sábado, 17 de outubro de 2009

Estado de deslumbramento

Podia aqui dissertar sobre os mais variados aspectos da Maternidade, desfazer-me em declarações lamechas e inúmeras descrições delicodoces desta aventura que é o puerpério, entre os pormenores da amamentação e a libertação sanguinolenta dos chamados lóquios. Os lugares comuns seriam certos, embora inteiramente válidos, diga-se. Importa que se assinale, sim, a imensa aventura que é ser mãe ou pai. Que se exaltem pequenos detalhes como meros sorrisos instintivos que derretem, encostar o ouvido e certificarmo-nos que respira, horas de contemplação de um rosto, o constante lamber da cria e a contínua surpresa: como é possível que algo assim tenha saído de mim, em tamanha perfeição, sem o mínimo esforço. Ainda hoje não acredito muito bem. Só sei do prazer de olhar nuns olhos inocentes e dependentes em sôfrega sucção, da análise de cada padrão de comportamento e de um coração inquieto na mínima ausência para ir à cozinha. Serão absolutamente vãs quaisquer tentativas de descrever o que é tudo isto, por mais banal e questionável que possa parecer. No meu fundo está a certeza de que nenhuma mulher será plena sem saber, algum dia, o que é este estado. O que é ter um ser a crescer dentro de si, fazê-lo nascer e sentir todas estas aparentes trivialidades. “Quem faz um filho, fá-lo por gosto”, pari-lo e criá-lo também. Não há outra forma.

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