Dizia-me ontem minha rica avó que lera o meu horóscopo na Dica da Semana (pasquim no qual muito lhe apraz ler tal verborreia premonitória). “Ouve, olha que aquilo és tu chapadinha! E não é que diz lá que vais conhecer o homem da tua vida brevemente?! Vai por mim que aquilo não se tem enganado muito, bate tudo certinho! Até porque homem pequenino ou é velhaco ou dançarino, e dançarino não era o outro…!”
É à Dona Aninhas – como carinhosamente lhe chama o meu avô – que devo tudo de místico que se impregnou em mim ao longo dos meus parcos anos de vida. É aquela veia divinatória misturada com sangue espanhol que lhe dá a veneta e o brilho nos olhos. “Olha que eu nunca me engano!” E lá isso é verdade, vó…
Ainda hoje viamos o “Pátio das Cantigas” e lá vinha ela a resmungar as centenas de vezes que já tínhamos visto aquele filme. Mas volta e meia dava por ela toda contente a rir-se das piadas que já sabe de cor, ao ver que até à miúda saíam gargalhadas perante as picardias do António Silva e do Vasco Santana.
A minha avó que discute futebol como poucos homens é o pilar da minha fundação. Bem antes dos dias em que entre dentadas no pão com manteiga, os trabalhos de casa e a Rua Sésamo lhe berrava para a cozinha:
- Vó, 8×7?
- 56!
E posto isto, deixa-me lá aperaltar que, mais dia menos dia, esbarro aí numa esquina qualquer com o meu predestinado príncipe e tenho que estar au point.
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