Era uma vez um menino cheio de sonhos e de desejos. Um menino que fervilhava de ideias, com uma chama forte no peito e um sorriso a enfrentar a vida. Pelo caminho encontrava desafios que lhe apimentavam o passo, ainda que se desviasse dos supostos destinos que tinha traçado. Descobriu montes e vales, terras, rios, grutas e céus… e descobriu-se a si, dando asas à rebeldia da essência, que lhe fazia cócegas nos pés incitando-o a mover-se por entre enredos de histórias de encantar. Conheceu rainhas e princesas que se enlaçaram no seu charme. Cada palavra saída da sua boca, ornamentada de ouro e pedras preciosas, deslumbrava o mais frio dos aldeões, o seu sorriso iluminava noites escuras e seus gestos, como dança, inebriavam os olhares. Dono de uma aura que emanava luz, açúcar, brilho e transparência, num misto de sedução e mistério sereno, espalhava a concórdia entre os que o rodeavam, harmonizando a densidade do espaço.
Nunca se entregou. Nunca perdeu a noção do tempo e do espaço, para embarcar na loucura da paixão. Nunca lhe faltou o ar, nem o coração parou de bater perante aquela presença. Não que se fechasse, apenas ninguém algum dia descobriu a chave que lhe libertaria a doçura do irracional, o prazer sádico da dependência total de um sorriso para sobreviver. Seria este o seu repto, o motivo que o fazia não parar de procurar, para dar o salto. Imaginava-se o herói romântico dos livros que devorava, vivendo com ele cada dor, cada ânsia, cada suspiro, cada conquista.
Pensou um dia resignar-se ao seu fado, pensou um dia ter encontrado um porto de abrigo, onde se manteve sossegado, a salvo de inquietações, num cantinho quente, onde tinha tudo para ser confortavelmente feliz.
Mas a essência continuava lá – a centelha que dá cor à vida – e, ainda que adormecida, era incessante. Era ele. Gritava-lhe do fundo. Pelo menino cujo sonho era a aventura de morrer de amor.
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