sexta-feira, 19 de março de 2010

O tempo em Lisboa pode ser "um cachorrinho simpático"

Pisar Lisboa foi uma experiência aterradora. Não foram o trânsito infernal ou o tempo perdido em transportes públicos os motivos da minha aflição e do desejo de fugir para o sossego da pequena cidade. O tormento foi e é olhar restos de vida que se fazem ver muito mais aqui do que lá. A progressiva ligeireza ao passar por eles e quase já nem os ver é, essa sim, um ciclope maldisposto. Mas até com o tormento se aprende a viver...

Lisboa não é a cidade perfeita, nem queremos que o seja. Normalmente o que é perfeito enjoa-nos, engana-nos, porque na realidade não o é. E Lisboa não engana ninguém, mostra-se diariamente tal como é: um reboliço pegado que todos os dias tem para nos oferecer verdadeiros sopros de vida. E não me refiro apenas, nem principalmente, à música, ao teatro, ao cinema, às exposições... Penso no 28, no Jardim da Estrela, na relva do CCB, no quiosque do Camões, na calmaria da Sá da Costa, no Adamastor, na Praça das Flores, no miradouro da Graça, na delícia de conversar com ela em dias de sol e de poder abraçá-la quando chegam as primeiras cores do Outono.

Em Lisboa o tempo também dá a sensação de que não passa. Os transportes não são sempre diabólicos, as ruas não se assemelham sempre a formigueiros e é possível chegar em 10 minutos a muitos lugares catitas. O sol brilha de manhã e toma-se o pequeno-almoço na Confeitaria Nacional e logo depois exercitam-se as pernas num passeio à beira rio, onde se faz um piquenique sobre uma toalha aos quadradinhos. A tarde? A tarde tem tempo para ser o que se quiser e pelas 19h juntam-se os amigos para os caracóis e as imperiais, decide-se depois onde se quer jantar e a noite faz-se onde mais nos apetecer. Cada lugar pode muito bem ser aquilo que deixamos que seja...

Há muito que fizemos as pazes, eu e ela. Há anos que somos inseparáveis.

2 comentários:

lira disse...

Ah e tal tão cosmopolita eu! Tudo muito verdade, mas a eterna ladaínha de que Lisboa é que é, às vezes cansa um bocado. Mas lá está... depende daquela que consideramos a nossa terra e Lisboa pode passar a ser a nossa. A partir daí, não há quem a bata. Quanto aos 10 minutos... É possível dependendo do sítio onde estejas! O que se pretende provar, no texto de que falas, é que a partir de qualquer ponto chegas sempre em cerca de 10 minutos aonde quiseres. Mas pronto... isto sou eu a defender a minha bitola ;)

Anónimo disse...

E eu não estou a defender coisa nenhuma, nem sou mais ou menos cosmopolita que tu. Defendo o lugar em que sinto em casa. Não é assim?