domingo, 30 de dezembro de 2007

Na rota de Che

Essências...

Todas as coisas têm uma essência ["Em metafísica, a essência de uma coisa é constituída pelas propriedades imutáveis da mesma"]. As pessoas também. Que é quase o mesmo que diz aquela expressão bem portuguesa - está-lhe no sangue. O que acontece é que cada um descobre a sua essência a seu tempo, num ritmo muito próprio. Num tempo e espaço que talvez não sejam assim tão alheios dos tempos e espaços em que se vai vivendo a vida. O mesmo é que dizer que não há coincidências? Talvez. O mesmo é dizer, também, que acredito que a procura da nossa essência é um processo gradual, mas que o momento da descoberta acontece normalmente sem que estejamos à espera.

Almoço. Início da tarde. Praia. Beira-mar. Sem ir a banhos. Pés húmidos sobre a areia. Momento de reflexão não tão intencional quanto isso. Não obstante, muito proveitoso: acho que tenho que pegar em mim e partir por aí em viagem. Alguns destinos certos, outros definidos ao sabor das emoções, das paixões [que são, afinal, os que me fazem querer viver]. Fazer o quê nestes destinos? Pouco importa. Com que objectivo? Ser feliz! [Atenção, esta ideia não é um original meu; por isso, ver história de vida de milhares de pessoas por esse mundo fora].

Horas depois decido partilhar esta descoberta [inquietante]. A resposta da interlocutora desta partilha foi curta e simples: esse voo era inevitável, está na tua essência. Poucas palavras, mas as suficientes para me levar a admitir algo que tentei sempre esconder de mim própria [dos outros então, nem se fala...]. Gosto de partir à descoberta e ainda não tinha a certeza. Agora é tão claro para mim! Entre cá e lá fazer a minha vida. Os que cá deixo sentirão a minha falta e eu a deles, mas os que me gostam saberão que assim serei feliz, serei mais eu. E de cada vez que voltar, o abraço de boas-vindas será mais apertado, mais quente, mais sincero, mais saudoso também. As despedidas [gosto mais de boas-vindas do que de despedidas], tentarei que sejam breves, porque, apesar de me estar no sangue, não posso correr riscos, sobretudo o risco de que o prazer de voltar a casa se sobreponha ao desejo de ser livre.

Por isso, se for capaz de me dar a oportunidade de me viver mais, talvez parta mesmo à descoberta e pode ser que os primeiros destinos estejam na rota de Che, pelo menos daquela que nos é dada a conhecer nos "Diários de Motocicleta" por Gael Garcia Bernal. Os que a estes se seguirão pouco importa. Sequer penso se existirão outros que não este pequeno país à beira-mar plantado de onde ainda escrevo. E se este for ficarei muito feliz. Regressar a casa já velhinha e ainda poder abraçar a minha mãe é um dos meus sonhos mais bonitos.

Sem comentários: