terça-feira, 30 de junho de 2009
Coisas de homens
Uma dona de casa exemplar II
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Uma dona de casa exemplar
Preferia escrever horas sem fim, mas ainda não consigo essa proeza, nem sou capaz de me sentar disciplinada a escrever e apagar e a rasgar folhas e a reescrever tudo outra vez e a fazer colagens das folhas rasgadas... Fico triste, mas nunca me soube muito forte no que respeita à auto-disciplina e ao auto-controlo. Quem sabe quando trabalhar na livraria e, envolta em livros, me fechar na sala do fundo a tricotar palavras que, espero, me façam sorrir.
Bof... mas por agora vou montar a tábua e fingir que me ajeito e, principalmente, que gosto das lides domésticas.
Flor
"Meu bem
meu menino
me dê o seu sorriso
a sua gargalhada escancarada
me empreste seus pés morenos
Coberto de sol
veloz sobre o areal
em corrida descalça, descarada
rei da praia
herói sem igual
Me devolva meu côco
seu moleque bonitinho
me dê sua bochecha
para eu lhe pôr um beijinho
beijinho
Não ria de mim, ria para mim
- Quer comer?
- Quero! Farofa com arroz, batata com feijão! Vai jiboiar três dia inteirinho
Meu bem
meu menino
me dê o seu sorriso
essa sua risada encantada
seus saltos mortais salgados
Porta-voz bandeira
liberdade geral
fio de areia voando sem parar
rei da praia veloz e sem mal, sem mal
Não ria de mim [não ria de mim]
Ria para mim [só para mim, só para mim]
Tu vai inté à cidade
eu vou também
tu vai com a praia
eu vou com ninguém
quem chegar primeiro
tens direito a um pedido
tu quer uma flor
eu quero um vestido"
Flor, Maria João & Mário Laginha feat. Lenine
A música é linda e o teledisco, delicioso!
Sexta-feira
Quinta-feira
sábado, 27 de junho de 2009
O poeta é um sofredor
"No teu deserto" tem 128 páginas e segundo o escritor é "quase um diário de viagem" ou "quase um romance de amor". Foi um livro que escreveu "essencialmente pelo muito prazer de escrever" e que lhe causou menos sofrimento do que a escrita dos livros anteriores.
Sempre achei uma certa piada a esta ideia dos escritores que sofrem imenso para escrever um livro. Parece que fica bem dizer isto, dá ideia de um ser altruísta que se prejudica para o bem dos outros. É duro o processo de escrita mas elevará a plebe. Que presunção! Quem escreve tem que escrever por gosto ou, pelo menos, por algum bem que isso lhe traga – nem que pelo tal exorcismo de inquietações e dores. Claro que escrever sobre certos temas é obrigarmo-nos a pensar neles, revivê-los para os saber descrever o melhor possível, principalmente os mais difíceis, mais dolorosos. Mas até neste sofrimento existe libertação, a sua consciência e vontade. Consoante esses mesmos temas e o modo como são escritos temos, nós leitores, mais ou menos prazer em ler as suas palavras. Sem dúvida que podem ser de tal forma poderosas que conseguem mudar vidas ou concepções do mundo, mas essa mesma importância a essas mesmas palavras é atribuída por quem as lê, não pelo escritor. Irritam-me estas expressões de pura altivez, como se soubessem do poder que podem exercer e o proclamassem donos e senhores de destinos alheios. Não me agrada de todo, cheira-me a cenário emproado ou a laivos de diário de adolescente. Não sei… desconstrói-me o conceito que eu quero de livro.
Blá, blá, blá
Não percebo porque perguntam! É que nem estou a falar de casos em que o receptor se desdobra em enredos e aproveita para contar logo meia vida, basta desenvolver um pouco mais do que o normal para o outro começar a fugir a sete pés.
Que raio de gente somos nós? Parece que se simula a preocupação, o interesse, a alegria de ver alguém porque geralmente é isso que se faz, é o que supostamente se deve fazer. Tudo porque fazemos parte de um bolo a que alguém chamou sociedade e há regras de convivência que parece que têm que ser cumpridas. Não passam de meras formalidades completamente vazias de intenção, mas caso as saltarmos somos automaticamente apelidados de antipáticos, bichos-do-mato, egoístas, altivos e anti-sociais. Torna tão mais óbvia a estandardização da massa de que somos feitos, dos comportamentos moldados como se fossemos fabricados em série, em intervalos de vómitos sociais. Soubéssemos, pelo menos, disfarçar melhor.
domingo, 21 de junho de 2009
sábado, 20 de junho de 2009
Programa das festas
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Dio e'malato forse
quinta-feira, 18 de junho de 2009
E é isto
Descobertas #15
GOVERNO - Meio Bicho e Fogo from 8 e Meio on Vimeo.
É o meu Valter, que agora também canta. Imaginava-lhe outra voz, tal menos à la "Antony and the Johnsons".
Lufada de ar fresco
Só apetece ficar ali. Estender a manta, abrir a cesta e o vinho para acompanhar os morangos que saboreamos nus depois de nos rebolarmos na relva que refresca o que temos mais quente...
terça-feira, 16 de junho de 2009
Cidade nua...
Cidade nua
Faz serenata
Beijo na boca, vira-lata, de lixo
Amor de bicho
Paixão maluca
Cama de gato
Kama Sutra ao luar
Aaaaaaaaaah! Muito bom!
segunda-feira, 15 de junho de 2009
45 anos and he's still a child...
- Há muitos indianos por aí?
- Hum... Indianos, restaurantes ou pessoas?
- Pessoas, pessoas!
- Há, sim.
- Então já viste aquelas senhoras com um pinta vermelha na testa...?
- Sim, já! [Daaaaah!]
- Vê lá tu que um amigo meu um dia destes foi a uma loja de indianos e comprou uma lâmpada...
- Claro, uma lâmpada mágica, pôs-se a puxar-lhe o lustro... - atalho com tom irónico.
- Mau, posso contar ou não? Bem... Comprou a lâmpada, chegou a casa, começou a limpá-la e saiu de lá um génio.
- Hum, hum... - digo entre o enfadado e o "o que é que virá aí".
- Então o génio disse-lhe que podia pedir um desejo e ele pediu muito dinheiro.
- Sim... diz lá, vá! - disse eu com o ar desinteressado que faço sempre quando conversamos.
- Pá! No dia seguinte, saiu-lhe um milhão de libras na lotaria.
- Ahahah! [Parti-me toda, na verdade]
- Então fomos jantar para comemorar e tal.
- Sim... [acaba lá com isso, vá, não me faças de parva]
- Uma das empregadas era boa, muita boa e muito bonita, mas bonita mesmo, hein? Vai daí que lhe dissemos "Já que tens um génio dentro da lâmpada, pode ser que estejas numa boa maré, por isso, tenta aí a tua sorte com a empregada".
- Ah, claro! Estou mesmo a ver [Estava praticamente a desconjuntar-me pois já lhe conheço as piadas].
- O gajo começa-se a fazer a ela e pimba: leva-a para casa e dorme com ela. De manhã quando acorda olha-a em contemplação e repara novamente na pinta vermelha que ela tem na testa, esfrega a pinta e saiu-lhe um Ford Focus.
[Isto ao telefone e contado por ele teve muita piada, acreditem]
Parti-me toda, claro. Contive-me quanto pude para não lhe dar o gostinho de estar a rir de uma piada sua e, de mim para mim, perguntei-me: Como pôde algum dia este homem querer criar duas filhas e manter uma família?
Segunda volta
Releio, então, este livro, agora com um caderninho e uma caneta ao lado. Aponto tudo o que me enche os olhos. Abro aspas e guardo o que de melhor tem para mim, como se para o perceber melhor. Fazia muito isto quando era miúda: apontava frases, ditados, expressões. Perdi há anos o bloco onde as guardava e, com essa perda, perdi o hábito de escrever o que me importa para não esquecer. Retomei este hábito há algum tempo. Subtraindo-me sempre à maçada de me olharem como a uma frase feita, as palavras que me fazem tanto sentido e me ajudam a encontrar paz tomo-as apenas como emprestadas e reorganizo-me e volto a desorganizar-me e a organizar-me mais uma vez e vivo desalinhada... Porque acredito que é na permanente reinvenção de nós próprios que encontramos a nossa essência, tento dia após dia ver se tenho tempo para ser eu própria.
"Gosto de ti porque és minha irmã da seita do sonho. Os que sonham a dormir sabem, de manhã, que isso era uma ilusão mas os que sonham de olhos abertos acreditam que o estofo do futuro será feito desse sonho. Por isso são tão inquietantes aos olhos dos que preferiram ficar por aí, convencidos de que a vida se vive nestes limites, e nem ousam tomar conhecimento daquilo que se pode arriscar para poder experimentar as suas margens. (...)
Se me perguntares o que é que eu tenho andado a fazer, nem sei bem, mas acho que andei a explorar essas margens e que procurei estar atento ao que por lá se passava. Não encontrei uma fé: a minha fé é a minha procura e penso que só irei desistir dela no dia em que encontrar esse não sei quê que me cita e se esconde sempre que julgo que o tenho nas mãos." [O Riso de Deus, António Alçada Baptista, pp. 22-23]
O homem que corre riscos
[O Centro de Arte Manuel de Brito (Algés) apresenta nos próximos meses uma retrospectiva da obra de Júlio Pomar.]
Ainda não conheço bem a obra de Júlio Pomar mas acontece-me em relação a ele a mesma coisa que em relação ao António Lobo Antunes: gosto da simplicidade, do despojamento do que é material que me parece que colocam no que oferecem, do profundo respeito que nutrem pelas formas de arte de que são representantes. Mais do que isso, admiro-os pelo evidente amor que têm pelas palavras.domingo, 14 de junho de 2009
Curtas [17]
Ano: 2009.
Hora: 06h30
Local: Banco de pedra no centro da praça dos Restauradores, Lisboa.
Desesperei por um táxi, eu e tantos outros. Santo António milagreiro de nada nos pôde valer. Quem manda querer ficar sempre até ao fim da festa? Calcorreámos Lisboa, subimos, descemos, parámos, mais um copo, um cigarro, dois dedos de conversa, um pézinho de dança, gargalhadas, continuámos, desculpe, com licença, agarra-te à minha mão para não te perderes, e água, ninguém tem água?, pés cansados, cabeças em autênticos filmes, uns foram a pé, outros ficaram de olhos raiados, sentados. Meia hora à espera do metro. Até hoje à espera de uma explicação.
Da língua portuguesa
"Voltou às sete horas da manhã, mas só na quarta-feira". Gosto do que se pode fazer com a língua!
Vícios partilhados
"Enquanto nos amarmos tudo corre - não é assim"
sábado, 13 de junho de 2009
Apelos
Li hoje o discurso de Obama de visita ao Egipto. Não tinha ainda ouvido sequer excertos ou posteriores análises e fiquei, de alguma forma, curiosa com uma apreciação que li de relance: diz-se que se tratou de um momento histórico e eu quis perceber porquê. Eu posso ser uma grande patega sentimentalóide, mas mesmo sem sequer ouvir de viva voz a expressão daquelas palavras fiquei estarrecida. É um dado adquirido que se trata de um homem extremamente carismático e inteligente que sabe exactamente o que deve dizer e como deve dizer. Este discurso parece provar isso mesmo, até porque, como se sabe, tudo vindo daquela máquina política americana é meticulosamente preparado, estudado. Até mesmo as reacções a este discurso foram estudadas em vários pontos estratégicos, consoante as orlas que o mesmo pretendia exactamente atingir. No entanto, para mim, o que há de diferente neste discurso é a atitude, é a intenção que a envolve, é a motivação que dá lugar àquele explanar de argumentos com fim a um só objectivo aparentemente tão simples e, na realidade, tremendamente problemático. Tenho por hábito desconfiar sempre um bocadinho daquilo que me parece logo, à partida, bom, principalmente no que diz respeito à política pelas já batidas razões de descrédito que 57 pontos percentuais de abstenção retrataram nas últimas eleições nacionais. E agora não foi excepção, dei por mim a pensar se tais palavras tão cheias de boa vontade, optimismo e poder de iniciativa não seriam meio vazias, apenas flores e perfumes para suavizar o negrume de todos os pontos que apontou até porque estamos a falar de pedras no sapato que incomodaram já ao ponto de corroer a meia e fazer ferida no pé. Geralmente, os grandes impulsionadores da mudança são imediatamente apelidados de utópicos, sonhadores, loucos carentes de sentido da realidade, dos problemas, dos lobbies, das diferenças… do impossível. Mas eu li e pensei e acreditei que era possível. Na verdade são expostas todas as dificuldades, fica latente a noção de que não vai ser fácil nem ser resolvido amanhã, que terão que se unir esforços de todas as partes sem excepção, que há limites para qualquer acordo de cooperação e esse limite é a violência extremista. Mais do que isso são apresentadas alternativas, medidas e propostas para se poder avançar. Fica dado um primeiro passo, sem conversas de treta, demagogias, enredos de cordel e sim com objectivos claros, numa clara afirmação de que “se está mal, aqui estão hipóteses de solução. Quem avança?”. Tudo isto vem num embrulho impressionante, a meu ver: a clareza e seriedade de ideias numa linguagem simples e eficaz. Trata-se de um “estender de mão” com humildade, sem perder a noção dos princípios que defende, explicado directa e logicamente a uma plateia que, assim, fica presa ao que se diz. Faz-me lembrar uma música dos Police, a propósito da Guerra Fria, “we share the same biology regardless of ideology”. No fundo é exactamente isto, parece tão simples porque será que se tem complicado tanto em teorias diplomáticas repetindo os mesmos erros uma e outra vez? Espero mesmo que não lhe esmoreça o fulgor e que tenha fôlego para o que há-de vir. Em todo o caso será sempre sinal de que se avançou e é esse o espírito que falta em cada um de nós, no meio de tanta desgraça e guerra e crise e tudo quanto é mau. Haja alguém com energia para avançar apesar dos pesares, contra velhos do Restelo, com alento que contagie. Parece que o “Yes, we can” não foi apenas para empolgar as massas numa espécie de euforia psicadélica e eu gosto mais de Obama por isso.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Acudam
E isto dura-me umas horas, sem que eu tenha hipótese de fuga. Fico exaurida. Sim, é este o termo. “E tu não achas?” com longas contemplações à minha cara de parva à espera de resposta que não vem. Mas não faz mal, ela prossegue o rosário mesmo sem o meu acompanhamento. No fundo, está-se nas tintas para que lhe dê saída. Também ela pertence a um grupo de infindáveis membros, que assola a humanidade: os que adoram ouvir-se.
Jorge
O Jorge anda perdido. Mas o Jorge não seria o Jorge se não andasse perdido. A boémia está-lhe na essência das notas e das palavras geniais, alucinadamente simples. Não lhe perdoo as bebedeiras com gafes e os dedos nas teclas erradas só porque é o Jorge. Nem o exalto pelos refrães de “encostos” batidos, sem o arrepio da surpresa nos tons, nem poema sublime. Amo-o quando gritava “podem falar”, pela terra dos sonhos que criou nos meus próprios sonhos, pelas maçãs à espera do fim, pelo orgasmo na gruta ainda fria, que eriça os pelos pela crueza, as travessuras rebeldes de um Jeremias à margem, os sensuais pedidos de lume. Amo-o porque no final me incitou a ser uma mulher nova sem preconceitos, poder saber amar, ver no espelho os meus próprios defeitos, poder ter os ombros fortes para aguentar o peso da liberdade e o coração de leão para não ter medo de encarar a verdade. Deixar brilhar as estrelas no olhar.
O Jorge sabe do que fala, sabe que os vícios são prisões que embaciam as estrelas do olhar.
“Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo”
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Um português surreal
Alguém pediu Jorge de Sena?
E tremem no abrir-se a dentes línguas
Tão penetrantes quanto línguas podem.
