sexta-feira, 30 de maio de 2008

É à confiança...

Às vezes dá-me para as desconfianças. Normalmente, vêm associadas a uns copos a mais, confesso. Há uns meses que não me dava a travadinha, mas esta semana voltei à carga. As razões? Desconheço-as. Acho que é um mal que me está permanentemente latente, mas que me esforço por não despertar. Nem sempre consigo. Roo as unhas e engendro 1001 cenários possíveis. Ou impossíveis, sei lá... Até consigo descobrir por entre os gestos que me parecem mais verdadeiros, possíveis fugas à verdade. Vai na volta e dou comigo a pegar em palavras soltas e a juntá-las, tipo puzzle, em momentos mais sombrios. Por vezes, mesmo no que não acontece, descubro um acontecimento. Junto-lhe uma pitada de fermento e é vê-lo a tomar desmesuradas proporções que salpico com um pouco das realidades que vou construindo com o imaginário. Et voilà! O resultado é um belo amontoado que mesmo podendo não fazer qualquer sentido me parece perfeitamente possível. Cansa-me viver com este medo quase constante de apanhar alguém em falso...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

No meu poema...

No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida
No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da senhora da agonia
E o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonhos inquietos de quem falha.
No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro.

[No teu poema, José Luís Tinoco]

sábado, 24 de maio de 2008

Mimos

Procuro-te em tudo para o que olho. Encontro-te aqui e ali. Fico, porém, com a sensação de que nem sempre estás em todos os sítios em que te procuro. Encontro-te já em mais um gesto ou outro e em vários momentos do meu dia. Embora em alguns deles continues a estar ausente. Cada vez menos, é certo. Sorris-me.

Sorrio-te. Podemos dar-nos bem. Temos, pelo menos, uma mesma fraqueza: tememos ambos envolver-nos "mais do que a conta". Mas [acho que] partilhamos a curiosidade de saber como será o dia de amanhã e a vontade de que seja solarengo e quente, brindado com uma leve brisa e uma chuva miudinha que nos dará a certeza de que estamos vivos. Apesar de antigos pesares...

Será assim? Mesmo que assim seja, a verdade é que prefiro ter-te por perto.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Pérolas


O filho do recluso, Júlio Miguel e Lêninha

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Curtas [6]

"Nós temos planos para viajar pela América do Sul uns tempos..." dizia ele a um amigo brasileiro. O nós eram duas pessoas e uma delas era eu. Apanhada de surpresa. Afinal, era a primeira vez que se proferia assim o nós, ainda para mais fazendo parte de um plano. Boas surpresas, estas que arrancam um sorriso rasgado a que se empresta uma boa gargalhada.

I don't give a damn, I'm on my way to Amsterdam


Born Slippy, Underworld

Relações al dente

Pois que os copos dão-me para falar. Pois que muito me agradou o repasto bem regado e converseta desvairada. Das relações que já foram, das relações desgastadas, das consolidadas e das que ainda tudo prometem: ele há de tudo! Há a certeza de que nada é eterno, de que o amor caduca, de que o desejo se transforma, de que os homens são animais complexos, de que a paixão cega, de que são duras as experiências da maternidade, de que as fantasias não se metem a um canto e de que, no fundo, somos todas umas grandes aluadas. Há o racional e a paixão lado a lado. Há a pizza e o tiramisú frente a frente. Fica a vontade de repetir o rendez-vous no feminino.

domingo, 18 de maio de 2008

Boas práticas religiosas (cont.)

Deus me dê força, coragem, espírito de sacrifício e abnegação pessoal* que há trabalho por fazer e redenções por cumprir. Amen.


*com selo Madrainhup

sábado, 17 de maio de 2008

Sempre de mim

De cada vez que o oiço sabe-me melhor. Camané ao vivo é como ouvi-lo em casa, distinguindo cada dedilhar de cordas, cada fôlego, cada sussurro, mas com a envolvência de uma sala como o Coliseu e um sentimento de gratidão que enchia toda aquela gente. Há nele uma sonoridade mais bonita que em qualquer outro fadista porque transborda uma simplicidade na voz, na forma de cantar e de ser, mesmo espelhando as mais complexas dores do fado. Sem artifícios ou distintas poses. Só ele mesmo e o que lhe vem do fundo. Conquistou o espaço, as almas e a reverência que sempre mereceu.

