Num dos zappings diários que pratico com afinco despertou-me a atenção um programa inteiramente sobre sexo, com a senhora dona Oprah. Geralmente, este tipo de assuntos são aflorados pela apresentadora - bem como pelos americanos, em geral - com grande conservadorismo. No entanto, este, em particular, não foi bem assim. Tanto que, como pude constatar em dias seguintes, vários outros programas sobre a mesma temática se seguiram, orientados por uma senhora de nome Laura Breman. Esta sim, sem papas na língua a dar uma lição sem tangas àquela mancha de menstruadas. Sim, porque para serem mulheres falta-lhes o fundamental: conhecerem-se enquanto tal.
Falava-se de como obter prazer, na importância de conhecermos o corpo, de não ter problemas em dizer "vagina", "vulva" e "masturbação". Afinal qual é o problema? Até aqui tudo bem... a audiência ria-se e pasmava-se com tal à vontade, mas sempre assimilava qualquer coisa que, eventualmente, poderá pôr em prática. O problema começa quando a senhora Breman refere a importância de se falar de sexo com os nossos filhos, nomeadamente sobre masturbação. Ora, aqui, fica tudo perplexo - perplexa fiquei eu por ver que a Oprah não ficou perplexa.
Para meu espanto as mães sugeriam que se encontrasse, pelo menos, uma palavra alternativa para masturbação! Muitas delas manifestaram total desagrado, profundamente ofendidas com aquele tipo de abordagem, abusiva e fora de questão. Para elas, é óbvio que será incutir ainda mais a sexualidade nas crianças, levando-as a comportamentos obscenos e de risco cada vez mais cedo.
Eu pergunto o que se passará na cabeça destas mulheres, em pleno século XXI. Ao que parece existem mesmo assuntos fortemente repressivos pela sociedade em geral e, até mesmo, no seio das nossas famílias. Mulheres a quem foram incutidas ideias de pecado no que ao sexo diz respeito, com certeza não irão ter a abertura mental necessária para fazer o oposto com as filhas. Aceito. Mas esse esforço, a intenção de mudança passa exactamente por elas!
Para mim é óbvio que se passe precisamente o contrário: quanto maior a informação, maior a preparação, maior o conhecimento sobre nós próprios, o nosso corpo, auto-estima e respeito. Faz-me lembrar a história do aborto, quando algumas mentes brilhantes garantiam que a legalização levaria a abortos a toda a hora. A minha mãe nunca me falou sobre masturbação. Mas deveria tê-lo feito e de uma forma, perfeitamente natural. Tudo o que é tabu ou se fala com rodeios e vergonhas não dá bom resultado. Eu descobri-o por mim própria bastante tarde, constantemente a pensar que seria errado, absurdo ou bizarro, exactamente por falta de informação. Descobri o que era um orgasmo muito antes de saber o que era auto-estimulação, quase por engano, e com alguns riscos contracepcionais pelo meio. Felizmente, outros princípios educacionais que recebi alicerçaram bem o respeito por mim própria e a ideia de que o prazer é algo bom e natural. Indirectamente canalizei tudo isto para o que seria a masturbação e lá me convenci que deveria ser da mesma via.
Falar com os filhos sobre sexo assim de forma tão directa pode ser complicado, mas, para mim, faz todo o sentido. Desde explicar exactamente e com os termos certos o que é fazer sexo e a reprodução, à masturbação, prevenção da concepção e DST's. Mais ainda, entender que mesmo sendo crianças e jovens, sentem desejo tal como os adultos. É apenas a vivência da sexualidade que vai mudando, com conotações que vão variando consoante a maturidade etária e sexual. As primeiras experiências não têm idade fixa, por mais que os pais o queiram. Dizer "não o podes fazer", não resulta.
A mudança de mentalidades passa pela conversa, pela informação, pela coragem de ouvir e falar. Por um futuro com adultos mais conscientes e confiantes, porque viver a sexualidade em plenitude também é ser feliz.
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