segunda-feira, 31 de março de 2008

Meninas



Gustav Klimt




Se faz favor, alguém faz o obséquio de me dessintonizar da frequência 69.2 para eu deixar de pensar em nomes de raparigas [nomes, quer dizer... é sempre o mesmo] para pôr a uma filha? É que já começa a ser demais... há três dias que ando nisto. Não pode ser! É que para além de não estar à espera de nenhuma, lembrei-me que gosto de Camila e agora não penso noutra coisa. Oh por amor da santa! Alguém que faça alguma coisa por mim... Obrigada!

domingo, 30 de março de 2008

Programa de mulheres

Bad girls, Nick Orsborn

Estava combinado. Este fim-de-semana seria dedicado às futilidades, frivolidades e superficialidades do mulherio. Não faltou nada: desde o pastel de Belém às confidências sexuais, dos kms a ver lojas, fazer compras e afins ao crepe com gelado e chocolate quente a picar na garganta de tão doce, dos planos de viagens à sala remodelada em meia hora, do corte e costura nas mulherzinhas que se pavoneiam com a família feliz nas tardes dominicais ao bilhete na mão para ir à bola – vista sobre o rio, caralhadas de meia-noite, risos, pica e direito a grande plano na TV – só para destoar.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Curtas [2]

Um sorriso pelo abraço que te dei.
Até já.
Até sempre.
Para sempre.

A papel químico


Esse cara, Maria Bethânia

quinta-feira, 27 de março de 2008

Fragmentos dos dias #2

.............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................amo.te.............................................................................................................................................................................................................................................................

segunda-feira, 24 de março de 2008

Estou bem onde não estou

Conheces a sensação? De procurar o conforto aqui e ali uma e outra vez e não seres capaz de encontrá-lo? E sentires que atingiste o teu limite e que ou páras ou um dia destes vais descobrir-te no meio de uma teia enleada de onde não vês saída possível?

Tudo me parece caótico. O mais pequeno gesto implica um esforço imenso. Por isso, só me apetece dormir. Mas até isso é difícil. Deito-me mas o corpo não me deixa dormir com espasmos uns atrás dos outros. E a cabeça a mil. Ontem foi o mesmo fado. Lá me fui rendendo aos estragos que o álcool havia feito na noite anterior e adormeci. Profundamente. Sem querer acordar. O quentinho do corpo ao lado, sossegava-me. Mas de manhã, ao som da corneta que gritava incessante alvorada, obriguei o corpo ao habitual ritual tormentoso.

E agora estou aqui, volvidas que foram algumas horas. Continuo sozinha. Sem grandes perspectivas. A querer fugir para me encontrar [a praia parece-me um bom porto para atracar este barquito que anda por aqui à deriva]. Ao mesmo tempo, quero ficar. Enfrentar os desafios e crescer. Mas faltam-me as forças. Respiro fundo uma ou duas vezes e durante escassos segundos a coisa vai. Volta a parar mais à frente. Descaem-me os ombros. Continuo na mesma.

Um tal Vinho

Ele há um néctar dos deuses, cujos poderes ocultos o vil mortal gostaria de dominar. Sorvê-lo é bendizê-lo, honrá-lo, permitindo que a sua magia penetre cada partícula do corpo, até ao ponto máximo de entrega, em que o mesmo se abandona numa dança ritual. O feitiço toma forma e, possuídos, saem-nos vozes, risos, pensamentos, lágrimas e gestos alienígenas, sob um acto de libertação mística que resgata os segredos velados. Não o neguemos. A beleza do culto está em saboreá-lo, deixar que nos use e brinque, porque, no fundo, nos revela.

Com um sorriso e um beijo de uma sua súbdita...

Oiça lá ó senhor vinho, Mariza

domingo, 23 de março de 2008

Dia de passeio

10 da manhã e não quero dormir mais. Inédito. Salto da cama e enche-me o quarto um sol apetecível, rejuvenescedor, a pedir que o absorva. E assim fiz.

