quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Momento "Já agora valia a pena pensar nisto"*
* com selo J.M.
Por Dios!
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Às seis da tarde
as mulheres choravam
no banheiro.
Não choravam por isso
ou por aquilo
choravam porque o pranto subia
garganta acima
mesmo se os filhos cresciam
com boa saúde
se havia comida no fogo
e se o marido lhes dava
do bom
e do melhor
choravam porque no céu
além do basculante
o dia se punha
porque uma ânsia
uma dor
uma gastura
era só o que sobrava
dos seus sonhos.
Agora
às seis da tarde
as mulheres regressam do trabalho
o dia se põe
os filhos crescem
o fogo espera
e elas não podem
não querem
chorar na condução.
Marina Colasanti
Em digressão pelas Américas...
No encalço da essência...
A minha mãe diz que cada um de nós vem à Terra com uma missão. Ainda não descobri a minha e, talvez por isso, sinta esta inquietação permanente, este contrário da acalmia que, de vez em quando, tanto desejava ter. Mas a procura da essência é mesmo assim: um caminho de espinhos para no fim colher as rosas que por lá sempre estiveram mas que não conseguíamos ver.
domingo, 24 de fevereiro de 2008
Esta noite
Dispidida foi coisa que não quisemos fazer. Mais uma senhora que me deixa sem palavras. O concerto inteiro foi a puxar pela terra, pelo calor, pelo castanho, pelo batuque da saudade, da paixão e da identidade. Em momento algum aqueles músicos, com alma nos dedos, perderam a sintonia daquela voz doce, quente, rouca e sensual daquela menina de nome Mayra. Como se tal bela mulher personificasse Cabo Verde esta noite, ao emanar genuinidade por todos os poros e a fazer-nos suster a respiração a cada nota. Muito bonito.
Lua, Mayra Andrade
"Muito pra mim é tão pouco e pouco eu não quero mais"
Quero-te no hoje, o que significa amanhã? Já nada faz sentido entre o amar, o confiar, o desejar e o pensar. Há uma mescla colorida de quereres, como um lindo bouquet de rosas com pequenos espinhos escondidos, bem apertadinhos em papel de prata para não magoar, mas sem lhes retirar a essência.
Se calhar assustaram-me os olhos que penetram e ferem o meu mais secreto, de tão sinceros e intensos. Não tenho a mínima vontade de mergulhar no oculto e não me move a luxúria, mas impõe-se o mais e o melhor de cada partícula dos dias partilhados. Nada menos que isso. Tudo de mim a seguir.
Muito pouco, Maria Rita
Lisboa
Lisboa e o Tejo, Domingo,
Carlos Botelho
"Logo a abrir, apareces-me pousada sobre o Tejo como uma cidade a navegar. Não me admiro: sempre que me sinto em alturas de abranger o mundo, no pico dum miradouro ou sentado numa nuvem, vejo-te em cidade-nave, barca com ruas e jardins por dentro, e até a brisa que corre me sabe a sal. Há ondas de mar aberto desenhadas nas tuas calçadas; há âncoras, há sereias. O convés, em praça larga com uma rosa-dos-ventos bordada no empedrado, tem a comandá-lo duas colunas saídas das águas que fazem guarda de honra à partida para os oceanos. Ladeiam a proa ou figuram como tal, é a ideia que dão; um pouco atrásm está um rei-menino montado num cavalo verde a olhar; por entre elas, para o outro lado da Terra e a seus pés vêem-se nomes de navegadores e datas de descobrimentos anotados a basalto no terreiro batido pelo sol. Em frente é o rio que corre para os meridianos do paraíso. O tal Tejo de que falam os cronistas enlouquecidos, povoando-o de tritões a cavalo de golfinhos.
(...)
