segunda-feira, 7 de abril de 2008

Leituras

The maker, Brian Applebaum


Sai um natural açucarado, por favor e esta noite relego o corpo ao chão, em penitência pelas indecências vespertinas. Inquieta-me a premonição destas linhas que eu não desenhei, por mim não decifradas e que só eu vivo. Por vezes irrita-me pensar que cada seu traço seja cada meu passo, outras vezes delicia-me que o sulco incisivo tenha definição minuciosa e por ele deslize a cumprir desígnios, na sublime extrapolação da vida. E vou, deixo-me ser conduzida, assisto ao rumo, assumo o papel de espectador activo, faço-o consciente e faço-o por puro prazer. Se assim me foi cravado na carne, feito estigma, não o vou rasurar. Nem quero. Antes me demoro no deslumbre da estória que supostamente me foi escrita e bebo sofregamente os pedaços de realidade que a corroboram. Ignoro desvios outrora percorridos, cuja função foi apenas orientar-me até à estrada de tijolos amarelos e ponho a saia mais bonita para o dia em que as linhas se intersectam. Entre suspiros aliviados de etapas fechadas concluo que é uma pena… que esta chuva, o vento e o frio pediam calor do outro lado do lençol.

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