Mas hoje, um especial aplauso para este senhor: José Manuel Neto, na guitarra portuguesa.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Contemplar... fartura


Benefits Supervisor Sleeping, Lucian Freud

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Confessionário

Ajoelho e peço perdão. Confesso que me falta coragem, que finjo não me importar para não me chatear. Confesso que as palavras me saem atabalhoadas quando preciso de me justificar, não digo metade do que queria e sai-me a ira pelas bochechas afogueadas. Confesso que me resigno e sou uma patega porque isso desequilibra o meu espírito zen, que afinal acaba por virar o caos dentro do saco que começa a encher. Confesso que sou pouco meticulosa, que sei despachar melhor do que ser criteriosa nos processos. Confesso que não tenho paciência para o que custa e dou um jeito de desenrascar pelo atalho. Confesso que arrisco a resposta sem ter a certeza e que no meio da rapidez de execução vou deixando cair migalhas. Confesso que nunca vou deixar de dormir por uma tarefa inacabada e confesso que vou sempre esticar uma escapadela até ao limite e esquecer o picar do ponto. É bom que nosso senhor me perdoe as fraquezas que eu cá prefiro ajoelhar por propósitos bem mais deliciosos, enquanto vou…


…aperfeiçoando o imperfeito
dando um tempo, dando um jeito
desprezando a perfeição
que a perfeição é uma meta
defendida pelo goleiro que joga na selecção
e eu não sou Pelé nem nada
se muito for eu sou um Tostão!


Meio de Campo, Gilberto Gil

quarta-feira, 14 de maio de 2008

E novidades?

Viver sozinha. Experiência única do outro lado do mundo. Dou notícias. Quanto mais não seja por aqui. Concertos, jantares com amigos e as adoradas passeatas ao fim da tarde é possível que fiquem adiados, mas é por uma boa causa. Todos hão-de compreender. Compreender que muito do que foi adiado até agora, urge ser concretizado. Como o desejar loucamente ter um filho nos braços, dar-lhe as boas-vindas... a este mundo cão. Mas a mim também ninguém me perguntou: "olha, queres nascer? É que, entretanto, vais ser atirada aos lobos, sem rede...". E se me perguntassem, eu diria que sim. Vale muito mais, apesar dos tempos difíceis, do que não conhecer os meandros dos filmes vários que se protagonizam neste ciclo sem fim. Mas falava eu de uma vida do outro lado do mundo... Os que mais quero, estarão bem entregues. Até aquela em relação a quem mais temia o futuro, está a descobrir o seu caminho. E está feliz! O outro terço da minha laranja, há-de ter ainda alguns dissabores, mas é deles que a vida se compõe até chegarmos à plenitude de nós. Eu que o diga. Eu que ainda vou a caminho... Os outros de quem gosto hão-de encontrar o seu caminho também. Comigo ou sem mim. Vicissitudes do rácio ser maior do que um para um... Por agora deixo-me ficar por aqui com um peixinho assado e boas companhias. Até amanhã.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Quero mijar, agora quero mijar


Punk Moda Funk, Ornatos Violeta


Deitar o excesso fora...

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Vertigem

A vida não me corre dentro dos mínimos – modestos – que preciso para estar feliz.
É raro ter dias em que me apetecia esconder debaixo dos lençóis e por lá ficar uns tempos até a tempestade passar. Mesmo sabendo que vou acabar de rastos num canto qualquer, poupem-me a turbulência dos entretantos. Até podia virar a cara, seguir de sorriso em frente, ver no que dá, mas… já tenho lama até ao pescoço, demais para me conseguir movimentar. Sinto os membros tão presos que os arrasto com esforço, dia após dia, num simples adiar da minha própria, assumida insatisfação. Ainda mais quando, depois de muito poupar, me esgota o elixir da auto-motivação. Não jogo alto, não proclamo feitos, não roço pernas, não lambo chãos, não sou assim, não estou a fim. Deixem-me só estar. Sossegada.

