sexta-feira, 26 de setembro de 2008

À esquina

Quando Margarida chegou à Casa da Azenha teve aquela sensação, não desconhecida mas sempre inquietante, de já ter estado ali.”

À primeira vista parecia um romancezeco de cordel, lamechas e previsível, baseado numa ideia fantástica que, ou era muito bem desenvolvida, ou não convencia nem o leitor menos exigente.

Ao que parece a Margarida da história viaja no tempo. Acabei hoje o acompanhamento desse périplo. E nem foi preciso chegar ao final para ir ficando com aquela inquietação de quem está preso à história e quando não tem oportunidade de ler, dá por si a pensar no enredo, no que dali virá e onde quer chegar a autora. Ora, senhora dona Rosa Lobato DE Faria com o seu ar de tiazona, manda umas bocas porno-eróticas de uma intensidade e calor que nunca esperei. A verdade é que a senhora sabe do que fala e, embora não tenha ficado maravilhada pela criatividade da ideia, há pontos focados que dão que pensar.

Não se trata de reflectir sobre a possibilidade de viajar ou não no tempo, gostei da maneira como retrata a condição feminina opondo a actual ao século passado, a forma chocante como fala das dores fatais de uma mulher submissa e infeliz. Mas mais do que isso, gostei da ideia inquietante de reconhecermos certas pessoas que, à partida, nunca tinhamos visto na vida. Sejam pessoas que conhecemos, com quem temos imensa cumplicidade, que amamos perdidamente ou pessoas por quem passamos na rua e a quem nos sentimos, de alguma forma, ligados. Pode parecer a maior lamechice de sempre, mas acredito que as pessoas com quem nos cruzamos na vida, seja em que contexto for, têm o seu propósito por aquilo que nos fazem vivenciar, pensar, questionar, mudar. Será por acaso que amores insólitos, experiências dolorosas, acontecimentos inesperados, aparentemente impossíveis resistem ao turbilhão por uma força que parece querer dizer "tinha que ser assim"?

Gosto de pensar que sim.

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