terça-feira, 13 de julho de 2010
Amátrida
Um até já.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Jesus and the Weather
"I don't think Jesus, who is our Lord,would have liked the weather in Limerick, because it's always raining and the Shannon keeps the whole city damp. My father says the Shannon is a killer river... because it killed my two brothers. When you Iook at pictures of Jesus, He's always wandering around ancient Israel in a sheet. It never rains there, and you never hear of anyone coughing... or getting the consumption or anything Iike that. And no one has a job there, because all they do is stand around, eat manna, shake their fists, and go to crucifixions. Any time Jesus got hungry, all He had to do was to walk up the road... to a fig tree or an orange tree and have His fill. Or if He wanted a pint, He couId wave Hish and over a big glass... and there was the pint. Or He couId visit Mary Magdalene and her sister Martha, and they'd give Him His dinner, no questions asked. So it's a good thing Jesus decided to be born Jewish in that nice warm place. Because if He was born in Limerick, He'd catch the consumption... and be dead in a month, and there wouldn't be any Catholic Church, and we wouldn't have to write compositions about Him. The end."
quinta-feira, 1 de julho de 2010
domingo, 27 de junho de 2010
Momento "compreendo e pretendo continuar"
De libertinos é sempre um prazer saber, desta vez com improvável selo JR. Traz-me uma mistura de Marquês de Sade com Milo Manara, a assinar "Georges Pichard".
Tudo é volúpia ao extremo, luxúria a um nível de imaginação que poucos conseguiriam. Desprezo-lhe a postura da mulher-objecto submissa, violada, torturada e rendo-me ao efeito que tudo isso me provoca. Tal como Manara, com a sua suposta-casta-mas-sedenta Cláudia, de formas e herança generosas, Pichard desenha Paulette. Depois remistura influências às personagens do Kamasutra Indiano e remata com as imagens mais chocantes - e até surreais - de prazer, dor, voyeurismo e brutalidade. Eis o sexo puro e duro numa alternativa ao conceito que lhe atribuimos de simples e básico: a exaltação do carnal e mundano.
Não resisto a relembrar isto...
"Falais-me dos laços de amor, Eugénie; oxalá nunca os conheçais! Ah! Que um tal sentimento, pela felicidade que vos desejo, nunca se aproxime do vosso coração! O que é o amor? Parece-me que só poderemos considerá-lo como o efeito resultante das qualidades em nós produzidas por um belo objecto; estes efeitos arrebatam-nos; inflamam-nos; se possuirmos o objecto, eis-nos contentes; se nos for impossível tê-lo, desesperamos. Mas qual é a base deste sentimento?... O desejo. Quais são os resultados deste sentimento?... A loucura. Falemos do motivo e provemos os resultados. O motivo consiste em possuir o objecto; pois bem! Tentemos consegui-lo, mas com sagacidade; gozemo-lo quando o tivermos; consolemo-nos no caso contrário: mil outros objectos semelhantes e, frequentemente muito melhores, consolar-nos-ão da perda daqueles; todos os homens, todas as mulheres se parecem; não há amor que resista aos efeitos de uma sã reflexão. Oh! Não há maior engano do que essa loucura que, absorvendo em nós os resultados dos sentidos, nos coloca em tal estado que deixamos de ver e existir, senão para esse objecto loucamente adorado! É isso viver? Não será antes privar-se, voluntariamente, de todas as doçuras da vida? Não será querer permanecer devorado por uma febre ardente que nos absorve e nos devora, deixando-nos apenas a felicidade dos gozos metafísicos, tão semelhantes aos efeitos da loucura? Se devessemos amá-lo sempre, a esse objecto adorável, se fosse certo que nunca devessemos abandoná-lo, seria indubitavelmente uma extravagância, mas, pelo menos, desculpável. Acontece isso? Têm-se muitos exemplos dessas ligações eternas, que nunca se desmentiram? Alguns meses de gozo que depressa devolvem ao objecto o seu lugar verdadeiro, fazem-nos corar pelo incenso que queimámos nos seus altares e vamos muitas vezes ao ponto de nem sequer conceber que ele tenha podido seduzir-nos até esse ponto.
Oh, raparigas voluptuosas! Entregai-nos, pois, os vossos corpos, tanto quanto puderdes! Fodei, diverti-vos, eis o essencial; mas fugi cuidadosamente do amor. Ele só tem de bom o físico, dizia o naturalista Buffon, e não era só por isto que era bom filósofo. Diverti-vos, repito; mas não ameis; não vos perturbeis por isso: não deveis externuar-vos com lamentações, suspiros, olheiras e ternos bilhetes; o aconselhável reside em foder, multiplicar e trocar frequentemente de parceiros; deveis, sobretudo, opor-vos a que um só queira cativar-vos, pois que o fim deste amor constante seria, ligando-vos a ele, impedir-vos de vos entregar a um outro, egoísmo cruel, que cedo se tornaria fatal aos vossos prazeres. As mulheres não são feitas para um só homem: foi para todos que a natureza as criou. Se escutarem apenas esta voz sagrada, deverão entregar-se indiferentemente a todos aqueles que as queiram. Sempre putas, nunca amantes, fugindo do amor, adorando o prazer, só encontrarão rosas no caminho da vida; só nos prodigarão flores!"
Marquês de Sade, A filosofia na alcova
terça-feira, 22 de junho de 2010
segunda-feira, 21 de junho de 2010
"Mizé - antes galdéria que normal e remediada"
Lá diz o Ricardo Adolfo.
Eu concordo com a Mizé. Para se ser galdéria não é preciso muito, basicamente é ser-se o equivalente ao macho que as papa todas. Mulher com despudor e nas tintas para os falatórios é basicamente isso... uma galdéria, uma slut. Não vejo mal nenhum, aliás até gosto do som da palavra. Como badalhoca, é vocábulo que me agrada entoar.
Faz-me pensar que estas palavras não existiriam se as pessoas gostassem menos de opinar sobre a vida alheia. É incrível como somos juízes dos outros e nos sentimos poderosos para sobre eles dissertar, decidir do melhor, criticar e sentenciar futuros, desgraças, caracteres. Como dizia o outro senhor, quem nunca o fez que atire a primeira pedra.
Não sei que raio de condutas nos auto-impusemos, nem quando. Sei que quando cá vim parar, a isto que se diz mundo, já elas existiam. Ou alinhas ou não alinhas. E muitas vezes alinhas por defesa: na protecção e no ataque. Cá vamos andando aprumadinhos na linha das convenções ou construindo a carapaça para melhor dissimulação, continuamente estudando o inimigo. E sempre, nunca descurando, o ataque aos desvios detectados, às galdérias desta vida. Que enquanto os olhos estiverem postos nas galdérias, os perversos defensores dos bons costumes estarão a salvo.
Ou não...
terça-feira, 15 de junho de 2010
Momento bola de cristal
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Dicionário DonInês-Português
Perniscuidade - promiscuidade
Pecissão - procissão
Come bem sem vento - tem apetite
Re-
Don't ever change, don't ever worry
Because I'm coming back home tomorrow
To 14th Street where I won't hurry
And where I'll learn how to save, not just borrow
And they'll be rainbows and we will finally know
domingo, 13 de junho de 2010
Incutos de moralidade
E sim. Tenho sempre a certeza.
sábado, 12 de junho de 2010
Viva o Santo António, Viva o São João, Viva o 10 de Junho e a Restauração
Dos santos casamenteiros pedem-se as sardinhas e o vinho, pedem-se nós de anel no dedo e marchas pela avenida. Pede-se o cheiro a farturas, a animação nas ruas e as fitinhas penduradas. Pedia-se também algum calor que puxa à sangria, sem descurar as pisadelas Castelo acima e os 2€ por sardinha. E é vê-los, os fiéis amigos da pinga, em romaria até ao arraial, ano após ano, tal o fervor da sua devoção ao santo.
Agora pedir-se-ia, ainda, algum sossego às 02h00, com menos "apita o comboio" e "aperta, aperta com ela", cujo som invade os tímpanos tal qual estivessemos ao ladinho da acordeonista Alcobia. Santo Antoninho nos conceda muitas graças pelos sacrifícios que lhe fazemos pela festa.
terça-feira, 8 de junho de 2010
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Dicionário DonInês-Português
Ex.: Este tecido é muito pirili.
Jum - jejum
Ex.: Mas tu estás em jum até agora?!
De corpinho bem feito - pouco agasalhado(a).
Ex.: Andas aí de corpinho bem feito e depois constipas-te!
quarta-feira, 26 de maio de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
Dicionário DonInês-Português
Uma Knora/Cnora = Um caldo Knorr
Estar enfiadito(a), bolorento(a) = Estar com mau aspecto, cansado(a), magro(a), triste
Chinho, chinho = muito cheio
sexta-feira, 21 de maio de 2010
terça-feira, 18 de maio de 2010
sábado, 15 de maio de 2010
Ó Noite, Coalhada nas Formas de um Corpo de Mulher
vago e belo e voluptuoso,
num bailado erótico, com o cenário dos astros, mudos
[e quedos.
Estrelas que as suas mãos afagam e a boca repele,
deixai que os caminhos da noite,
cegos e rectos como o destino,
suspensos como uma nuvem,
sejam os caminhos dos poetas
que lhes decoraram o nome.
Ó noite, coalhada nas formas de um corpo de mulher!
Esconde a vida no seio de uma estrela
e fá-la pairar, assim mágica e irreal,
para que a olhemos como uma lua sonâmbula.
Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Ao pequenote que um dia ma mostrou. E desarmou.
O primeiro me chegou como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada que tocou meu coração
Mas não me negava nada, e, assustada, eu disse não.
O segundo me chegou como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar
Indagou o meu passado e cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada, e, assustada, eu disse não.
O terceiro me chegou como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada também nada perguntou
Mal sei como ele se chama mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama e me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não
Se instalou feito posseiro, dentro do meu coração.
Chico Buarque
domingo, 9 de maio de 2010
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Mãezinha
Pedia aos santinhos que não me transformassem numa mãe profissional, obcecada com mariquices para os filhos. Graças a Deus, atenderam-me. Não me levem a mal, só não tenho pachorra para mãezinhas.
domingo, 25 de abril de 2010
quarta-feira, 21 de abril de 2010
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Thelma e Louise
Eram belas e airosas, minhas catarinas. Cheias de carne e orgulho, sempre de nariz empinado lá iam esbanjando uma jovem luxúria. Sumarentas, voluptuosas, frescas e fofas! Saltitavam as minhas crianças, na urgência de brincar... E o que se divertiam em provocações e derretiam em delícias lânguidas. Viam o mundo de cima.
Depois veio a princesa sôfrega que se lambuzou e esfregou e puxou e mordeu e deixou Thelma e Louise em total arraso. Pobrezinhas, tristes como a noite, são a sombra do que foram. Quase envergonhadas, imploram insuflação depois de tanto esmorecimento. Cá vão fazendo pela vida, quais murchos saquinhos de chá, mais envólucro que enchimento. Vêem o mundo de baixo.
Ainda assim não se calam. Têm muito para contar e planos para o futuro. Contam uma história, aventuras, dizem que aproveitaram e se entregaram de corpo e alma, sem poupanças. Aliás, há botões com a mesma rapidez de resposta dos anos dourados.
sábado, 17 de abril de 2010
Cá está
Via irmaolucia, esse grande devoto, fui dar com esta pérola, ou melhor... cristal. Diz que é suposto ser uma nossa senhora de Fátima, mas cá no burgo chamar-lhe-iamos outra coisa. E não era um figo!
terça-feira, 13 de abril de 2010
Em pleno Séc. XXI
Dá-me vómitos.
segunda-feira, 12 de abril de 2010
sábado, 10 de abril de 2010
Para a vinícola
O curso nocturno do amor
Folheando o cão que lambe o gato
Sem saber que faz de professor.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Refresh
Os blogs, tal como as casas têm alturas de menor permanência. Ou pela azáfama aumentada, ou por férias ou saídas e passeios. Também, tal como as casas, precisam de ser arejadas no regresso, tirar o cheiro a mofo de habitáculo fechado. E depois cá passamos a soltar um som para levantar as poeiras. Faz-se a cama de lavado, abrem-se as janelas, liga-se a radiola. Mandam-se embora os maus fluidos com o reentrar da luz, demónios e coisas que tais. Os interregnos sabem sempre bem: os de agitação e os de calmaria. E eis-nos sempre a regressar a casa.
quarta-feira, 31 de março de 2010
Cara de quem carimba postais
sexta-feira, 26 de março de 2010
terça-feira, 23 de março de 2010
Notícias da actualidade
Eu fui fazer um samba em homenagem
à nata da malandragem, que conheço de outros carnavais.
Eu fui à Lapa e perdi a viagem,
que aquela tal malandragem não existe mais.
Agora já não é normal, o que dá de malandro
regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial,
malandro candidato a malandro federal,
malandro com retrato na coluna social;
malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal.
Mas o malandro para valer, não espalha,
aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal.
Dizem as más línguas que ele até trabalha,
Mora lá longe chacoalha, no trem da central.
Manel
É este o Manel João, tal e qual aqui se vê. Absolutamente alucinado, a deambular mentalmente entre as imensas personagens que incorpora. Meio tolo, com laivos de inocência, a lascívia do costume, a desorientação parece tomar-lhe conta da cabeça, da vida. Faz e diz o que quer, está-se nas tintas para o que pensam dele ou para fazer boa figura perante a aparente importância de ser entrevistado de Anabela Mota Ribeiro. Sem filtro pela anarquia da conversa, mas carregada dos filtros que imprime aos próprios heterónimos. Ficamos na dúvida se estamos perante uma clara confusão de identidade ou uma assumida intenção de não ser coisa nenhuma para poder ser uma qualquer.
Não deixa de me fascinar, o Manel João. Gosto do ar alheado, como se acabado de sair da casa de repouso. Gosto que choque, como canta conas e caralhos em profunda seriedade de caso. Está velho, queimado, mas certo da vida que escolheu. É uma certeza que se inveja. Vê-se-lhe nos olhos a paz de espírito de quem seguiu um ideal à sua maneira. E os olhos alheios que se fodam.
segunda-feira, 22 de março de 2010
Descobertas do Dia Mundial da Poesia [21/03]
É importante foder (ou não foder)?
É evidente que não, não é importante.
Fode quem fode e não fode quem não quer.
Com isso ninguém tem nada
Mas mesmo nada
A ver.
O que um tanto me tolhe é não poder confiar
Numa coisa que estica e depois encolhe,
Uma coisa que é mole e se põe a endurar e
A dilatar a dilatar
Até não se poder nem deixar andar
Para depois se sumir
E dar vontade de rir e d´ir urinar.
Isso eu quis dizer naquele verso louco que tenho ao pé:
«O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é»
Verso que, como sempre, terá ficado por perceber (por mim até).
.............................................................................
Também aquela do «outrora-agora» e do «ah poder ser tu sendo
eu» foi um bom trabalho
Para continuar tudo co´a cara de caralho
Que todos já tinham e vão continuar a ter
Antes durante e depois de morrer.
[Mário Cesariny]
domingo, 21 de março de 2010
sexta-feira, 19 de março de 2010
O tempo em Lisboa pode ser "um cachorrinho simpático"
Lisboa não é a cidade perfeita, nem queremos que o seja. Normalmente o que é perfeito enjoa-nos, engana-nos, porque na realidade não o é. E Lisboa não engana ninguém, mostra-se diariamente tal como é: um reboliço pegado que todos os dias tem para nos oferecer verdadeiros sopros de vida. E não me refiro apenas, nem principalmente, à música, ao teatro, ao cinema, às exposições... Penso no 28, no Jardim da Estrela, na relva do CCB, no quiosque do Camões, na calmaria da Sá da Costa, no Adamastor, na Praça das Flores, no miradouro da Graça, na delícia de conversar com ela em dias de sol e de poder abraçá-la quando chegam as primeiras cores do Outono.
