sábado, 15 de agosto de 2009

Querido Avô,

Voltei a vestir teu casaco. Aquele que já tinha trinta anos de vida quando decidiste que quem o herdava era eu e não uma das minhas tia. Ao vesti-lo foi como se estivesse envolvida num teu abraço. Senti-me em Paz. Obrigada.
Está quase aí o teu aniversário, mas não vamos poder saborear o doce da Avó, aquele que foi a última sobremesa que tomámos juntos. Há 6 anos já. Foste-te há tanto tempo, Avô! Cedo demais... E fiquei à toa, sem saber o que fazer depois de ti. Empenhei-me em sossegar, porque sei que precisas que sosseguemos para tu próprio viveres a eternidade em paz. Não é tarefa fácil, mas lá vou conseguindo. Revisito o teu sorriso vezes sem conta, lembro as tuas dentadas que deixavam os nossos gelados a meio, o teu polegar a ferrar na nossa mão das poucas vezes que a juntávamos à tua. Lembro-me de baixares a cabeça à chegada e à despedida para beijar-te a testa. Tenho saudades tuas, Avô! E hoje sinto um vazio enorme que não sei de onde vem. Tu sabes que eu sempre fui um bocadinho mariquinhas, qualquer coisa era motivo para esta tua neta se pôr lavada em lágrimas nas escadas do quintal à espera que alguém passasse. Vivemo-nos muito quando eu era pequena. [Ainda bem que fui a primeira dos netos! Acho que te tive como nenhum dos outros teve a sorte de te ter.] Tenho pena que tenhamos vivido longe um do outro nos últimos anos que antecederam a tua partida, mas sonho reencontrar-te um dia confortavelmente sentado nas nuvens para juntos percorrermos as memórias da vida que partilhámos.

Um beijo da tua neta

P.S. Vai passando por mim.

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