terça-feira, 24 de novembro de 2009

sábado, 21 de novembro de 2009

Guardo o sabor. A mel e a fel.

Sinto muito
Mas não vou medir palavras
Não se assuste
Com as verdades que eu disser

Quem não percebeu
A dor do meu silêncio
Não conhece
O coração de uma mulher

Eu não quero mais ser
Da sua vida
Nem um pouco do muito
De um prazer ao seu dispor

Quero ser feliz
Não quero migalhas
Do seu amor…
Do seu amor…

Quem começa
Um caminho pelo fim
Perde a glória
Do aplauso na chegada

Como pode
Alguém querer cuidar de mim
Se de afeto
Esse alguém não entende nada

Eu não quero mais ser
Da sua vida
Nem um pouco do muito
De um prazer ao seu dispor

Quero ser feliz
Não quero migalhas
Do seu amor…
Do seu amor…

Não foi esse o mundo
Que você me prometeu
Que mundo tão sem graça
Mais confuso do que o meu

Não adianta nem tentar
Maquiar antigas falhas
Se todo o amor
Que você tem pra me oferecer
São migalhas, migalhas...

Eu não quero mais ser
Da sua vida
Nem um pouco do muito
De um prazer ao seu dispor

Quero ser feliz
Não quero migalhas
Do seu amor…
Do seu amor…

Sinto muito
Mas não vou medir palavras

Sinto muito…



Erasmo Carlos

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Tendências capilares

Apraz-me aqui falar-vos daqueles senhores carecas, que puxam uma madeixa de cabelo lateral para tapar a dita. Hoje fui ao cabeleireiro e lá estava um desses senhores a arranjar a sua cabeleira lateral. Após rápido corte, afianço-vos que ficou 30 minutos frente a um dos espelhos a realizar esta operação que, ao que parece, tem muito que se lhe diga! Apressou-se a resgatar um pente e laca e lá estava ele, com todo o cuidado, a colocar pacientemente, cabelo a cabelo, a acompanhar o escalpe calvo não sem deixar algum volume. É que assim, até parece mais natural!

Pois é...


Por mais discussão que haja sobre as mulheres e o sexo, o básico é exactamente isto. Tudo muito certo quanto ao facto de as mulheres conhecerem o seu corpo e saberem aquilo que querem. Mas verdade, verdadinha é que muitas andam por aí bem mal comidinhas - e pior - sem o saberem. Se toda a vida comemos banana, nunca vamos saber se gostamos de pepino (isto para usar uns alimentos fálicos, que sempre tem mais piada) e quando pensamos que até andamos satisfeitas, se calhar, não é bem assim. Daí, a minha humilde teoria de que mulher nenhuma se deveria prender a um homem sem conhecer outros. Na cama, claro. Não pela quantidade, porque isso não interessa nada, mas pela variedade, pelo conhecimento do sexo, do homem e da mulher. Conhecer o melhor, o pior e o diferente.

Outra verdade, verdadinha é que anda para aí muito macho que se está nas tintas para o prazer da mulher. Faz o que tem a fazer para provocar algumas humidades na ala feminina e sigam 2 ou 3 contorções para o assunto estar despachado. Sim, porque o que lhes interessa é um orgasmo e ponto final. Quando uma mulher até sente algum prazer nessa estimulação, tem um leve vislumbre do que é a satisfação sexual, chegando a uma cega conclusão de que o sexo e o prazer... é aquilo.

Mostrava-se, minha querida avó, muito indignada com essa prática do sexo oral nas mulheres, vulgo cunnilingus. "O quê? Ai que horror e não há-de cheirar mal! Mesmo a sério que fazem isso?" Eu não resisti a dizer "Avó, não sabes o que perdes...". OK, são gerações diferentes, mas a base destas ideias ainda está muito enraizada nas mentes de hoje. Prova disso mesmo, é o crescente número de raparigas que iniciam a sua vida sexual pelo sexo oral nos rapazes, que lhes pedem. Nem vale a pena mencionar que o contrário não se pratica. Não se põe sequer em causa que a própria mulher não tenha prazer em fazê-lo - existirão excepções, claro - mas, mais uma vez, é o prazer do homem que vem sempre em primeiro lugar.

Sim, lá estou eu a falar de sexo, mas parece-me que ainda existem muitas ideias preconcebidas que devem ser rejeitadas, repensadas e alteradas. Gostava de o conseguir passar à minha filha da maneira correcta, para que ela tenha respeito pelo seu próprio corpo, aliado a uma mente aberta que a permita não ter vergonha de reclamar o seu próprio prazer, enquanto mulher.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Ao casamento gay



GIRLS WHO ARE BOYS
WHO LIKE BOYS TO BE GIRLS
WHO DO BOYS LIKE THEY'RE GIRLS
WHO DO GIRLS LIKE THEY'RE BOYS
ALWAYS SHOULD BE SOMEONE YOU REALLY LOVE - E é o que basta!