Em Lisboa o tempo também dá a sensação de que não passa. Os transportes não são sempre diabólicos, as ruas não se assemelham sempre a formigueiros e é possível chegar em 10 minutos a muitos lugares catitas. O sol brilha de manhã e toma-se o pequeno-almoço na Confeitaria Nacional e logo depois exercitam-se as pernas num passeio à beira rio, onde se faz um piquenique sobre uma toalha aos quadradinhos. A tarde? A tarde tem tempo para ser o que se quiser e pelas 19h juntam-se os amigos para os caracóis e as imperiais, decide-se depois onde se quer jantar e a noite faz-se onde mais nos apetecer. Cada lugar pode muito bem ser aquilo que deixamos que seja...
Há muito que fizemos as pazes, eu e ela. Há anos que somos inseparáveis.
Pastelaria
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra
[Mário Cesariny]
quinta-feira, 18 de março de 2010
Dicas cá da terra
Depois, entre os sacos que gobicei à grande, fui encontrar umas almofadas de cereais, nada mais nada menos, que umas almofadinhas recheadas de cereais e ervas aromáticas. Após aquecer ou arrefecer, servem para aliviar dores musculares ou aquecer as camas dos minorcas.
Pois que gostei e recomendo. Parabéns à Helena.
sábado, 13 de março de 2010
quinta-feira, 11 de março de 2010
segunda-feira, 8 de março de 2010
terça-feira, 2 de março de 2010
Verónica
segunda-feira, 1 de março de 2010
A tudo o que é demasiado certo.
“A vida muda depois de sermos mães”. Outra grande treta. A vida muda tanto quanto o fim ou início de uma relação, a morte de uma mãe, um erro profissional. As mudanças são para quem as quiser aceitar porque no final, continuamos a ser o que sempre fomos: amigas, filhas, amantes, mulheres. Consinto apenas uma excepção no que conta ao sentido de confiança, segurança enquanto pessoas. De sentido mais apurado para o que realmente interessa e não interessa. Para melhor, portanto. No fundo, a essência mantém-se e, a meu ver, não se deve sequer tornar opaca. É fantástico, é magnânime é único e é eterno. É bom demais e nunca um precipício, um acontecimento abrupto, duro e de cara voltada para o passado, para o contínuo suspiro pelo que se era e se teve e se aspirou.
Vivo numa casa às vezes caótica, a minha filha nunca adormeceu à mesma hora, nem sempre janto, nem sempre almoço, esqueço aniversários, não dou a devida atenção aos amigos, não deixei de dizer asneiras, não vou deixar de beber uns copos. Vou no sentido que quero, ainda sou quem era e nunca mais serei a mesma.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
"Sexo, sexo, sexo leva-me até ao fim. Sexo, sexo, sexo és tu pra mim."
Esta cantava eu quando fazia backvocals - sim backvocals - nessa grande banda perdida no tempo, de nome Santa Boémia. Nos meus tempos áureos, portanto. O sexo é tema para tudo e mais alguma coisa, mas não o foi sempre. No Ípsilon questiona-se exactamente isso: Andamos a escrever mais sobre sexo, mas será que temos jeito?
Escreve-se porque se pode. Escreve-se mais porque é preciso compensar anos em que não se podia, mesmo que se caia no exagero. Principalmente as mulheres. Concordo que são muito poucos os homens que sabem escrever sobre sexo, sem cair nos clichés do costume. Falar sobre as suas experiências, então... menos ainda. Os homens não falam de sexo, só falam sobre sexo. Mandam umas bocas, protegem-se nos clichés, gabam-se, criam piadas, falam no plano etéreo. A realidade, a nua e crua, os medos e inseguranças, os prazeres, as dúvidas, as experiências por si só... não. As mulheres falam que se desunham, umas melhor, outras pior, mas - a meu ver - melhor que os homens. Sabem puxar bem mais e melhor pela parte sensual que excita e permitem visualizações mentais mais interessantes. Às vezes a palavra errada tira toda a beleza e erotismo de um texto que se pretendia como tal. Neste artigo, destaca-se ainda um excerto, entre os piores da literatura erótica portuguesa. Autor: José Rodrigues dos Santos. Livro: "O Codex 632". Ei-lo:
"Parou de comer e fitou-o com uma expressão insinuante. 'Sabe qual é a minha maior fantasia de cozinheira?'
