segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Penúltimo

Desta janela via-se o sol. Iluminava todo o espaço em redor e ia além das fronteiras destas quatro paredes. Havia luz suficiente para aquecer todas as casas da aldeia e os corações de todos os habitantes. Certo dia vieram as trevas de mãos dadas com o bicho horrível com um olho na testa - a mentira. E tudo mudou. Passou a ser sempre noite e a alegria de viver nesta casa com vista para o sol, foi-se durante muito tempo. Para sempre? [Responde-me, por favor.]
Fiquei sozinha. Apaguei eu própria a luz que me ilumina os dias. E tanto que me avisaram... Não o fiz por mal, pelo contrário, achava que assim não te faria sofrer. Porque aquelas palavras não traduzem o que pensas. Era isto que gostava de dizer-te. Tenho duas testemunhas: as duas pessoas que me conhecem melhor. Estão e estiveram sempre presentes na nossa construção e sabem o quanto te quero bem. Vêem-me a crescer contigo. Sabem que o que não nos mata torna-nos mais fortes e eu não quero morrer nem que me morras tu nem que morramos nós. Ajuda-me a reconstruir-me. Limpa, pura. Ralha-me, fica triste, mas perdoa-me. Assim não vivo. Ouve-me. Fala, grita, mas devolve-nos a vida. Não sei ser sem ti. Deixa-me amar-te melhor. Ajuda-me a perdoar-me. Volta!

Iras abafadas

Falar cinco línguas vivas e duas mortas não traz a felicidade a ninguém. Acreditar que o conhecimento é um anel de brilhantes no nosso dedo, é mentira. Tirar de nós para dar a outrem, é inútil.Há mulheres, juro por Zeus olímpico que as há, que dão cinco erros ortográficos por cada palavra que escrevem, que julgam que os irmãos Karamazov jogam no Vitória de Setúbal,cujo quociente de egoísmo é bem mais alto do que o da inteligência. E, vá lá compreender-se porquê, conseguem, num ápice, o que outras matariam para conseguir."-Mundo muito mal feito,senhor Afonso da Maia, mundo muito mal feito." Diria Vilaça n'Os Maias.Agora, caríssimos leitores e, sobretudo, leitoras, restam duas hipóteses:1. Bater com a porta. Há um inconveniente: as portas modernas, ao contrário da estreiteza das celestes, passaram a ser demasiado pesadas2. Guardar a mágoa. Aquela mágoa que nem no leito de morte se perdoa.


Nem mais. Ler estas palavras relembrou-me o hálito fétido daquilo que conheço de gingeira, daquilo que tenho que gramar todos os dias, daquilo que preferia não ter sequer que ser obrigada a enfrentar, daquilo que me cansa e me distrai do que verdadeiramente interessa. Mas relembrou-me também que é o pão nosso de cada dia e que pode haver uma 3ª hipótese: ir à luta ainda que não saibamos como, por mais que os intervenientes não nos mereçam o esforço, por mais que isso nos tenha que ser arrancado das entranhas a ferro e fogo, porque não está naturalmente em nós. Sim, aquela mágoa envenena mais do que se imagina e corrói até à podridão.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Em homenagem

Benazir Bhutto

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

sábado, 20 de dezembro de 2008

Está muito bom!



Salvem os ricos, Contemporâneos

UPA


Alguém me Ouviu (mantém-te firme), Boss AC ft Mariza [da iniciativa UPA 2008 - Unidos para Ajudar]

Chorei
Mas não sei se alguém me ouviu
Enão sei se quem me viu
Sabe a dor que em mim carrego e a angústia que se esconde
Vou ser forte e vou-me erguer
E ter coragem de querer
Não ceder, nem desistir
Eu prometo

Busquei
Nas palavras o conforto
Dancei no silêncio morto
E o escuro revelou que em mim a Luz se esconde
Vou ser forte e vou-me erguer
E ter coragem de querer
Não ceder, nem desistir
Eu prometo

Nem de propósito... Há dias ofereci-te a letra, agora deixo-te a canção. Bonita. Como tu. Obrigada.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Entre linhas

Bom, quando se aproveita a finalidade para passar mensagens maiores, para além do óbvio. Uma dica do perfeito soneto.