Os tropeções podem ser saltos maiores, mas eu gosto de saltar quando me apetece, quando estou contente e preciso de soltar energia, não para fugir ou porque me empurram. Um qualquer motivo oculto será proveitoso, muitas outras razões para sorrir me rodeiam e eis que me surge o anjo da guarda de gargalhada, pronto para me resgatar do buraco. Sinais…? É possível. Em momento algum tomei a parte como o todo mas, mais do que nunca, temo os dias que se avizinham. Faltas-me.

Y es el hombre, al fin, como sangria que a veces da salud y a veces mata



Mi hija, quédate conmigo un rato
Por que andas arrastrando esa desdicha?
Espérame un momento y te desato
Pero, qué enredo te has puesto, muchachita!

Qué amargos son los hechos que adivinas!
Qué oscura es la ronda de tu recuerdo!
Y en cuanto a tu corona de espinas...
Te queda bien, pero la pagaras muy caro...

Con tu mirada de fiera ofendida,
Con tu vendaje donde herida no hay,
Con tus gemidos de madre sufrida,
Espantaras a tu ultima esperanza.

Haz de tu puño algo cariñoso
Y haz de tu adios un Hay mi amor!
Y de tu ceño una sonrisita
Y de tu fuga un Ya voy! Ya voy llegando!

Mi hija, qué pena me da de verte!
Dejando olvidado a tu cuerpo
Muy lista, pobre boba, a dedicarte
A la eterna disección de un pecadillo.

Mujer desnudate y estate quieta
A ti te busca la saeta
Y es el hombre, al fin, como sangria
Que a veces da salud, y a veces mata...
Y es el hombre, al fin, como sangria
Que a veces da salud, a veces mata

sexta-feira, 9 de maio de 2008

muito me inquietava aquilo que se ama...

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos
doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia
inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...

Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite
escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou. É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

Cântico Negro, José Régio

Boas descobertas!

terça-feira, 6 de maio de 2008

TEnSÃO ao som de Tricky

tricky ['triki] adj. {comp. -ier., superl. -iest} 1 difícil; 2 complicado; 3 manhoso; trapaceiro

Hum... tem dias! Daquela vez foi antes: quente, envolvente, carinhoso, bem disposto, sensual, (pro)fundo... Deus permita que assim continue por muitos e longos dias... e noites. Ámen!


Poems, Tricky

Antes do grito

Que se diz a alguém que sofre? Que frase ou gesto pode virar o ânimo e desenhar alento? Era bom poder trespassar conforto ou, pelo menos, arrancar à dentada o mal que corrói, partilhá-lo, carregar o fardo a meias para não custar tanto. Mas toda e qualquer acção cai estéril porque não existe fórmula. Por desaire e consciente impotência oferece-se o silêncio que dá espaço para pensar, para amaciar o dorido, um olhar tranquilo e um abraço só pelo calor, que a ferida tem que arder para curar. Penemo-la serenos.

Há cravos que depois de murchos, secos e negros se mantêm rígidos, pétalas unidas, bem agarradas ao caule. E enquanto em estilhaços de tempo se soltar o sorriso breve antes de um beijo lento, os espinhos hão-de cravar uma carne docemente anestesiada.

Foi a mão sem anéis antes da luva
Sorriso breve antes de um beijo lento
Foi a rosa entreaberta antes da chuva
Foi a brisa encontrada antes do vento

Foi a noite, a inocência na demora
Foi a manhã, verde janela aberta
Dois corpos lisos que se vão embora
Como a acordar a praia ainda deserta

Foi a paz, o silêncio antes do grito
Foi a nudez antes de ser brocado
E foi o cântico interdito
E todo o meu poema recusado

Antes do grito, Pedro Homem de Melo (Camané)

domingo, 4 de maio de 2008

Dias

Não gosto deste Dia. Dói-me quase como o Dia de Aniversário.

sábado, 3 de maio de 2008

Stairway to heaven


Stairway to Heaven, Led Zeppelin

Decerto, os grandes conhecedores da banda fariam sobressair outros êxitos. Eu escolho este. Uma marca da minha infância. Dada a conhecer pelo viajante.

sexta-feira, 2 de maio de 2008