Em 3 tempos rumei à santa terrinha. Depois da sopinha da avó, aí vou eu palmilhar este chão que parece já não me conhecer, até ao jardim. O das rosas. A amiga maior que o pensamento aceitou o repto e por lá fomos com o sol na cara e o vento no cabelo. O rio, o verde, os patos, as crianças, a conversa, o café, o cheiro e aquele ar que é mais leve e revigora. Só aqui. Como se a minha matéria reconhecesse o seu habitat natural.

Passeei-me por calçadas nunca antes pisadas, numa espécie de reconhecimento do terreno e um "olá, voltei". Encontrei lugares que sempre conheci de cor e que em nada mudaram, confirmei a inexistência/descaracterização de outros. Voltei a ver o pai da Daniela na sua mota de sempre, passei por feiras alucinantes de outros tempos, agora mais calmas e pobres, revisitei o portão azul onde, de bibe, larguei o colo da minha mãe pela primeira vez e fiz o caminho de todos os finais de tarde, depois da escola, pela mão da minha avó. Recordei a casa da senhora das lãs, já sem o toldo laranja, a mercearia da Dona Luz com os jogos de lençóis e atoalhados na montra, como era costume, e a capela manchada de musgo, pátio de marchas populares onde dancei de arquinho e balão. As pedras do passeio cumprimentaram-me os pés e as árvores receberam-me de volta, como se nunca se tivessem esquecido e eu nunca me tivesse ido. Não foi com melancolia que preenchi o espaço que sempre foi meu. Embora muito tenha mudado no tempo, nos sítios e em mim, tudo pareceu fazer sentido, a cada passo uma carícia. Da minha terra. Do meu castelo. De tempos felizes. Da tua camisa pendurada no estendal.

No fundo é aqui que pertenço. Reconheço-me em cada canto e é muito bom descobri-lo, de sorriso parvo na boca. Porque estou em casa.

Curtas



Ontem julguei ter visto a luz
Nas horas brancas conduzi o despertar
E fui subindo a escada
Que me separa do meu fim.

Abandonei quem já passou
Fechei os olhos e previ o que encontrei
E foi nesta viagem
Que eu percebi que não estou só...

[O Fim, Jorge Palma]

Porque é bonita demais.
Porque me revolve as entranhas e me deixa inquieta.
Porque mesmo triste, sorri.
Porque não quero estar sozinha...

O que é que aconteceu ontem à noite?

A estranheza com que acordei hoje, trouxe-me à memória a estranheza da noite de ontem. Uma noite descontínua na minha cabeça. Como fui daqui para ali, como cheguei lá, como desatei numa conversa descontroladamente regada, são questões que me coloco continuadamente sem encontrar respostas. Como é que as minhas inseguranças são capazes de tornar uma noite agradável e divertida numa cena exageradamente dramática?

Bem me parecia que andava há tempo demais a aceitar o dia-a-dia sem mexer naquilo que sabia que ia deixar-me triste: saberes que te sinto longe mesmo quando estás aqui ao lado. [Quase] sem querer, deixei escapar que te sinto a falta e pelos vistos escarafunchei tanto que fiquei exausta. Deixei-te exausto também. Nem o corpo parecia meu.

Hoje não me faz grande sentido a batalha de ontem, embora saibamos ambos que estou certa: que, de certo modo, voltámos atrás no tempo desta construção, voltaste a deixar cair os braços, voltei a ser o maior peso da nossa balança...
Acredito no que dizes sentir, mas tenho-me sentido sozinha. Talvez tivesse bastado dizer-te isto.

Experiências...



(Fonte: Quando estou em movimento pareço um esboço desastrado)


A palavra-chave é abandonar. Abandonar cada parte do corpo e abandoná-lo. E depois descobrir cada parte do corpo e senti-la da maneira que me apetecer. Imagino mil e uma maneiras de exprimir o que me vai na alma enquanto avanço na linha da vida ao som da canção que escolhi. Mas quando é dada a partida-largada-fugida a perna fica presa e perco o impulso. Porquê? Vai corpo, avança! Concentra-te na tarefa, dá o teu melhor! Mas... continuo colada ao chão, nada acontece. O burburinho da sala passa a ser ensurdecedor e contribui para que ali permaneça, de olhos fechados como que à espera de alguém que me acompanhasse naquele tormento. Mas ninguém vem.