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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Viver no fio dos dias

Contaram-me que estão com problemas financeiros. Coisa feia, pelo que me foi dado a entender. Que as relações familiares também já tiveram melhores dias. Oiço atentamente os narradores desta saga que teima em não terminar e pergunto-me quando virá a bonança para quem tudo tem feito por um lugar ao sol. Falam-me da esperança que, persistentes, ainda acreditam que é a última que morre. Vejo, porém, o desespero que lhes vai no coração. Tudo porque um dia quiseram valer a alguém que lhes fugiu da vida sem mais nem menos depois de a ter deixado no caos de que ainda hoje tentam erguer-se. Penso que não é justo. Perguntam-me se posso ajudá-los. Respondo que sim, claro que sim. Não sei bem é como.
Procurei o pote de ouro no fim do arco-íris há dois ou três dias atrás, não o encontrei. Corri laboratórios em busca do elixir da eterna juventude no desejo de os ajudar a tornarem a ser jovens e, por isso, mais fortes, responderam-me que desconhecem a fórmula. Procurei outro emprego por toda a cidade e cursos intensivos de terapia familiar, encontrei portas fechadas e gente demasiado ocupada com a sua própria vida.
Concluo, enfim, que a resolução terá que vir de dentro. De cada um de nós [porque sempre fui parte desta história] e de todos, como para o D'Artagnan e os Três Mosqueteiros. Esboçamos as resoluções possíveis e uma destaca-se como a mais viável. É, contudo, a que nos deixará a todos mais pobres: um de nós fará as malas e partirá por algum tempo atrás do sonho de um dia podermos todos sossegar...

sábado, 13 de dezembro de 2008

Força da natureza

Só por curiosidade procurei na internet o significado do nome Maria e, admitindo, embora, que nem todas as marias encaixem no perfil que encontrei, aquela a que aqui me refiro é, sem tirar nem pôr, a senhora "soberana", serena, dona de uma grande vontade de viver. Não sei se haveria alguém que desempenhasse tão bem o seu papel. Provavelmente há e para muitos o que acabo de dizer não passa de um cliché. Pois, para muitos, para mim não. Para mim é a pessoa mais bonita que conheço e a possibilidade de deixarmos de partilhar o dia-a-dia deixa-me aparavorada. Conto-lhe esta verdade, mas sorrio logo depois porque acredito que o que me diz querer fazer é, de facto, o melhor. Obrigada por tudo!

We are the angry mob

"We are the angry mob. We read the papers everyday. We like who we like, we hate who we hate. But we're also easily swayed."


The angry mob, Kaiser Chiefs

[Covilhã, 1927 - Lisboa, 2008]

António Alçada Baptista
[Fotografia de Adriano Miranda in Público, 07.12.08]

O Tecido do Outono, Catarina ou o Sabor da Maçã e O Riso de Deus [um dos livros da minha vida], por ordem cronológica de leitura. Qualquer deles, livros de escrita simples e ao mesmo tempo tão complexa porque cheia de afectos e sensibilidades.

O eu é deixado a nú sem despudor de dele se deixarem às claras as alegrias e tristezas, as angústias, as excitações e os voyeurismos, os amores que não seriam bem vistos mas que mesmo assim Alçada Baptista concretiza [como o de Francisco com a sobrinha Mónica em O Riso de Deus, que o escritor deixou irem para além das conversas e concretizar toda aquela ternura num beijo], o choro e o riso...

Obrigada ao escritor que me ajudou a ficar em paz comigo.

"Tudo me leva a crer que as marcações que nos deram para o desempenho da vida passam ao lado do caminho por onde os nossos afectos poderiam fluir conforme o que está inscrito no mapa oculto do ser humano. Pressinto que continuamos fora do essencial e que as razões das circunstâncias - que, muitas vezes, são poderosas e reais - só servem para nos afastar dos enigmas que estão à frente das coisas e que nos caberia decifrar. Por, algumas vezes, até parece que a simplicidade emana do andamento da vida e que bastaria um pequeno gesto de espírito para passarmos para o lado de lá de tantas incomodidades que nos fazem viver como se tivéssemos calçado dois números abaixo da forma da alma." [O Riso de Deus, p. 13]

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Segredos delas


Fantasias Eróticas - Segredos das Mulheres Portuguesas, Isabel Freire


35 anos. Heterossexual.

"Imagens ou situações eróticas muito excitantes? Estar num sítio público com um desconhecido. Junto a um balcão de um bar, por exemplo. E ele começar a meter a mão entre as minhas coxas. E eu deixar, claro. Estar deitada na praia e chegar alguém que, sem pedir licença, começa a tocar-me. E eu deixar, claro. Acho que me excita mais ser possuída - às vezes imagino, enquanto estou a ter relações, que não quero e estão a forçar-me."

E vocês?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A falta que um homem faz!

