Que se diz a alguém que sofre? Que frase ou gesto pode virar o ânimo e desenhar alento? Era bom poder trespassar conforto ou, pelo menos, arrancar à dentada o mal que corrói, partilhá-lo, carregar o fardo a meias para não custar tanto. Mas toda e qualquer acção cai estéril porque não existe fórmula. Por desaire e consciente impotência oferece-se o silêncio que dá espaço para pensar, para amaciar o dorido, um olhar tranquilo e um abraço só pelo calor, que a ferida tem que arder para curar. Penemo-la serenos.
Há cravos que depois de murchos, secos e negros se mantêm rígidos, pétalas unidas, bem agarradas ao caule. E enquanto em estilhaços de tempo se soltar o sorriso breve antes de um beijo lento, os espinhos hão-de cravar uma carne docemente anestesiada.
Há cravos que depois de murchos, secos e negros se mantêm rígidos, pétalas unidas, bem agarradas ao caule. E enquanto em estilhaços de tempo se soltar o sorriso breve antes de um beijo lento, os espinhos hão-de cravar uma carne docemente anestesiada.
Foi a mão sem anéis antes da luva
Sorriso breve antes de um beijo lento
Foi a rosa entreaberta antes da chuva
Foi a brisa encontrada antes do vento
Foi a noite, a inocência na demora
Foi a manhã, verde janela aberta
Dois corpos lisos que se vão embora
Como a acordar a praia ainda deserta
Foi a paz, o silêncio antes do grito
Foi a nudez antes de ser brocado
E foi o cântico interdito
E todo o meu poema recusado
Antes do grito, Pedro Homem de Melo (Camané)
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