Mas beijo é mais. É boca aberta hiante
Para de encher-se ao que se mova nela.
É dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
Irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
E sobretudo o que se oculta em sombras
E nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
Quanto de lábios se deseja."
Jorge de Sena, Beijo [in Antologia Poética]
Curtas [16]
Quase não consigo eleger a minha favorita mas, vá, nota 10 para a "Meio-dia não sejas triste". Perdoai-o, Senhor!
Descobertas giras! Ahah!
[em breve tê-lo-ão disponível na barra lateral. O blog, não o homem.]
terça-feira, 9 de junho de 2009
Da gestão espácio-temporal dos pensamentos e das emoções
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Ontem e hoje
Hoje o dia toca assim (já não os ouvia há que tempos, lembrei-me):
Para ver se arribo!
Laura
Sempre que a avó tem uma nova orquídea, chama-lhe Laura. Então far-lhe-ei este carinho por tudo o que recebo em troca todos os dias e porque gosto do nome. É bonito. Sossega-me.
Estados...
Segunda-feira. Dia cinzento. No 2x2 a trabalhar. Olhos pesados. Sono.
domingo, 7 de junho de 2009
Outros registos...
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Ele:
Eu te adivinhava
Eu te cobiçava
E, te arrematava em leilão
Te ferrava a boca, morena
Se eu fosse o teu patrão
Aí, eu tratava
Como uma escrava
Aí, eu não te dava perdão
Te rasgava a roupa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu te encarcerava
Te acorrentava
Te atava ao pé do fogão
Não te dava sopa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu encurralava
Te dominava
Te violava no chão
Te deixava rota, morena
Se eu fosse o teu patrão
Quando tu quebrava
E tu desmontava
E tu não prestava mais não
Eu comprava outra, morena
Se eu fosse o teu patrão
Ela:
Pois eu te pagava direito
Soldo de cidadão
Punha uma medalha em teu peito
Se eu fosse o teu patrão
O tempo passava sereno
E sem reclamação
Tu nem reparava, moreno
Na tua maldição
E tu só pegava veneno
Beijando a minha mão
Ódio te abrandava, moreno
Ódio do teu irmão
Teu filho pegava gangrena
Raiva, peste e sezão
Cólera na tua morena
E tu não chiava não
Eu te dava café pequeno
E manteiga no pão
Depois te afagava, moreno
Como se afaga um cão
Eu sempre te dava esperança
D'um futuro bão
Tu me idolatrava, criança
Seu eu fosse o teu patrão
Mas se tu cuspisse no prato
Onde comeu feijão
Eu fechava o teu sindicato
Se eu fosse o teu patrão
Chico Buarque, Se eu fosse o teu patrão in Ópera do Malandro
Aí está ele. Em grande.
Ela:
Eu nunca suspirei, nunca te adorei
Eu nunca quis saber, eu nunca te quis bem.
Eu fingi ter prazer, gritei...,pus-me a gemer,
Mas nunca desliguei pensei sempre em sair, fugir e me encontrar com estranhos nalgum bar, gozar...rir-me de ti.
Ele:
Eu nunca suspirei, nunca te adorei
Eu nunca quis saber, eu nunca te quis bem...
Mais que a um saco de prazer, um bicho de salão com modos de pavão.
Pensei em passear-te por galerias de arte na trela como um cão,
Um vicio, um precipício....
Cio.
Foi tanta porcaria, tornou-se natural
E por toda a cidade fez-se pratica normal,
Falar dos velhos tempos com grande exaltação,
Encher de fancarias a má de coração.
Tantos verões de amor azul como na televisão:
"Eu era uma princesa...actriz",
"E eu era um Rei feliz!".
Mente ao antigamente, mente...
Contente e constantemente...
Como antigamente.
in Boato
Jovens eleitores
Resposta: "O sentido estético para kant é desinteressado, pois aprecia-mos um rapaz apenas por ser giro não faz qualquer sentido, achamo-lo giro porque pode até ser o nosso genero, mas não o estamos a apreçiar pelo que ele é por dentro".
