sábado, 19 de abril de 2008

Despertares

"Possivelmente, o amor continua a chamar-nos do centro do labirinto e nós andamos às voltas sem sermos capazes de o encontrar. Porque o labirinto não é um jogo: é a defesa mágica dum centro, duma significação, e talvez seja necessário despojarmo-nos de muitas coisas e tornarmos a vestir as vestes da inocência para que o amor nos possa ser revelado. É à volta do amor que as grandes literaturas têm dado o seu melhor mas não estou a escrever isto para ver se entro, ainda que humildemente, nessa plêiade tão gloriosa. Não é nada disso. Acontece é que em certos momentos sinto que uma indomável força me obriga a tentar descobrir o que não sei ainda o que é: qualquer coisa que fica entre a procura do mapa do tesouro e a receita do filtro que nos livrará da morte. Estou certo de que os indícios andam dispersos pelo mundo, mas, ao mesmo tempo, desconfio que esses segredos são capazes de estar escondidos debaixo duma pedra do nosso jardim, ali mesmo, ao alcance da nossa mão. É ainda essa irresistível procura que me tem levado, às vezes sem eu saber, para os braços de uma mulher. Diz a sabedoria tântrica que toda a mulher nua incarna a natureza - a Prakriti - Natureza-Mãe que é necessário solarizar para que a junção do Sol e da Lua regresse ao estado primordial de indiferenciação. Não se trata da dualidade, mas de, com a ajuda da mulher, despertarmos a mulher adormecida que temos dentro de nós. Porque nós não nos pomos no lugar do outro: temos é que descobrir o que o outro acorda em nós."
(O Riso de Deus, António Alçada Baptista) [bold acrescentado]

Sem comentários: