terça-feira, 9 de junho de 2009
Da gestão espácio-temporal dos pensamentos e das emoções
"É preciso sabermos regionalizar os pensamentos", disse ele com a autoridade que lhe conferem os seus 74 anos. Fazíamos a viagem de regresso à nossa segunda casa e mesmo quando ele já falava de expressões nortenhas ou da luta da burguesia portuense do seu tempo por um lugar ao sol, a frase que proferira antes não deixava de assolar-me o pensamento. Acrescentei que também com as emoções precisamos fazer esse trabalho que é, por vezes, doloroso, mas que prima por constituir uma boa forma de educar a ansiedade. Concordou. O problema é que, a ser verdadeira a premissa de que partimos, ele há 42 anos e eu quem sabe um dia, é preciso ter também em atenção a gestão temporal desses mesmos pensamentos e emoções, pois de que nos vale arrumá-los bem arrumadinhos, se os repescamos a todo e qualquer momento intencional e/ou inconscientemente? Há quem diga que é possível viver assim: com tudo arrumadinho em gavetinhas, bem etiquetadas [como as que se põem em caixas com "roupa de cama de inverno", "lençóis de verão"...], claro, que abrimos voluntariamente quando nos apetece pensar ou sentir isto ou aquilo. Posso até entender, mas o maior das vezes parece-me que não são mais que puros mecanismos de protecção que nos dão a ilusão de um absoluto auto-controlo e, por isso, nos confortam. Caixas de pandora que, pelo sim pelo não, é melhor mantermos fechadas, não vá o diabo tecê-las...
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