10 da manhã e não quero dormir mais. Inédito. Salto da cama e enche-me o quarto um sol apetecível, rejuvenescedor, a pedir que o absorva. E assim fiz.
Em 3 tempos rumei à santa terrinha. Depois da sopinha da avó, aí vou eu palmilhar este chão que parece já não me conhecer, até ao jardim. O das rosas. A amiga maior que o pensamento aceitou o repto e por lá fomos com o sol na cara e o vento no cabelo. O rio, o verde, os patos, as crianças, a conversa, o café, o cheiro e aquele ar que é mais leve e revigora. Só aqui. Como se a minha matéria reconhecesse o seu habitat natural.
Passeei-me por calçadas nunca antes pisadas, numa espécie de reconhecimento do terreno e um "olá, voltei". Encontrei lugares que sempre conheci de cor e que em nada mudaram, confirmei a inexistência/descaracterização de outros. Voltei a ver o pai da Daniela na sua mota de sempre, passei por feiras alucinantes de outros tempos, agora mais calmas e pobres, revisitei o portão azul onde, de bibe, larguei o colo da minha mãe pela primeira vez e fiz o caminho de todos os finais de tarde, depois da escola, pela mão da minha avó. Recordei a casa da senhora das lãs, já sem o toldo laranja, a mercearia da Dona Luz com os jogos de lençóis e atoalhados na montra, como era costume, e a capela manchada de musgo, pátio de marchas populares onde dancei de arquinho e balão. As pedras do passeio cumprimentaram-me os pés e as árvores receberam-me de volta, como se nunca se tivessem esquecido e eu nunca me tivesse ido. Não foi com melancolia que preenchi o espaço que sempre foi meu. Embora muito tenha mudado no tempo, nos sítios e em mim, tudo pareceu fazer sentido, a cada passo uma carícia. Da minha terra. Do meu castelo. De tempos felizes. Da tua camisa pendurada no estendal.
No fundo é aqui que pertenço. Reconheço-me em cada canto e é muito bom descobri-lo, de sorriso parvo na boca. Porque estou em casa.
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