Um peso enorme sobre o corpo não me deixa avançar, apesar das minhas várias tentativas: o corpo quer avançar, a cabeça não deixa. O raio desta cabeça que me não deixa desfrutar da emoção de estar ali entre amigos em experiências teatrais! Tu não estavas cá!, diz-me ela. Pois não. A pressão de ter que dar asas e envolver-me naquele processo criativo à vista de todos transportou-me para fora do mundo e usei a minha concha para me proteger.

Talvez não seja daqui, não saiba acompanhar estas andanças. Estar ali à mercê de olhares, aprender a expôr-me sem vergonhas, sem temer olhos apreciadores atentos é um desafio que me proponho apenas mais uma vez ou duas.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Declarações breves...

É bom voltar a casa e saber que aqui estás para me abraçar e para dizer que vai passar. De vez em quando ralhas e também é bom, porque sei que tens razão e tu sabes que mesmo que me avises mil vezes e me dês os melhores conselhos, nem sempre te oiço. Assim cumpro o meu ofício de filha e tu o teu ofício de mãe. Obrigada por existires e fazeres da minha vida uma existência mais feliz.

Primavera


Primavera, Botticelli

Vai Clóris pelo prado às flores inata,
Branca na brisa, veemente nas verduras,
Mostrando as cores que, no ovo de prata,
Da primeira manhã se uniram puras.

A luz a leva. De Abril festas flamíneas
Espalha seu curso de floridas pernas;
De andorinhas, cerejas e glicínias
Vai remoçando satisfações eternas.

Tempo de amor que ao chão arranca a rosa
E aves nos ramos musical desperta,
Ovário onde a semente jubilosa
Do incorruptível infunde a Primavera.


Natália Correia

Baixas temperaturas

Esta noite foi especialmente fria. O teu cheiro impregnou-se nos meus lençóis e gelou-me o corpo a tua ausência.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Sigilo profissional

Os meandros do espaço empresarial a partir das 7 da tarde é de um misticismo que me comove.

A menina do papá

Dou por mim a perceber que cresci. Sim, só agora e em processo muito lento. Logo eu que queria para sempre aconchegar-me debaixo do braço do paizinho e ao olhar para dentro só vejo a mesma miúda. Ao que parece esse tempo passou de vez e confirmo-o no reflexo dos olhos dos outros, quando não esperam outra coisa que a postura de uma mulher. Porque já nem sequer se questiona o ser ou não ser. Então porque será que continuo a precisar desesperadamente de colo, que me aconcheguem os cobertores, de fazer birra por um chocolate e brincar no jardim? Isto de ser crescida e emancipada tem a sua piada, mas é só fachada.

terça-feira, 18 de março de 2008

Essências. Outra vez...

A animalidade do homem e da mulher assusta. Mas mais do que isso, porque uma certa animalidade só nos faz [e sabe!] bem, assustam a crueldade e a frieza com que se tratam os amores quando estes deixam de o ser. Esta bipolaridade do sentir afecta mais uns que outros, é um facto. Por isso é que há aqueles que fazem da vida uma história de encantar e os outros que passado algum tempo [variável] começam a sentir um desejo descontrolado por alguém que não o par daquela dança.

Rapidamente [ou não] se desfazem das vestimentas que os ligam àqueloutro dançarino e logo se atiram a outras musicalidades, muitas vezes desconhecendo o que as compõe, mas sempre com a curiosidade feita bicho a percorrer-lhes o corpo e a aquecer-lhes as entranhas [que é para não se especificar mais o que se aquece]. O que se pode chamar a isto senão uma troca cruel e fria?

Bom, há dias em que não se consegue chamar-lhe outra coisa. Mas, pessoal, Deus é grande, e traz-nos tempos de [relativa] tranquilidade enquanto nos explica que descobrir a essência é mesmo assim: é sentirmo-nos as piores pessoas do mundo, é de vez em quando trazermos o olhar perdido e triste, é não podermos sequer pensar como são agora os dias do dançarino que deixámos lá atrás a meio da dança... É aprendermos a viver bem com o que só encontramos mesmo no fundo de nós. E quanto mais escarafuncharmos mais vamos descobrindo o que nos faz felizes [por quanto tempo não importa] e começamos a sorrir, a sentir os olhos a brilhar, a querer mais e mais o novo par. Para uma nova dança!

Outras estórias


Tatuagem/Esse cara, Chico Buarque e Caetano Veloso

segunda-feira, 17 de março de 2008

Cabras

É um facto: todas nós temos uma grandessíssima cabra cá dentro. Não há pachorra para santas a meio gás que levantam os bracinhos aos céus por uma queca bem dada com 3 açoites pelo meio. Aliás, aqui afirmo que sempre nutri uma certa admiração pelas putas. Fazem-me ter mais orgulho no género do que certas Madres Teresas. Qualquer uma de nós arrancaria à dentada a cabeça da ordinária de silicone até aos olhos, que lascivamente ostenta decotes que nos põem a um canto. Nem a mais púdica das donzelas congelaria um põe-te-na-alheta-minha-puta-que-este-já-tem-dona. E daí? Se o lado mais animal do feminino passa por encarnar o dito nível baixo para lutar por um lugar na selva ou marcando território pelo nosso macho, venha quem quiser criticar! Arranquem-se cabelos, cuspa-se na cara, insulte-se ao extremo, ponha-se a mão na anca e se assuma de vez o prazer ousado das mãos presas num beijo à força. Sejamos felizes.

Entregar ou não entregar. Eis a questão.

Confiar. Pergunto-me o que significa confiar. Existirá a entrega cega e incondicional? Se sim, até quando? Começo a construir princípios apressados que, toscamente, me colem as peças. Sendo assim, entendo que tal entrega, a existir, será eterna. Ainda que seja eterna enquanto dura... Desisto. Não dá para fugir a pressupostos óbvios que, no fundo, nos são inatos.

Malditas Brancas de Neve e Cinderelas que me forraram a infância de sonhos cor-de-rosa, perfumadas com "felizes para sempre". Resta-nos reajustar o código moral recalcado, dar a volta à fórmula e adequá-la à realidade. O essencial será sempre invisível aos nossos olhos, talvez por ser tão simples, primitivo. O instinto, a intuição ou o que lhe queiramos chamar, indicar-nos-á sempre a direcção. É só uma questão de atenção e de ouvir o murmúrio. Para o bem e para o mal...

Quanto à dita entrega... só comporta o seu significado na plenitude sob uma única premissa: ser total. Não me parece que consiga entender outra forma de viver. É arriscado, mas disso tenho a certeza.


"Não há passos divergentes para quem se quer encontrar."
Jorge Palma

Não somos assim tão esquisitas...

Vá, admito que, às vezes, as mulheres até são um bicho esquisito. Têm dias... ele são dedos adivinhos, pulgas atrás da orelha, passarinhos contadores de histórias, macaquinhos no sotão, enfim... [quem tiver algum sexto sentido a acrescentar, faça o favor] Sextos sentidos que as deixam alerta o maior das vezes com razão, outras vezes sem fundamento. Hoje acho que é um estado de alerta com sentido. Não porque duvide das boas intenções de um tal falcato, mas porque ao ter-me habituado, nos últimos tempos, a programas a dois, me deixou algo desconcertada quando há uns dias não actualizou o nosso jornal diário durante uns bons pares de horas. Uma questão de respeito, parece-me...

sábado, 15 de março de 2008

Excertos...

Há uns dias atrás:
- Não tenhas medo de me abraçar, está bem?
- Está bem, não tenho!
[sorrisos]

Se fosse hoje:
- Não tenhas medo de me abraçar, está bem?
- Não? Tens a certeza?
[expressão expectante, a barriga às voltas, um nervoso miudinho de que não gosto]

sexta-feira, 14 de março de 2008

Sexta-feira à noite















Promessas quebradas, Paula Rego

Sexta-feira à noite
Os homens acariciam o clitóris das esposas
Com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
Contam dinheiro, papéis, documentos
E folheiam nas revistas
A vida dos seus ídolos.

Sexta-feira à noite
Os homens penetram suas esposas
Com tédio e pénis.
O mesmo tédio com que todos os dias
Enfiam o carro na garagem
O dedo no nariz
E metem a mão no bolso
Para coçar o saco.