Caras amigas, tanto teclar em torno das mais diversas dicotomias que nos assolam as mentes à custa da temática das relações interpessoais, do caos emocional, do compromisso, dos afectos, desejos e protótipos ideais. Fiquei estarrecida perante este confronto duro de uma verdade que desde sempre nos atormentou, a nós, fêmeas inquietas. Um rapaz giro é só um rapaz giro. Pura estética fria, vazia de conteúdo ou profundidade de tal consistência que nos faça largar tudo e correr para os braços do dito sem olhar para trás. Reveste-se, este rapaz, de não mais que uma capa macabra para nos enfeitiçar por instantes fugazes, de prazer imediato, para mais tarde descobrirmos, como alertava Saint-Exupéry, que o essencial é invisível aos nossos olhos. No final desta reflexão alcança-se, então, a clarividência: o âmago interessante deste rapaz habita no seu interior, por dentro, vá. Ó futilidade humana que nos encarceras neste vício do deslumbramento mundano!
Afinal, sabemo-lo agora, Kant fora um acérrimo pensador das inquietações femininas…
Tocou-me este “apontamento” deixado pelo José Ricardo Costa, por aquilo que deveria ser e não é – uma resposta fundamentada em bases teóricas, com alguma reflexão pessoal –, pela já conhecida imagem de marca acusada pelos erros ortográficos e pelo facilitismo descaradamente assumido. Para mim é, acima de tudo, assustador.
sábado, 6 de junho de 2009
So girlie
Deixo aqui um "cheirinho"...
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Mudança de planos
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Lindo...
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra duma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
contínua e miudinha - não te assustes
são os teus antepassados que por um momento
se levantaram da inércia dos séculos e vêm
visitar-te
diz-lhes que vives junto ao mar onde
zarpam navios carregados com medos
do fim do mundo - diz-lhes que se consumiu
a morada de uma vida inteira e pede-lhes
para murmurarem uma última canção para os olhos
e adormece sem lágrimas com eles no chão
Al Berto, Incêndio
Divagações matinais
terça-feira, 2 de junho de 2009
Golpadas
Chamam-se "Os Golpes". Têm sangue torrejano, já por cá actuaram e contam com um destaque no Ípsilon. Toma embrulha. Pensei cá para mim que deveria ver do que se tratava, até porque a crítica parece bem favorável. Confesso que o nome me deixou logo pouco confiante na performance, mas isso sou eu com a mania das minhas impressões ao primeiro som. Tenho que concordar na aparente convicção e uma urgência impossíveis de ignorar, mas... não me convence. Fico contente que desta terra brotem espécimes com sangue na guelra, que acreditem no seu trabalho e que, de facto, tenham o talento para tal. Isso é de louvar, sem dúvida. Mas neste caso não consigo concordar com o Sr. Mário Lopes na observação começando pelo título e pela capa, foi pensado e criado como um manifesto - a primeira proclamação. Isso foi o que os Golpes elaboraram, com um atentíssimo cuidado pop que se revela nos pormenores. Ok, até pode ser verdade, mas a mim, humilde ouvinte, não me soa a mais do que remakes de estilos já batidos, apoiados em orgânicas de Strokes e afins, que quando aparecem rasgam por completo um panorama musical que não os esperava, revigorando a canalha sedenta de uma rockalhada à maneira. Parece-me que se continua a martelar na mesma tecla, tentando recriar fórmulas de sucesso. Existe, actualmente, um rol de bandas a roçar os mesmos toques, tiques e tons à espera do seu lugar ao sol. Apareceram, de facto, algumas boas bandas portuguesas, ultimamente, mas nem tudo o que é português, jovem e com grandes guitarradas é bom. De repente anda tudo em bicos dos pés a ver quem consegue sobressair mais entre o "mais do mesmo", fala-se imenso de novas bandas, destacam-se em rádios e jornais, porque há que falar das novas bandas portuguesas, dar-lhes espaço e tempo de antena. Também acho muito bem, só não acho lá muito bem que se aglomere tudo, misture e sirva com tempero e hortelã para ficar mais apetecível à massa consumista.
Declarações de amor
Lisboa que amanhece - Séergio Godinho