Instinto maternal VS Retorno à infância

É só uma teoria, mas dei comigo a pensar que ser mãe é basicamente como brincar às bonecas. É que é mesmo divertido! Ora vejamos, temos um Nenuco em tamanho real que não precisa de pilhas. Chora, ri e palra por sua iniciativa e não quando premimos o botão. Damos-lhe a papinha, mudamos a fraldinha e vestimos e despimos roupinhas muito giras para o embonecar. E é sempre entusiasmante porque nunca programamos o que vamos fazer a seguir, ele tem mesmo vontade própria, não se limita a estar ali de boca aberta e corpo estático com um som a vir-lhe de dentro "Mummy, mummy I love you".

Será, então, que o dito instinto maternal não passa de uma felicidade imensa de podermos retornar à infância, poder brincar às bonecas com esta idade, sem sermos recriminadas por isso? No fundo, as nossas fantasias de criança tomam forma real e aí, sim, sentimo-nos realizadas e felizes.

Não sei... Era só uma ideia...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Por isso a nossa dimensão, Não é a vida, nem é a morte



Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino


[Letra: Natália Correia; Música: José Mário Branco]

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Do sentimento trágico da vida

Não há revolta no homem
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.

Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.

Revolta é ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos há-de matar.

Rebeldia é o que põe
na nossa mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos mata devagar.

E só depois de informado
só depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia de saber
o que só então se sabe
e não se pode contar.

Natália Correia

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

[...]

Não vinha a esta casa há já algum tempo. É curioso. Ela que me permite ser o que de mais verdadeiro existe em mim, tem-me afastado. Ao mesmo tempo. Não quero saber o que trago comigo de verdade? Não quero saber porque pode ser mentira? Não sei nada. Não quero saber é de nada. E este estado já não é de hoje. É mais fácil assim. Só que assim embargo a vida de outros que a querem seguir. Não deixo. Quero deixar, mas não deixo. Não quero deixar e, pouco a pouco, deixo. Lá vão eles. Lá vai ele, sem correr [porque quer ficar], mas a face está a tornar-se pesada. Vejo-o. Pediu-me já que o libertasse, que seja feita a minha vontade. Ama-me e, por isso, luta contra a necessidade de fugir para outro lugar. Amo-o e não sei dizer-lhe o que para nós será melhor. Dizia-me em tempos que o amor nem sempre é o bastante, fi-lo acreditar que sim. Devolve-me agora estas palavras e eu não sei o que hei-de fazer com elas. Que morra eu, se há-de morrer o amor.

A ouvir em repeat

Uma grande canção da Ópera do Falhado, obra do grande JP Simões e que muito gostaria ainda de ver. Aqui num tête-à-tête com Manuel João Vieira, não podiam estar melhor com fortes toques de um outro Chico, não se inpirasse a obra num outro Malandro.

A espreitar... Aqui neste sítio.

MJV - Isto é mais tipo Chico Buarque do que Tony de Matos, não é?

JPS - Chico de Matos.

Ninguém tinha planos
Aos 18 anos só tinha alucinações
Afeita toxinas
Narciso das esquinas
Das finas revoluções
De cabeça quente
Olhar insolente
Com fogo no ventre
A beber detergente com limão
Caiu nas linhas da palma da mão
Porque ardia a lua inteira
Lá à beira do portão

MNJ - Epá, tu lembras-te quando saltámos aquele camião pela rua abaixo e estava a passar a procissão?

JPS - Então não lembro, pá! O padre ficou entrevado, pá, coitado...

MJV - Bem feito! Então esse padre era um cabrão que andava lá a enrabar os putos da catequese!

JPS - Olha que isso de enrabar putos, pá, se bem me lembro tu também...

MJV - Isso é diferente, pá! Estava bêbado, isso é uma calúnia pá, isso é uma cabala!

JPS - Ah... cabala...!

Ninguém tinha dias
Só noites tardias
Vadias sem remissão
E a velha ansiedade
De incendiar cidades
E fugir na contramão
Pela madrugada
Amantes estafadas
Ainda contavam
Os sonhos medonhos e a aflição
De tantos medos sem explicação
Porque ardia a lua inteira
Lá à beira do portão

MJV - Ouve lá, não foste tu que te espetaste de carrinha contra a entrada da discoteca?

JPS - Olha que isso foi justiça poética! Então não te lembras que o cabrão do porteiro matou um puto à porrada? Então ris-te, ainda para mais...!

MJV - Os putos metem-se com quem não devem.

JPS - Eia... caralho, pá que fascista dum cabrão, pá! Fogo, tu tens futuro realmente...

MJV - Tu tens passado.

JPS - E eu tenho um passado do pior.

E crescia culto
Que o mal era adulto
Tal era o insulto
Do vulgo, do povo sem paixão
No desespero da evolução
Quando ardia a lua inteira
Lá à beira do portão

domingo, 1 de novembro de 2009