Sexta-feira à noite
Os homens ressonam de borco
Enquanto as mulheres no escuro
Encaram seu destino
E sonham com o príncipe encantado.


Marina Colasanti

quinta-feira, 13 de março de 2008

Pelo aroma a sal

Há dias de fotossíntese e mar que fazem bem à alma. Principalmente aqueles que nos surgem com um prazer, mais ou menos espontâneo, como doce depois da tempestade. E a propósito…


Maré viva (...), Camané

"Primeiro a minha mão sobre o teu seio.
Depois o pé - o teu - sobre o meu pé.
Logo o roçar urgente do joelho
e o ventre mais à frente na maré.
É a onda do dorso que se instala.
É a linha do dorso que se inscreve.
A mão agora impõe, já não embala
mas o beijo é carícia de tão leve.
O corpo roda: quer mais pele, mais quente.
A boca exige: quer mais sal, mais morno.
Já não há gesto que se não invente,
Audácia que não ache um abandono.
Então já a maré subiu de vez.
É todo o mar que inunda a nossa cama.
Afogados de amor e de nudez
somos a maré alta de quem ama.
Por fim o sono calmo que não é
senão ternura, intimidade, enleio:
o teu pé descansando no meu pé,
a minha mão dormindo no teu seio."

O vermelho da Natália mexe comigo...

Dúvidas? Todas temos, eu acho. Eles também, mas eles é mais difícil admitirem o que quer que seja. O mais simples gesto custa-lhes horrores. Mas quando o oferecem, sabe-se que o sentem. Lábios vermelhos? Adoro mulheres com lábios pintados de vermelho, sobretudo essas mulheres vividas, mulheres sofridas! Gosto de ti, minha Natália de Bual. Chocas-me de cada vez que te olho, porque me mostras que a realidade não se faz de mulheres de cores pastel, de sossego e de bonança, mas de vida, de sofrimento. De um dia-a-dia turbulento, entre vinhos e cigarrilhas, entre dúvidas, sem certezas. Porque me dás a sensação de que a felicidade serena não tem que ser o ideal de vida de todas nós, mas que o melhor é que aceitemos que queremos viver o dia-a-dia da maneira que nos dá mais prazer.

E tem-me dado prazer estar contigo! Conhecer-te, saber o que pensas e do que gostas, saber do teu corpo colado ao meu em suores frios e quentes, de emoção, de partilha, de te querer a cada dia mais. É para ti, sim! Com certeza! Quero-te! Dúvidas? Agora não tenho. Quem sabe amanhã...

Everytime I let you in
Abra Cadabra Magic happens as we swim
Higher and higher finally we reach heaven
Come back to earth then we do it all again
(Brown Skin, India Arie)

terça-feira, 11 de março de 2008

Sobre Ella


Georgia on my mind, Ella Fitzgerald

Ella, pudesse eu dizer-te o bem que me fazes quando te oiço. Soubesse eu explicar o que me provocas, que vai por dentro do meu fundo à superfície da minha pele, de cada pêlo que se levanta, por cada nota que te sai da garganta. Dóis-me e é um doer que sabe bem, que liberta, que quando partilhado parece mais leve, como um Babel que custa, por ser arrancado a sangue frio. E como toda a dor toca o prazer, soltas-me nas melodias que crias, como se me embalasses num conto para dormir, ao mesmo tempo que me excitas os sentidos, numa viagem alucinogénia. Há uma ligeireza contagiante que relaxa e aquece, como a força e a imensa alegria que dás por puro altruismo.

Pudesse eu, e dir-te-ia que cada grave é uma golfada de oxigénio e que sem ti não viveria.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Conversas com o viajante...

