sábado, 15 de dezembro de 2007

Quanto mais depressa...

Tanta expectativa para nada! Anda uma pessoa numa lufa-lufa desgraçada para isto... Está tudo a rebentar pelas costuras. Não sentes? As cidades não podiam estar mais atafulhadas. O som não podia ser mais ruidoso. E os livros, esses, são aos magotes e para escrever mais só se se aproveitassem as entrelinhas. Mas não, que isto hoje tem que ser tudo muito objectivo, tipo receituário. Eu até percebo, pá, o desespero é mais que muito. E correm-se as bulas de um sem número de medicamentos na esperança de encontrar algum que acelere a recuperação. Há sempre quem encontre remédio: aquele homem no banco ao lado bebeu tanto que agora está para ali aos caídos sem dizer coisa com coisa. Outros há que cortam-se o pio mais rapidamente, com mais determinação (ou cobardia?): Pum! Tiro e queda! Ao menos, deve ser menos doloroso.

[De vez em quando, afinal, ainda se vêem umas coisas que valem a pena. Aqui da janela vê-se uma neta, pequenina aí para os seus 5 anos, a correr para o avô que deve ter acabado de chegar lá de trás do sol posto com o bacalhau debraçado para mais uma consoada. Que saudades! Mas a vida não pára e instalou-se o caos à volta dos dois saudosos amigos, abraçados mesmo no meio da avenida. Ninguém percebe que eles não podiam esperar mais? Ou preferiam que finassem de saudades? É o mais certo, não é? Bando de egoístas!
Tudo em nome da ordem, das linhas rectas. Do chegar ao emprego a horas, do ser o primeiro da fila para apanhar o autocarro (que, por acaso, hoje está atrasado), do jantar às oito da noite, impreterivelmente, que a digestão se ficar para mais tarde já não é nada fácil...]

Para quando um amanhecer mais sossegado? E a tranquilidade dos dias de correria daquelas quentes tardes de Verão? Para quando as longas conversas sem o tic-tac do tempo a anunciar o seu fim? E os longos silêncios no cimo da montanha acompanhados de uma brisa leve de vida? Para quando...

Para quando tu e eu (outra vez)?

1 comentário:

Anónimo disse...

Porquê cobardia? Não entendo... Porque há-de ser cobardia quando alguém quer deixar de sofrer? Expectativas goradas, azáfama permanente, a obrigatoriedade de dar todos os passos que os outros acham ser os correctos e sei lá mais o quê, mas mesmo assim não temos o direito de nos afogarmos na ebriedade do álcool, de nos perdermos numa nuvem de fumos, de ganhar novo alento (apesar de efémero) nos riscos irregulares...
Tiro e queda! É como o clic de um interruptor que apaga uma luz que nunca pedi que acendessem. Como a redentora viagem que teima em tardar... Mas não muito mais.