“A obra é uma coisa que fica. Se tirarmos os filhos da puta da literatura e da pintura ficamos com nada. Se se tirarem os bêbados fica-se com zero. Se deixarmos só os livros feitos por pessoas que se portavam bem, tratavam bem a mulher, eram bons amigos e pagavam as contas a horas, ficamos só com merda. O único autor que foi boa pessoa e ao mesmo tempo um génio é capaz de ser, sei la, o Beckett.”
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“A ideia de que a literatura tem um papel moral, positivo ou negativo, é errada. Nem enriquece, nem empobrece. Pode enriquecer ou pode empobrecer. Mas não é essa a razão para ler. Uma pessoa lê para ficar deslumbrada. Uma pessoa lê para ficar noutro estado. Para sair de si própria. Uma pessoa lê para estar noutro mundo. Para entrar noutro estado. E, no caso das coisas muito bem escritas, num enlevo. Há um enlevo de ser elevado.”
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“Eu tenho muitos amigos e conheço muitas pessoas e sei qual é a tradição de dar graxa na entrevista. Depois, as pessoas, juntam-se nas festas e lambem o cu umas às outras. Eu não vou a festas. Sempre fui um isolado.”
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“Todos os escritores utilizam anfetaminas. Podes dizer um nome de um escritor do séc. XX… Quase todos. Utilizam, porque ajuda muito a concentrar. Se há droga para estudar e para a escrita, e em que depois a pessoa não se envergonha, a única droga que ajuda são as anfetaminas. […] Com LSD não se consegue escrever. Com o haxixe também não. Sai tudo um disparate. Eu já experimentei e geralmente só sai lixo. A cocaína ao principio ajuda um bocadinho mas esse principio é tão curto – é para aí de uma semana ou duas – que depois já não ajuda absolutamente nada. Com ópio nunca experimentei. “
Miguel Esteves Cardoso in Ler, Novembro 2008
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