Sábado de manhã. Só eu e o Nove e meia no Maria Matos a tocar sob a luz clara do sol que entra pelas janelas. Visto as calças largas, a camisa de menina de colégio, a camisola e o casaco, ponho os ténis. Sinto o corpo leve. Há algum tempo que não me lembro de sentir esta leveza. Tenho pressa, quero ir sentir o sol a bater-me na cara enquanto leio o jornal entre dois tragos de café. Toca o telefone: é o viajante. Demoro-me mais do que esperava, mais do que foi habitual durante os últimos anos. Sento-me à beira da cama. Começo por responder com monossílabos às perguntas. Vou-me deixando ir e passam 15 minutos: um record para conversas com o viajante. Das últimas vezes que temos conversado tem-me perguntado como estou, voltou a fazer a mesma pergunta. Não entro em pormenores, conto-lhe rapidamente e mais rapidamente ainda mudo de assunto. Dou por mim a pensar no que hei-de dizer mais para a conversa não acabar. Ah, música, claro: - O que queres que te mande desta vez?, - Oh, o que quiseres, escolhe tu. Rimo-nos um bocado, ultimamente consigo rir-me com as piadas dele. Mas... Já chega de conversa viajante! [Então, não perguntas mais nada? Não tens mais novidades?] Vá, vá, para a semana conversamos [Só vais voltar a telefonar daqui a uma semana? Não achas que é tempo demais?]. Beijinhos e abraços. Manda beijos aí em casa. Diz-lhe que lhe ligo amanhã. Desligo o telefone. Avanço ligeira para a porta como se realmente estivesse cheia de pressa. Páro-me ainda antes de sair, surpreendo-me: será que fiz mesmo as pazes com ele? Parece que sim. Sorrio. Torno o passo mais firme. Sinto-me ainda mais leve.

[Banda sonora: O Primeiro Dia, Sérgio Godinho, versão do último álbum]

Lovin' your skin



[Nota 1: Há que tempos que não pensava na India. Ontem passei o dia a pensar nela. Vinha eu toda lampeira para pôr a tocar aquela brown skin maravilhosa, logo tinha alguém que se antecipar em dar a ouvir esta voz quente. Ele há coisas que não se explicam. Vivem-se, não é Lira?]

[Nota 2: Chama-se a atenção para a mais que certa subida da temperatura corporal enquanto se saboreia a voz desta grande senhora. E depois dela também, se se estiver bem acompanhado, é garantido!]

Por falar em viagens...

Que importa se chove se aqui dentro e aí dentro o sol pode brilhar mais um bocadinho a cada dia?

Está encetada a viagem que custou começar, que não se sabe se irá acabar, mas que enquanto durar queremos que seja o mais doce, carinhosa, verdadeira, sensual, quente, colorida e divertida possível. Se não me engano, estamos no bom caminho!

domingo, 9 de março de 2008

Boa semana


Video, India Arie

Sometimes I shave my legs and sometimes I don't
Sometimes I comb my hair and sometimes I won't
Depend on how the wind blows I might even paint my toes
It really just depends on whatever feels good in my soul

I'm not the average girl from your video
And I ain't built like a supermodel
But I learned to love myself unconditionally
Because I am a queen

Era uma vez um menino

Era uma vez um menino cheio de sonhos e de desejos. Um menino que fervilhava de ideias, com uma chama forte no peito e um sorriso a enfrentar a vida. Pelo caminho encontrava desafios que lhe apimentavam o passo, ainda que se desviasse dos supostos destinos que tinha traçado. Descobriu montes e vales, terras, rios, grutas e céus… e descobriu-se a si, dando asas à rebeldia da essência, que lhe fazia cócegas nos pés incitando-o a mover-se por entre enredos de histórias de encantar. Conheceu rainhas e princesas que se enlaçaram no seu charme. Cada palavra saída da sua boca, ornamentada de ouro e pedras preciosas, deslumbrava o mais frio dos aldeões, o seu sorriso iluminava noites escuras e seus gestos, como dança, inebriavam os olhares. Dono de uma aura que emanava luz, açúcar, brilho e transparência, num misto de sedução e mistério sereno, espalhava a concórdia entre os que o rodeavam, harmonizando a densidade do espaço.

Nunca se entregou. Nunca perdeu a noção do tempo e do espaço, para embarcar na loucura da paixão. Nunca lhe faltou o ar, nem o coração parou de bater perante aquela presença. Não que se fechasse, apenas ninguém algum dia descobriu a chave que lhe libertaria a doçura do irracional, o prazer sádico da dependência total de um sorriso para sobreviver. Seria este o seu repto, o motivo que o fazia não parar de procurar, para dar o salto. Imaginava-se o herói romântico dos livros que devorava, vivendo com ele cada dor, cada ânsia, cada suspiro, cada conquista.

Pensou um dia resignar-se ao seu fado, pensou um dia ter encontrado um porto de abrigo, onde se manteve sossegado, a salvo de inquietações, num cantinho quente, onde tinha tudo para ser confortavelmente feliz.

Mas a essência continuava lá – a centelha que dá cor à vida – e, ainda que adormecida, era incessante. Era ele. Gritava-lhe do fundo. Pelo menino cujo sonho era a aventura de morrer de amor.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Vinhos, liras e tu...

E quando nada fazia prever, uma das pessoas que menos esperava [embora fôssemos só três] recorda quase mais pormenores do que eu de uma manhã fatídica, há uns bons anos atrás, num dia de Agosto que podia ter sido um belo trinta e um e não foi. Por sorte ou porque Deus assim quis ou porque assim não o tinha traçado o destino. O que me apetece dizer [e este apetece não é cheio de impulsividade mas de vontade que assim acontecesse numa quarta ou quinta-feira qualquer] é que hoje acho que não pensaria duas vezes em passar de um a dois e nós de dois a três. Obrigada pelo carinho. E a ti também, minha lira.

Momento "Já agora valia a pena pensar nisto" #2

Que bonito que é besuntar um belo de um lombo com quinhentas mil mistelas nhanhentas. O vermelho do colorau que tinge as mãos e fica entranhado nas unhas é de um sentido estético sem fim.

Abomino tarefas domésticas de qualquer espécie.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Uma questão de perspectiva...

"Era domingo. (...)
Aos domingos, os pássaros são mais livres. Exibem-se em voltas no ar porque sabem que as pessoas reparam mais neles. Aos domingos, o barulho das ruas é diferente: as vozes, despreocupadas, assentam sobre o espaço vazio deixado pelas vozes ásperas dos dias de semana. Aquele era um domingo assim, era um domingo domingo, mas eu despertava de um mundo onde não havia domingos e, para mim, aquele dia era-me estranho, da mesma maneira que me teria sido estranho qualquer outro dia." [Cemitério de Pianos, José Luís Peixoto]

Hoje é domingo. Da minha janela.
Trago a cadeira de baloiço e páro-me aqui a ver o mundo correr. Do meu mundo de passos lentos questiono a velocidade estonteante com que tudo acontece: ainda ontem nasci e hoje já aqui estou prestes a ver outros nascerem. Mas isso só lá para quarta ou quinta-feira. Hoje para mim é domingo. Sabe-me bem saborear a vida assim.

Divagações da madrugada

26? 16? Números! Apenas números! Há tanto que o sabemos. Era apenas uma questão de tempo até perceber que mais 6, 16 ou 26 vai dar no mesmo. Depende apenas dos graus de maturação, tal como os vinhos. Não há nada que não amadureça, que não desenvolva um encanto especial. Quem encanta e quem se deixa encantar. Encantos que vamos descobrindo e que deixamos destapar. Vamo-nos deixando demorar nessas descobertas, e é bom! Cada sorriso, cada palavra, cada gesto [que parecem às vezes tirados de um mesmo manual], compensam o risco de nos apaixonarmos… E às vezes isso até acontece. Mas o que é certo é que o risco vale a pena. E arriscamos meio no ar, como se tudo fizesse parte de uma fantasia mirabolante que não encaixa na realidade. Como se as diferenças numéricas ditassem sentimentos ou probabilidades. A verdade é que a frescura dos números baixos desperta a Primavera que há em nós, assim como a solidez dos números largos traz o aconchego que se retira ao deitar a cabeça no ombro. E aproveitamos para conciliar frenesim e acalmia, balanço e descanso, impulso e ponderação. Mas por mais que ponderemos ganham o frenesim, o balanço e o impulso e por isso vamos deixando a coisa andar. E é ver o corpo num formigueiro só… como se fosse a primeira vez. Porque há toques que conhecem peles apenas pelo cheiro, olhares que vão ao fundo e decifram a tal essência, que é o mais fiel de nós, sem sequer nos sair uma palavra da boca. Quase por magia, e a medo, embarcamos num desconhecido que parece conhecer-nos de cor, que nos soube olhar para além da película e, por isso, nos faz entregar às cegas, aos poucos, tacteando. Só pelo prazer de ir e no final descobrir que números são simples divagações sequenciais de vida. Mesmo quando 1+1 são 3. Quando/se tudo terminar, porque tudo neste mundo acaba, fica a certeza de que foi bom. Deixamos um obrigada e seguimos viagem com uma experiência deliciosa na bagagem.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Risos e gargalhadas [o sorriso fica para mais tarde]