Nós até somos bem desenrascadas, mas um homem na nossa vida faz cá uma falta... Ainda ontem nos deparámos, duas mulheres, no coração da cidade e ansiosíssimas para chegar a casa, perante a nossa viatura que acabou de completar um decénio, completamente afónica. Demos à chave umas boas dez vezes e nada. Nem um pio... Pedimos ajuda e lá vieram cinco jovens-adultos engorrados (neologismo) e bem dispostos empurrar a carrimpana: "Se tu engata a terceira é melhor, dá mais força e carro segue logo". "Não é a terceira seu burro, é a segunda; a senhora mete a segunda e dá à chave que nós empurra". Amorosos e persistentes, embora tenham sido inglórios os 15 minutos de incasáveis tentativas.
Seguiram-se 20 minutos em espera na linha de assistência 24 horas por dia, o pedido do reboque, a sua bendita chegada 1 hora depois e foi ver cabos a darem choques eléctricos naquele burro cansado e sem voz. Até que falou, baixinho, mas falou e rumámos a casa, com a advertência de que quando parássemos dificilmente voltaria a falar, pelo que o melhor seria deixá-lo à porta do mecânico. No meio disto tudo... Os homens fazem falta porque "panicavam" menos que nós, mas a verdade é que com ajudinhas daqui e dali até nos safámos bastante bem!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A duas mãos pelo 1.º aniversário!

Parabéns pelo teu 1.º aniversário!
A olhar à tua tenra idade ninguém diria que tens já tantas histórias para contar, mas a verdade é que, precoce, começaste a falar assim que nasceste. Pensámos que se esgotassem as fontes da tua imaginação logo ao cabo de alguns meses, mas surpreendeste-nos! Continuas por cá fresco que nem uma alface e, apesar das inúmeras aventuras que já contaste, ainda não se te encontram a velhice ou os cabelos brancos. Fizeste-te forte, afinal!
Cheio de alegrias e tristezas, alternando entre épocas de andanças imensas e silêncios retemperadores, mas sempre a erguer o queixo depois do mergulho. Provavelmente muitas vezes te repetiste e te tornaste mais autêntico, muitas outras te revelaste ao impensável apenas porque é disso que te fazes. É isso que és. No fundo, ainda e sempre uma criança a dar os primeiros passos. Na tua Mátria.

Auto-retrato

Espáduas brancas palpitantes:
Asas no exílio dum corpo.
os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés tem um coração de louça
quebrado em jogos infantis.




Natália Correia

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O meu orgasmo é empertigado.

Altaneiro, dá-se quando bem entende. Esconde o potencial curandeiro, os mistérios celestes que encerra e acha-se dono e senhor da sagacidade suprema do prazer excelso. Altivo, não me obedece. Exige o tempo, o espaço e o tacto consoante seus pressupostos aleatórios. Desconcentra hipotálamos, requer semi-suavidades, pressões cirúrgicas, e ritmos ao compasso. Lança a varinha, inventa palavras mágicas, distorce intentos e recria novos dogmas a cada instante. Só em dias de extrema generosidade se multiplica, muito porque precisa de atenções e dar nas vistas depois de longos silêncios. Diz-se diferente, que não se mostra por dá cá aquela palha, porque se acha magnificente demais para se exibir sem a troca do sacrifício, qual divindade pagã que transacciona bonança por sangue. Depois expande-se glorioso, seguro de seu poder macumbeiro. Exorciza intervenientes, liberta-lhes demónios carniceiros e faz-se ouvir aos quatro ventos, para se vangloriar dos feitos concebidos. Enfeita-se, vaidoso. Enleia-se de adornos, de requintes, de ais, de meles e suspiros rematados em contorções, em gestos rituais de louvor.

Quem me manda adorá-lo? Mimei-o demais.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Ringalim, Ringalim todos vão ouvir as campainhas!


Canção da Campainha, Rua Sésamo

Mãozinhas de fada

É coisa que não tenho. Nosso senhor dotou-me de algumas qualidades dentro deste conjunto pequenino e roliço, mas uma delas não foi, de todo, os dotes para trabalhos manuais. Pois que nesta época tão bonita e festiva e de união e perfeição e etc. em vão me solicitam embrulhinhos simétricos, sem vinco.

Lamento.

O laço previamente feito ainda vai, agora o resto é para esquecer. É vê-la de trombil tingido de brilhantes do papel reluzente, a cortar o papel mais torto possível, a enrolar a fita cola, a dobrar as folhas com livros em cima, a deixar pontas soltas e amarfanhadas. Mas atenção: sempre, mas sempre com um ar profundamente convicto do trabalho exímio que se está ali a desenvolver!

Só a cara de desprezo das pessoas a olhar para estas mãozinhas de fada é que me leva a pensar que, se calhar, não é bem assim.

Ninguém diria!