar pela tua casa
não serve para isso?
- Quem, a Ana?
- Sei lá o nome dessa cabra!
- A Ana é apenas uma miúda que gosta do que eu escrevo, mais nada.
Já não aparece cá há uns tempos.
- Não sabia que andavas a escrever com a pila.
- Deixa-te disso, anda lá, meti agora mesmo umas garrafas no congelador.
- O quê, da tua bebida rasca? Além disso, tenho estado com o Adriano.
- Porra, com o Adriano? Esse pedante de merda?!!
- Ao menos trata-me bem.
- E fode-te bem?
- Mas quem és tu para falar disso? Andas a beber demais, puto,
qualquer dia desapareces, evaporas.
- Whatever, cabra.
- Cabra?
- Espera aí... o telefone deve estar a fazer eco.
- Vai mas é beber até te vomitares todo! Devias era sufocar no meio
do vómito, meu cabrão!
- Ao menos ainda consigo fazer alguma coisa de jeito.
- O quê, falar da merda que fazes?
- Yah… Disso e de cabras como tu. A merda inspira-me. Podes crer.
Só mais uma coisa: a Ana faz broches bem melhores que os teus.
- Imagino, deve ter boca de bebé, mesmo à tua medida, né?
- Yah… E o rabo também, ao contrário do teu, é bem apertado, como eu gosto.
O puto desligou o telefone, abriu uma garrafa, já fresca, e começou
a escrever. Sentia-se bem e capaz de escrever durante horas e horas a fio.


Xunga como o caralho, Pacotes em Almada


Deve ser disto que preciso para ganhar inspiração. Hoje está-se assim ou a precisar de estar assim. Surreal, altamente alucinado.

1 comentário:

José Ricardo Costa disse...

Em alternativa, poderás experimentar a Bíblia. Não te esqueças que Jesus te ama.

JR