Uma grande canção da Ópera do Falhado, obra do grande JP Simões e que muito gostaria ainda de ver. Aqui num tête-à-tête com Manuel João Vieira, não podiam estar melhor com fortes toques de um outro Chico, não se inpirasse a obra num outro Malandro.
A espreitar... Aqui neste sítio.
MJV - Isto é mais tipo Chico Buarque do que Tony de Matos, não é?
JPS - Chico de Matos.
Ninguém tinha planos
Aos 18 anos só tinha alucinações
Afeita toxinas
Narciso das esquinas
Das finas revoluções
De cabeça quente
Olhar insolente
Com fogo no ventre
A beber detergente com limão
Caiu nas linhas da palma da mão
Porque ardia a lua inteira
Lá à beira do portão
MNJ - Epá, tu lembras-te quando saltámos aquele camião pela rua abaixo e estava a passar a procissão?
JPS - Então não lembro, pá! O padre ficou entrevado, pá, coitado...
MJV - Bem feito! Então esse padre era um cabrão que andava lá a enrabar os putos da catequese!
JPS - Olha que isso de enrabar putos, pá, se bem me lembro tu também...
MJV - Isso é diferente, pá! Estava bêbado, isso é uma calúnia pá, isso é uma cabala!
JPS - Ah... cabala...!
Ninguém tinha dias
Só noites tardias
Vadias sem remissão
E a velha ansiedade
De incendiar cidades
E fugir na contramão
Pela madrugada
Amantes estafadas
Ainda contavam
Os sonhos medonhos e a aflição
De tantos medos sem explicação
Porque ardia a lua inteira
Lá à beira do portão
MJV - Ouve lá, não foste tu que te espetaste de carrinha contra a entrada da discoteca?
JPS - Olha que isso foi justiça poética! Então não te lembras que o cabrão do porteiro matou um puto à porrada? Então ris-te, ainda para mais...!
MJV - Os putos metem-se com quem não devem.
JPS - Eia... caralho, pá que fascista dum cabrão, pá! Fogo, tu tens futuro realmente...
MJV - Tu tens passado.
JPS - E eu tenho um passado do pior.
E crescia culto
Que o mal era adulto
Tal era o insulto
Do vulgo, do povo sem paixão
No desespero da evolução
Quando ardia a lua inteira
Lá à beira do portão
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