A lira emanou tanta melodia que se difundiu no que parece ser uma outra lira pequenina. Os tempos são incertos, a dúvida constante, a inquietação do que virá, o reboliço das cabeças e das preocupações, o choque das mudanças de vida, de mentalidade e… no fundo… a absoluta serenidade de uma felicidade suprema. Arregaçam-se as mangas e enfrenta-se o que vem de peito cheio, porque o que se vislumbra é um desconhecido malandro, desafiador, que nos acena sedutoramente convidando à doce perdição, mas dando-nos a mão. Exala uma segurança aparentemente estranha, uma certeza e uma força que não se sabe muito bem de onde vem, porque vem e como surge assim… no meio do caos. Sabe-se que é absoluta, indissolúvel, dogmática.
É, provavelmente, a única altura na vida de uma mulher em que não encolhemos a barriga durante o dia, para aparentar maior elegância. O corpo muda, fica diferente daquilo que conhecemos e até moldámos, segundo protótipos, mas… sabe bem, quer-se que assim seja. Descaem mamas de tanto peso, arredondam-se ancas, criam-se formas adiposas nas laterais abdominais, chegam a palidez e as olheiras, na pele as borbulhas ou a secura que chega a escamar, os enjoos, as tonturas, palpitações, sensibilidades, taras e manias. E daí? É um corpo que se molda em sintonia, em plena perfeição, num intuito exemplar de preparar uma recepção.
Cumpre-se um propósito mais do que biológico, encontra-se na minha condição de fêmea, de mulher e de feminina, num cocktail de hormonas, princípios, ideologias, movimentos, sensações e sentidos. Quer-se guardar cada momento por ser único, porque mais ninguém o entende, porque se pode subverter. Estranha-se a obrigatoriedade da informação de um estado à sociedade, um estado que é só meu e me é imposto o dever de partilhar. Não quero. É meu. Assustam-me as vibrações negativas que possam vir de fora e activo os super sentidos, em alerta constante contra possíveis predadores. E no entanto, nada é meu. Apenas a possibilidade de o viver durante um período determinado, porque sou o veículo, porque apenas permiti que acontecesse a hipótese de se gerar mais um ser, porque me cedi em prol de uma outra vida que não é minha. Doei-me a mim para que alguém pudesse… ser. E é aqui que reside o melhor de tudo: um “dar” que é o melhor “receber” de todos.
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4 comentários:
Que bonito :)
Sim Lira, excelente post.
Momentos mágicos, reveladores, no feminino.
A forca de, cientes dos nossos medos, dizer "Arregaçam-se as mangas e enfrenta-se o que vem de peito cheio" é muito feminina, nao acham? É uma forca cheia de amor. E esta é talvez a frase de que mais gostei no post.
Toma lá um beijo, ó mami! A titi também já fez o favor de divulgar a informaçao. Teve que ser, nao me aguentei.
Como estou orgulhosa de ti... Beijo grande!
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