segunda-feira, 1 de março de 2010

A tudo o que é demasiado certo.

Tretas. Irritam-me as pessoas demasiado certinhas, aquelas que têm tudo organizado, que não se esquecem de nada, conseguem cumprir todas as suas tarefas e ainda comprar o presente de aniversário do amigo do filho. Aquelas a que nada falha, pelo menos aos olhos de todos. As que vivem sob premissas de verdades inquestionáveis e modelos padronizados de vida, o modus estudar-tirar curso-arranjar emprego-casar-ter filhos. Revoltam-me ainda mais os rios de depressões desencadeados pela impossibilidade/dificuldade de o cumprir. As pessoas não vivem segundo os seus próprios padrões, não seguem o caminho no sentido dos seus quereres, mas sim segundo os modelos a que se auto-propuseram, mesmo não intencionalmente. Como se alimentassem a sua autêntica espiral de loucura e obsessão, quase por masoquismo e uma absoluta dose de perfeccionismo.

“A vida muda depois de sermos mães”. Outra grande treta. A vida muda tanto quanto o fim ou início de uma relação, a morte de uma mãe, um erro profissional. As mudanças são para quem as quiser aceitar porque no final, continuamos a ser o que sempre fomos: amigas, filhas, amantes, mulheres. Consinto apenas uma excepção no que conta ao sentido de confiança, segurança enquanto pessoas. De sentido mais apurado para o que realmente interessa e não interessa. Para melhor, portanto. No fundo, a essência mantém-se e, a meu ver, não se deve sequer tornar opaca. É fantástico, é magnânime é único e é eterno. É bom demais e nunca um precipício, um acontecimento abrupto, duro e de cara voltada para o passado, para o contínuo suspiro pelo que se era e se teve e se aspirou.

Vivo numa casa às vezes caótica, a minha filha nunca adormeceu à mesma hora, nem sempre janto, nem sempre almoço, esqueço aniversários, não dou a devida atenção aos amigos, não deixei de dizer asneiras, não vou deixar de beber uns copos. Vou no sentido que quero, ainda sou quem era e nunca mais serei a mesma.

5 comentários:

draaninhas disse...

Dona Lira, o que lhe aconteceu? Espero não estar na tua lista de certinhos indesejáveis, eh!eh! Bjs

lira disse...

Caríssima, a ti está-te na natureza! Os certinhos indesejáveis são os obsessivos que perseguem a sua vida certinha e não gostam de sair dos eixos. Não me parece que seja o seu caso, DraAninhas! Beijos!

draaninhas disse...

De todo: sou uma mulher de rotinas e exactamente por isso adoro escapar-lhes. O certo é mesmo por necessidade, nuns casos, noutros porque sim. Está-me no sangue é um facto. Bjs grandes

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
José Ricardo Costa disse...

Belo post!
JR