«Noutros tempos, longos tempos, havia em Lisboa uma sereia...» Conheço uns versos de Robert Desnos que começam desta maneira mas é melhor ficar por aqui porque o Tejo não é de fábula nem de poema e corre sem nostalgias. E Lisboa a mesma coisa, disso podemos estar nós bem seguros. Só que, com o saber dos séculos e os sinais de muito mundo que a perfazem, sugere várias leituras, e daí que a cada visitante sua Lisboa, como tantas vezes se ouve dizer.
Daí também que nós, os que somos dela, lhe estejamos tão errantes na paixão. Um dia pode acontecer que, sentados como agora sobre o rio, a tentemos ler pela voz dos outros e então ainda nos sentiremos mais errantes, mais incertos. Entre uma Lisboa de Tirso de Molina, saudada como «a oitava maravilha», e a Lisboa que Fielding, o genial, amaldiçoou como um pesadelo leproso, correm águas insodáveis. Beckford viveu-a em palácio, Sade inventou-a num cárcere de rancores. «Lisboa oferece uma apreciável variedade de escolhas para um nobre suicídio», escreveu um dos grandes narradores dela, Antonio Tabucchi. Vozes, tudo vozes. Olhares. Memorações.
Quando por fim fechamos a página onde líamos a cidade, descobrimos que a vidraça do café está toldada por uma dança de gaivotas em turbilhão e que não há Tejo. Que desapareceu por trás duma desordem de asas e já não é prenúncio de oceano.
Então, ternamente, confiadamente, reconhecemo-nos ainda mais âncorados à cidade que nos viu partir. "
Lisboa, Livro de Bordo - vozes, olhares, memorações, José Cardoso Pires (2001)
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Já foi há 1 ano?
Acordares
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
E parece que voltamos, mais uma vez, à estaca zero...
Redimir pecados
No final, uma única certeza: não há salvação possível para esta alma impura.
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Terapia do riso em dia de chuva!
Não pirilamparás a mulher do próximo, Herman Enciclopédia [apanhado por t.a.]
Mas faz-te bem a chuva...
Os Amantes,
René Magritte, 1928
... faz-te crescer. Disseram-me isto há bocado e a mula da minha cabeça desatou logo em considerações [sobre as quais não me apetece deter-me agora, senão nunca mais daqui saímos e ainda fico mais tempestuosa]. De facto, nos dias de sol pode cair-me a casa que normalmente fico na mesma: bem disposta, sorridente, luzidia. E aproveito para passear. Já os dias de chuva, controversos, conseguem normalmente fazer depender deles o meu estado de espírito. A não ser que irradie aquela felicidade inderrubável. Hoje não. Só se estivessemos os dois na sala em tons de castanho da casa de campo, sentados no chão sobre o tapete encarnado e laranja a saborear um bom vinho tinto com o fogo a arder à nossa frente. E em nós. Corpos nús, colados, molhados e sedentos e depois cansados e mesmo assim sedentos e cansados novamente e, por fim, meio adormecidos, nunca completamente, porque o formigueiro de te sentir mais uma vez fica cá sempre [por isso te procuro mesmo quando não me apercebo]. Ah, esse teu cheiro que se espalha nos tais movimentos fundos! Quem dera ter-te aqui agora para te mostrar o quanto te quero bem e aos poucos deixarmos cair a venda para podermos deliciar-nos com o que para além dela se esconde. Vens visitar-me amanhã?
Sabes,
A lira sabe. E sabe tão bem…
Logo juntas a tua roupa
E dizes que a vida está lá fora
Passou a minha hora
Passou a minha hora
Passou a minha hora...
Control
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Outros tons
meDarQuotidiano contigoAbrigoCorpo despidoNem
terás para meDarA segurança do
perigoMais do que o gestoOcupadoO afagoO
desmentidoNão terás para me DarO espanto de estar
contigo.
Recusa, Maria Teresa Horta
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Não, isso foi por perceber que estávamos em sintonia...
