domingo, 30 de dezembro de 2007

Ao sabor da pena...

... com toda a ira, toda a raiva e a máxima dúvida. Sozinha, sem ninguém com quem partilhar esta angústia. Só o mundo [mas quer lá o mundo saber que ainda aqui estou, no mesmo sítio, à espera]. Que se foda o ditado de que a esperança é a última a morrer, esperar é capaz de ser o tempo que mais me custa viver, o verbo que mais me custa empregar: eu espero, tu esperas, ele espera [céus, que dificuldade!]. Acaso sabes que em muitas coisas os adultos continuam a ser como as crianças? Acaso sabes que elas sofrem quando lhes prometemos que hoje vamos passear e depois adiamos o passeio [e fingindo que o dia não vai caminhando para o fim, pensamos que não se apercebem e nem sequer tocamos no assunto] ou [quando vamos deitá-las com um cínico "bons sonhos"] substituímos o passeio por que tanto ansiaram por um "daqui a três dias pode ser que dê para cumprir o prometido"? Saberás, porventura, que também alguns adultos têm um bichinho na barriga [como as crianças no primeiro dia de escola] que os vai enlouquecendo à medida que a espera se prolonga? [Sabes, disse-to já várias vezes, apesar do pouco tempo em comum]. Mas ao menos o primeiro dia de escola é o princípio de alguma coisa, o princípio de uma caminhada, de um construir conjunto do eu, do NÓS. Mas, e esta espera cruel, o que representa ela? Pressagia simplesmente o fim do ano? Ou traz algo mais na cartola que teima em não fazer sair? E enquanto isso me faz entrar em loucas tentativas de adivinhação [que até agora mais não têm revelado que cenários feios, frios, cinzentos]...

Continuo aqui, exactamente no mesmo sítio de há três horas e meia atrás, no mesmo sítio em que me permitiste fazer nascer a expectativa de um abraço "apertado que não acaba" [e depois ainda perguntam porque é que as pessoas têm vícios... Deve ser porque nunca tiveram que esperar e durante as esperas intermináveis elas não tiveram que inventar nada para fazer para não sentirem a falta de quem afinal com elas não partilha um passeio].

Não penses que não te penso também do outro lado da barricada, do lado dos que esperam. Penso e, por isso, tento com a força de mil homens e com uma vontade que sinto tantas vezes que me ultrapassa, mudar de rumo. Embora sem certezas de que esperas, realmente. Isso não é o mais importante. O mais importante é que este coração não sabe bater de outra maneira.

E tu não és de te esquecer que aqui estive [e estou] à tua espera...

Sem comentários: