sexta-feira, 21 de agosto de 2009
No Centro de Saúde
É importante que se diga aqui que, neste momento, domino esse espaço de convívio que é o Centro de Saúde. Esta menina que está aqui levanta-se às 7h30 da manhã para lá estar a aguardar vez e, assim, controlar todo aquele rebuliço. Acreditem que vale a pena conhecer estes meandros. Sou expert em todo o movimento de “aguardar vez”: é o tirar senha, fazer conversa com os velhos que vão mudar o penso, saber quantas pessoas estão à minha frente e atrás de mim. É o controlo da hora a que chega a menina da recepção, que é nova porque a Dona Júlia já se reformou, é o saber que posso ir a casa comer qualquer coisinha porque o médico só chega às 10h, é o sacar do papelucho da isenção e… enfim… a parte melhor de exibir orgulhosamente esta pança e passar à frente daquela malta toda, desde madrugada à porta do centro. Sim, porque isto anda pela hora da morte! (Ai os pontos de exclamação e o caralho…) Há dois médicos que se reformaram e não há substitutos, logo vai tudo ao recurso e é um ver se te avias. É vê-los a levantar-se quando chamam o número 5 e eles têm o 9 ou o 10 para fazer a inscrição, não vá alguém passar-lhe à frente por alguma razão sobrenatural. Assim vão logo “ocupando lugar” e afirmando presença. É todo um complexo processo comportamental, digno de estudo do António Barreto. Nunca me imaginei neste filme, mas a verdade é que quando alguém hoje perguntava quem era a última pessoa para o recurso eu respondi: “Acabaram as senhas, são só 20. Agora só às 14h para novas inscrições”. E pronto, aí percebi que estou muito à frente… até demais. Pensava andar nestes giros daqui a uns 40 anos, mas parece que me antecipei. Isto da prenhice tem contornos parecidos… Então se confessar que tenho papado tudo o que é programa televisivo de Verão tenho o perfil traçado.
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