'Hã?'
'Quando um dia for casada e tiver um filho, vou fazer uma sopa de peixe com o leite das minhas mamas.'
Tomás quase se engasgou com a sopa.
'Como?'
'Quero fazer uma sopa de peixe com o leite as minhas mamas', repetiu ela, como se dissesse a coisa mais natural do mundo. Colocou a mão no seio esquerdo e espremeu-o de modo tal que o mamilo espreitou pela borda do decote. 'Gostava de provar?'
Tomás sentiu uma erecção gigantesca a formar-se-lhe nas calças. Incapaz de proferir uma palavra e com a garganta subitamente seca, fez que sim com a cabeça. Lena tirou todo o seio esquerdo para fora do decote de seda azul (...). A sueca ergueu-se e aproximou-se do professor; em pé, ao lado ele, encostou-lhe o seio à boca. Tomás não resistiu. Abraçou-a pela cintura e começou a chupar-lhe o mamilo saliente."
No fundo, as mulheres têm bem menos pudor do que os homens no que toca a falar de sexo. Em tempos eram putas, oferecidas, demasiado fáceis na abordagem, aquelas que ouviam: És fresca, és! Agora, mesmo que o sejam, estão-se nas tintas, ainda que falar de sexo só por falar não nos torne mais emancipadas e essa é a outra etapa que se vislumbra para a relação das mulheres com o sexo. Mas não caiamos em lérias, as machezas masculinas e femininas (sim, que as há fêmeas) que habitam por este país fora não se extinguiram como se pensa, e o exercício de comparar homens e mulheres que escrevem sobre sexo nunca é imparcial no que conta ao género. Nos mais recônditos locais do nosso cérebro educadamente cristão, acender-se-á a luz vermelha da vergonha que ordenará o dedo da censura a elevar-se e exaltar-se-ão boas maneiras e brandos costumes, como é de nosso bom tom. E, convenhamos, se há coisa que não tem nada de brando e bem comportado, é o sexo.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
1.º dia
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
domingo, 21 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Fiéis são os cães
Diz Fernando Alvim que a fidelidade lhe dá tesão. Manel Cruz diria que o amor lhe dá tesão. Pois em que ficamos? A fidelidade dá-se bem com o amor, até a infidelidade se dá bem com o amor. A fidelidade e o desejo é que nem por isso. Pelo menos o desejo clandestino. A carne pela carne.
Diz-me fonte próxima e fidedigna que fiéis são os cães e, portanto, não existem pessoas fiéis. Como refere o Alvim, a fidelidade começa a ser tão rara que dá tesão. Acredito bem que sim, posso até entendê-lo, especialmente quando nos encontramos num período de inebriamento romântico em que tudo é perfeito, único e eterno. Mas até nesses momentos há choques de realidade que mantêm a luz acesa. Cada vez mais é uma treta o juramento de fidelidade, até porque se começa a sentir um suave consentimento assistido nas relações. Ninguém poderá pôr a mão no fogo por ninguém, nem por si mesmo e, portanto, mais vale sermos honestos desde o início. Não sei porque carga de água se leva isso tão a sério, embora seja o suficiente para acabar com o castelo que eventualmente se construiu antes. No fim de contas ficamos assim. Eu sei que tu e eu sabemos como é, mas está tudo bem desde que tu não saibas nem eu. A monogamia não vem no manual da biologia. Deve vir noutro...
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Responder ao desafio
[continua]
Djizâz!
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
De volta à inquietação
Meditação
Seja o que for
é intensidade que a flor resume.
A mão é gesto que a ultrapassa. O gesto é além.
Porque a mão toca o horizonte
que o gesto da mão contém.
O homem canta.
E enquanto canta o homem dura.
Porque o seu canto é perceber
que a voz prevalece à criatura.
E nunca lhe pôr um ponto final
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
domingo, 31 de janeiro de 2010
É vê-los a percorrer Lisboa com um carrinho de choque em cada braço
Rapaz do carrossel - Nós temos direito à nossa indignidade! Temos que preservar a cultura do nosso país, o que falta a este país é mais culturismo!
Complexo de Édipo
Sem saber muito bem porquê, diz que se apaixonou, um dia. Ela era amável, simpática, "boa pessoa". Não incrivelmente bonita ou "boazona" mas... aquela que viveria deslumbrada com ele, seria uma excelente mãe de família, amorosa, arrumada, faria bons cozinhados ao domingo e encantaria o seu primeiro amor: a mãe.
Sempre foi o menino da mamã, o único, aliás. Cheio de miminho desde que nasceu, o novo macho do núcleo, ainda hoje recebia o pequeno almoço na cama, quando dormia em casa dos pais. Lá ia a mamã dar-lhe exactamente o que gostava, como gostava, à hora certa, sempre preocupada se seria de menos ou não estaria do seu agrado.
Com a mulher foi igual. Foi "cuidado" por ela, amado por ela, retribuindo-lhe num amor grato, presente, mas não apaixonado. Consolidava uma vida tranquila, criando uma continuidade ao estilo com que cresceu e, acima de tudo, junto daquela que fora abençoada pela matriarca.
Continua o mesmo menino mimado, embora mais crescido. Com as mesmas exigências, birras e amuos de cara feia para quem não lhe fez mal nenhum. Geriu melhor o complexo, sem nunca o resolver de todo. Até porque o primeiro amor nunca se esquece, é para toda a vida.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Com toda a certeza, não diria melhor
Aquele "A" da gripe A é aparentado com aquele que os espectadores de jogos de futebol soltam quando a bola bate no poste: ah! Pensei que era golo... Com a gripe sucedeu o mesmo. Gripe ah!, já me foram ao bolso
5:57 Quinta-feira, 28 de Jan de 2010
Divisas provenientes de todo o mundo entraram nas contas bancárias das farmacêuticas por causa da gripe A. O dinheiro, sabemo-lo bem, é contagioso. Sobretudo quando é muito, multiplica-se depressa. Significa isto que, embora de um modo ligeiramente inesperado, cumpriram-se as previsões da Organização Mundial de Saúde: acabou por haver pandemia, mas de moedas e notas. E infectaram, sobretudo, os bolsos das farmacêuticas. Haja quem tenha a caridade de nos livrar deste tipo de infecção.
Mas quem diria. Milhares de páginas de jornal a alertar para os perigos da gripe, horas de debates sobre a dimensão da pandemia, panfletos da Direcção-Geral de Saúde a ensinar os portugueses a lavarem as mãos e, segundo se diz agora (designadamente, em milhares de páginas de jornal), a pandemia foi o maior escândalo médico do século. Nada disto teria sido possível sem as reportagens e os debates. Mesmo as instruções sobre lavagem de mãos foram essenciais neste processo, para que o nosso dinheiro passasse para as mãos das farmacêuticas irrepreensivelmente limpo. Se as notas continuassem a ser manuseadas pelas nossas mãos sujas, talvez as farmacêuticas não as quisessem.
Do ponto de vista médico, a gripe A foi uma digna sucessora de outras pandemias que, sendo muito perigosas nos jornais, foram inofensivas, ou quase, na vida real. Depois da doença das vacas loucas e da gripe das aves, a gripe suína também cumpriu o seu destino: como pandemia foi fraca, mas como negócio foi um achado. Aquele "A" da gripe A é aparentado com aquele que os espectadores de jogos de futebol soltam quando a bola bate no poste: ah! Pensei que era golo... Com a gripe sucedeu o mesmo. Gripe ah! Pensei que era mais perigosa. Por outro lado, também se parece com o ah! dos burlados. Gripe ah!, já me foram ao bolso. Eu conheço pessoalmente mais sócios do Sporting do que gente infectada pelo vírus da gripe A, o que demonstra bem o falhanço da disseminação da doença. Se um grupo tão reduzido consegue, ainda assim, ser mais numeroso, dificilmente poderemos chamar pandemia àquilo que aconteceu. Ainda assim, esperemos que as pandemias continuem a fazer-nos pior ao bolso do que à saúde. Antes na farmácia que no cangalheiro, como diz o José Mário Branco na célebre canção chamada OMS. Ou FMI. É mais ou menos a mesma coisa. Se se fala num ou noutro, o melhor é guardar a carteira.
