Olha! É o relógio de cuco de casa da minha avó.
Nunca percebi porque me enervava aquele pássaro ridículo a cantar "cu-cu" enquanto, aventureiro, se trazia para fora da toca e logo depois, friorento e medricas, voltava a recolher-se.
- Ó cuco, ou entras ou sais, assim não dá, que uma pessoa até fica zonza...
Em resposta à minha observação o cuco mudava a expressão: levantava a sobrancelha direita (irritante!) e olhava-me gozador. E eu sem perceber patavina do significado daquela carantonha. O raio do cuco!
Já faz tempo que percebi a mensagem. Aliás, nesse momento de clarividência foram os dois, relógio e cuco, janela fora. O primeiro em queda livre (pobrezinho, era bem bonito e hoje seria uma raridade), o segundo, raios o partam, deu às asas e lá foi ele fazer a vida negra a mais uns quantos. Ainda não me livrei dele. No fundo, somos inseparáveis e ele é bem capaz de ser o responsável (diria, até, o principal, senão único, culpado) pelos meus: gosto/não gosto; quero/não quero; vou/não vou; quente/frio; preto/branco. Sol/chuva; cidade/campo; sul/norte; acima/abaixo; hoje/amanhã; nunca/para o ano; sozinha/contigo.
Mas pode ser que aos 40 a coisa mude, pelo menos foi o que disse o conferencista no abrir das hostilidades há coisa de meia hora. Disse que é o tempo das grandes revelações. E eu acrescento:
- Ou não...
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