As pessoas que se riem timidamente só uma ou duas vezes por dia fazem-me comichão e aborrecem-me de morte. Aquelas que nunca se riem de piadas [principalmente das secas] causam-me sensações de desmaio. Das outras que andam sempre de cara fechada sinto pena. Às que acham que rir é coisa do demo mando-as à merda e peço o favor de saírem de fininho. As pessoas que não me fazem rir [vá de retro!] não deixo que se fiquem por muito tempo nas minhas redondezas. Quem não me arranca uma gargalhada não pode ser meu amigo, já me basta este negrume hereditário. Não gosto quando não faço os outros rir. E não me importo nada que lhes saia aquela gargalhada que diz "mas que bela piada, sim senhor, continua a tentar, vá!", mas claro que prefiro a outra "vês, a miúda anda a apurar o sentido de humor, quem a viu e quem a vê". E é isto! Por hoje é o que me apraz dizer. [Eu bem pressentia que se me estava a ir a veia de aspirante a escritora]

A contas com o bem que tu me fazes. A contas com o mal por que passei.

Hoje falta-me o chão. Há um burburinho, uma comichão, um tremor constante no meu fundo que me desequilibra. Sei definir pequenos “ais” e não sei resolver nenhum. Apetece-me fugir mas levar-te, agir sem me levantar, comer o que não devo, gritar sem fazer barulho, desistir e recomeçar. De repente pareceu-me estar no filme errado, em contínuas tentativas saltitantes de fechar ciclos, projectos e portas. Escasseia-me o ânimo e a motivação para avançar com o indefinido, sem me apavorar com o resultado, a falta de tempo, as opiniões e… enfim, o inesperado. Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer. Qualquer coisa que eu devia perceber. Porquê, não sei. Porquê, não sei. Porquê, não sei ainda.

domingo, 2 de março de 2008

Eu bem que lhe disse...



Doralice, João Gilberto & Stan Getz

[Apreciem bem os pormenores do vídeo...]

Isto são muitos anos a virar frangos...*

Gosto da expressão. Disse-a ontem e é bem verdade. Depois de um dia bem passado entre um número estúpido de copos de vinho tinto, chega a hora da provação. Começou cedo demais, a bem dizer, mas lá mais para o fim é que foi pior. Do estômago para a cabeça, da cabeça para o estômago e depois para a cabeça outra vez e depois são estômago e cabeça numa put* de uma sintonia que uma pessoa já só quer é que [e desculpem-me os leitores mais sensíveis] alguém lhe ponha os dedos à boca e a ajude a deitar cá para fora tudo o que a incomoda. Mas é precisamente nesta altura que, quem já vira frangos destes há muito ano, marca a diferença: quais dedos dos outros à goela?! Isto, quanto muito, é preciso um dos indicadores do próprio e vem vinho e tudo o mais que se conseguiu engolir nos entretantos da festança.

Recapitulando: se tiver tempo, deixe-se chegar a casa, prive os outros de espectáculos deste calibre; feche-se na casa de banho e se alguém perguntar alguma coisa diga que o caminho até casa é que foi traiçoeiro, porque cheio de curvas; terminado o servicinho lave os dentes, por favor, e passe a cara por água; saia da casa de banho e, vá, dê meia volta para voltar a entrar, sabe que normalmente não sai tudo logo às primeiras; volte a lavar os dentinhos e boa noite!

[*Possível pensamento de possíveis leitores - Isto, realmente, anda-se aqui uma semana sem ler nada de um tal vinho e depois quando, finalmente, se vê o seu selo é para falar de mezinhas bem nojentinhas que estamos fartos de conhecer]