O grito,
Edward Munch (1893)
Hoje odeio-te!
Odeio-te a ti que és o mais fundo de mim por me não deixares sossegar, por quereres partir sempre em descobertas ao invés de te sentares na cadeira de baloiço no alpendre ao sol aos domingos à tarde a ouvir os frutos de um amor como não há subirem às árvores e usarem a fisga em tiros certeiros a alvos que não têm culpa.
Odeio-te por fazeres de mais um dia um tormento desde que abro os olhos ao sol da manhã até que me deito exausta de tantas voltas dar para te iludir e enganar com passes de mágica, fingindo-me feliz.
Odeio-te por fazeres de mim aquela de quem todos gostam por estar sempre de acordo e por ter esta forma peculiar de sentir.
Odeio-te por fazeres de mim um reboliço de sentidos, sentimentos, emoções, recordações, paixões loucas, amores estupidamente insatisfeitos. Por me fazeres ser este sim com sopas, este não sei, talvez, este pode ser que um dia.
Odeio-te porque a cada dia agudizas a tarefa de me descobrir a mim própria, de saber quem sou, o que quero e onde não quero estar.
Odeio-te porque tão depressa me fazes rir como chorar, querer ficar como fugir, viver como adormecer profundamente de sentidos absortos, perdida em horizontes de uma felicidade sossegada que duvido algum dia alcançar, qual doente mental que constrói castelos na areia, embora ciente de que amanhã irão ruir e que volta a erguê-los com um sacrifício medonho embalado pelo sonho de que um dia a água não virá desmoronar aquilo que tanto lhe custou erguer.
Odeio-te porque tenho que viver contigo...
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