Ricardo Araújo Pereira
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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Contagem decrescente
(Não há pachorra para as complexidades sentimentalóides da maternidade.)
Pueril e terno este poema
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
Ora é cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."
E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo...
José Gomes Ferreira
[Primeiro poema do autor, 1931]
Isto é rebuçadinho
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Descobertas #17
O Algodão não engana, porque mostra uma verdade que desafia os limites do real, suja e pouco confortável. Os textos são genuinamente indecorosos e a música, muitas vezes feita e gravada às três pancadas num quarto, também poderá ser considerada demasiado prosaica, e ainda bem, porque a ideia é mesmo essa. Alguns perguntarão:
O “Algodão” é xunga? É pois. Como o caralho.
De cada vez que tentava começar uma frase, subitamente as ideias desvaneciam-se. «Porra, tenho a certeza que esta era porreira». Coçou a cabeça e deu um golo no copo de cerveja onde flutuavam dois cubos
de gelo. O Puto esquecera-se de meter as garrafas no frigorífico e agora improvisava desta maneira. Desde que a bebesse rápido, não havia espiga. Bebê-la morna é que não podia ser, não senhora. Era da mais barata do mercado por isso, às tantas toda a situação não deixava de fazer
um estranho sentido. À força do hábito, o puto acabara por desenvolver uma predilecção pelo mais xunga. Pelo menos na bebida, nas drogas e nas mulheres. Mais valia a pena fazer uma pausa. Escrever naquele momento estava a custar demasiado. Pegou no telefone e ligou para a Teresa.
- Sabes que horas é que são?!
- São horas de passares em minha casa…
- São três da manhã, meu cabrão. Já estava a dormir. O que é que queres?
- Não consigo escrever.
- E o quê que eu tenho a ver com essa merda?
- Às tantas podias inspirar-me...
- Ah é? Então e a outra puta que anda a parasitar pela tua casa
não serve para isso?
- Quem, a Ana?
- Sei lá o nome dessa cabra!
- A Ana é apenas uma miúda que gosta do que eu escrevo, mais nada.
Já não aparece cá há uns tempos.
- Não sabia que andavas a escrever com a pila.
- Deixa-te disso, anda lá, meti agora mesmo umas garrafas no congelador.
- O quê, da tua bebida rasca? Além disso, tenho estado com o Adriano.
- Porra, com o Adriano? Esse pedante de merda?!!
- Ao menos trata-me bem.
- E fode-te bem?
- Mas quem és tu para falar disso? Andas a beber demais, puto,
qualquer dia desapareces, evaporas.
- Whatever, cabra.
- Cabra?
- Espera aí... o telefone deve estar a fazer eco.
- Vai mas é beber até te vomitares todo! Devias era sufocar no meio
do vómito, meu cabrão!
- Ao menos ainda consigo fazer alguma coisa de jeito.
- O quê, falar da merda que fazes?
- Yah… Disso e de cabras como tu. A merda inspira-me. Podes crer.
Só mais uma coisa: a Ana faz broches bem melhores que os teus.
- Imagino, deve ter boca de bebé, mesmo à tua medida, né?
- Yah… E o rabo também, ao contrário do teu, é bem apertado, como eu gosto.
O puto desligou o telefone, abriu uma garrafa, já fresca, e começou
a escrever. Sentia-se bem e capaz de escrever durante horas e horas a fio.
Xunga como o caralho, Pacotes em Almada
Deve ser disto que preciso para ganhar inspiração. Hoje está-se assim ou a precisar de estar assim. Surreal, altamente alucinado.