domingo, 3 de fevereiro de 2008

Chuva, chá, Vinicius

A chuva sempre me deu tesão. Provavelmente são apenas associações involuntárias do meu cérebro: humidades puxam humidades. Por outro lado, tudo o que é cinzento, molhado, frio, pede vermelho, suor, calor... fogo! Como último toque, a ideia de intimidades recatadas enquanto chove lá fora é a cereja romântica no topo do bolo. Numa noite em que se desenrolava uma destas cenas de produção cinematográfica, reparei:"Já viste que está a chover mais intensamente agora?" A tua resposta carregada de lábia rematou o happy ending: "Claro que sim. Achas que é por acaso?" A chuva presta-se até a tais romances...

É inevitável relembrar a mão que desliza pelo vidro embaciado, cena tão brega, de filme tão deprimente... Mas há sensação melhor que sentir um corpo quente que nos envolve enquanto olhamos a chuva e as folhas que voam pelo ar? Há conforto maior do que contrastar a temperatura tórrida de sexo com o agreste Inverno da rua, apenas denunciado pelos vapores ofegantes com os quais desenhamos na janela?

Não há nudez mais bonita e de maior prazer.

O som da chuva que cai na estrada, nas poças, são línguas encharcadas de saliva que se envolvem a um ritmo frenético, são o vai-vem dos sexos que escorrem quentes licores, são as barrigas que se colam e descolam no suor. As gotas da chuva são a lágrima que se solta no orgasmo intenso, são a água salgada que o corpo expele e que escorrega até ao fundo das costas, que fica atrás dos joelhos das pernas flectidas. O toque da chuva é o dedo frio que penetra o esconderijo mais quente de nós, é o bafo de calor de uma boca sob o mamilo túrgido.

É o choque de sensações numa sinfonia de prazeres.

Já mencionei que adoro chuva?

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