Nota: ( ) acrescentado dois dias depois.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
Soubesse eu ler
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Uma grande senhora
You know I'm no good, Amy Winehouse
Reikian mode
Outros devaneios
You can bring your dog, Tori Amos
You can bring your dog
I got three
He can play the wolf for the evening
If you were to get lost behind these locks
Ain´t that a good thing
I´m not making any promises
I´m not living to be the Mrs.
I´m not making any promises honey
But you still got that something pretty boy
You still got that something as a man
Of this I know
domingo, 10 de fevereiro de 2008
A primeira vez do sopro
- Ó senhor guarda, de facto é a minha primeira vez.
- Então vamos a isto, menina! Não custa nada! [...] Pronto, pronto, já chega! Não ouviu o apito?
- Não, senhor guarda, estava tão empenhada no sopro...
É impressão minha ou pôr a boca num objecto fálico, ajudada por um estranho de uniforme, às 4h30 da manhã é um bocadinho... vá lá... perverso?
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Odeio-te... e tenho medo
O grito,
Edward Munch (1893)
Hoje odeio-te!
Odeio-te a ti que és o mais fundo de mim por me não deixares sossegar, por quereres partir sempre em descobertas ao invés de te sentares na cadeira de baloiço no alpendre ao sol aos domingos à tarde a ouvir os frutos de um amor como não há subirem às árvores e usarem a fisga em tiros certeiros a alvos que não têm culpa.
Odeio-te por fazeres de mais um dia um tormento desde que abro os olhos ao sol da manhã até que me deito exausta de tantas voltas dar para te iludir e enganar com passes de mágica, fingindo-me feliz.
Odeio-te por fazeres de mim aquela de quem todos gostam por estar sempre de acordo e por ter esta forma peculiar de sentir.
Odeio-te por fazeres de mim um reboliço de sentidos, sentimentos, emoções, recordações, paixões loucas, amores estupidamente insatisfeitos. Por me fazeres ser este sim com sopas, este não sei, talvez, este pode ser que um dia.
Odeio-te porque a cada dia agudizas a tarefa de me descobrir a mim própria, de saber quem sou, o que quero e onde não quero estar.
Odeio-te porque tão depressa me fazes rir como chorar, querer ficar como fugir, viver como adormecer profundamente de sentidos absortos, perdida em horizontes de uma felicidade sossegada que duvido algum dia alcançar, qual doente mental que constrói castelos na areia, embora ciente de que amanhã irão ruir e que volta a erguê-los com um sacrifício medonho embalado pelo sonho de que um dia a água não virá desmoronar aquilo que tanto lhe custou erguer.
Odeio-te porque tenho que viver contigo...
Pessoas que se vão e outras que nos surgem
Sketch for Several Circles, Kandinsky
A pedrada é certeira. O progresso é um ciclo. O equilíbrio é tal que as ausências resultam sempre num regresso ou numa descoberta no meio de um acaso qualquer, no tempo certo. São inevitáveis as perdas que abrem caminho a novos encontros com os outros e connosco. No entretanto acumula-se o melhor de nós.
"Nunca são as coisas mais simples que aparecem
quando as esperamos. O que é mais simples,
como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos, não se
encontra no curso previsível da vida. Porém, se
nos distraímos do calendário, ou se o acaso dos passos
nos empurrou para fora do caminho habitual,
então as coisas são outras. Nada do que se espera
transforma o que somos se não for isso:
um desvio no olhar; ou a mão que se demora
no teu ombro, forçando uma aproximação
dos lábios."
Nunca são as coisas mais simples, Nuno Júdice
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
[Sem título 2]
Saudades dela também...
Mãe e Filho, Gustav Klimt
Quem vier dizer que as amizades que se deixaram descurar por alguns anos nunca são recuperadas na totalidade, não sabe do que fala. Há evidências claras de que isso é uma grande mentira. Mas só pode saber disso quem lá está e quem lá está sabe-o bem.
Vi lá em casa uma fotografia muito bonita. Uma boa surpresa logo pela manhã. Uma moldura azul, uma cena de verão: tu e a tua melhor amiga que mesmo não estando não deixa de zelar pela tua felicidade. Já lhe agradeci por ter tratado de fazer com que os nossos caminhos se cruzassem novamente, agora mais do que nunca não saberia viver sem ti. Tenho saudades dela também. Minha querida...
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
É desta!
É à Dona Aninhas – como carinhosamente lhe chama o meu avô – que devo tudo de místico que se impregnou em mim ao longo dos meus parcos anos de vida. É aquela veia divinatória misturada com sangue espanhol que lhe dá a veneta e o brilho nos olhos. “Olha que eu nunca me engano!” E lá isso é verdade, vó…
Ainda hoje viamos o “Pátio das Cantigas” e lá vinha ela a resmungar as centenas de vezes que já tínhamos visto aquele filme. Mas volta e meia dava por ela toda contente a rir-se das piadas que já sabe de cor, ao ver que até à miúda saíam gargalhadas perante as picardias do António Silva e do Vasco Santana.
A minha avó que discute futebol como poucos homens é o pilar da minha fundação. Bem antes dos dias em que entre dentadas no pão com manteiga, os trabalhos de casa e a Rua Sésamo lhe berrava para a cozinha:
- Vó, 8×7?
- 56!
E posto isto, deixa-me lá aperaltar que, mais dia menos dia, esbarro aí numa esquina qualquer com o meu predestinado príncipe e tenho que estar au point.
Cores e sabores
Sabe-me a chás e longas conversas pela noite dentro. Sabe-me à parte mais interessante das descobertas.
Bem que se disse que ia ser só carnavalizar!
Vai de abanar as plumas, as tiras, as mamas, os cabelos e os medos que hoje é mais uma daquelas noites... de exorcismo! Uuuuuuuuuu...! Exorciza mulher. Afinal, o que é que vieste cá fazer? Exorcizar esses medos que te perseguem. Vai um beijo! Será esta a noite de maior "siamesismo"? Talvez. Ou amanhã...!
- Leia muito! É uma piada "à Fénix".
- Ela tem que entrar!
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
Carnavalizar
[Carnavália, Tribalistas]
O entrudo, o enterro do bacalhau, como diz o outro, são as coisas que eu mais detesto no mundo. Mas pronto, hoje lá estaremos a carnavalizar-nos [aqui permitem-se todas as leituras, afinal, ninguém leva a mal] uns aos outros. Ao fim de tantos anos.
A ver...
O rei mimado está feliz e sem rival
E a triste certeza de que nada nos liga. Não há paciência para uns acenares desesperada e estupidamente vingativos.
O rei mimado, Mão Morta
domingo, 3 de fevereiro de 2008
Quando [parece que] não se tem mais que fazer...
Bem apanhada a interpretação do tema da banda sonora destes sonhos. Quem padeceu de tal perseguição ponha o dedo no ar.
Chuva, chá, Vinicius
É inevitável relembrar a mão que desliza pelo vidro embaciado, cena tão brega, de filme tão deprimente... Mas há sensação melhor que sentir um corpo quente que nos envolve enquanto olhamos a chuva e as folhas que voam pelo ar? Há conforto maior do que contrastar a temperatura tórrida de sexo com o agreste Inverno da rua, apenas denunciado pelos vapores ofegantes com os quais desenhamos na janela?
Não há nudez mais bonita e de maior prazer.
O som da chuva que cai na estrada, nas poças, são línguas encharcadas de saliva que se envolvem a um ritmo frenético, são o vai-vem dos sexos que escorrem quentes licores, são as barrigas que se colam e descolam no suor. As gotas da chuva são a lágrima que se solta no orgasmo intenso, são a água salgada que o corpo expele e que escorrega até ao fundo das costas, que fica atrás dos joelhos das pernas flectidas. O toque da chuva é o dedo frio que penetra o esconderijo mais quente de nós, é o bafo de calor de uma boca sob o mamilo túrgido.
É o choque de sensações numa sinfonia de prazeres.
Já mencionei que adoro chuva?