sábado, 27 de junho de 2009

O poeta é um sofredor


"No teu deserto" tem 128 páginas e segundo o escritor é "quase um diário de viagem" ou "quase um romance de amor". Foi um livro que escreveu "essencialmente pelo muito prazer de escrever" e que lhe causou menos sofrimento do que a escrita dos livros anteriores.

Sempre achei uma certa piada a esta ideia dos escritores que sofrem imenso para escrever um livro. Parece que fica bem dizer isto, dá ideia de um ser altruísta que se prejudica para o bem dos outros. É duro o processo de escrita mas elevará a plebe. Que presunção! Quem escreve tem que escrever por gosto ou, pelo menos, por algum bem que isso lhe traga – nem que pelo tal exorcismo de inquietações e dores. Claro que escrever sobre certos temas é obrigarmo-nos a pensar neles, revivê-los para os saber descrever o melhor possível, principalmente os mais difíceis, mais dolorosos. Mas até neste sofrimento existe libertação, a sua consciência e vontade. Consoante esses mesmos temas e o modo como são escritos temos, nós leitores, mais ou menos prazer em ler as suas palavras. Sem dúvida que podem ser de tal forma poderosas que conseguem mudar vidas ou concepções do mundo, mas essa mesma importância a essas mesmas palavras é atribuída por quem as lê, não pelo escritor. Irritam-me estas expressões de pura altivez, como se soubessem do poder que podem exercer e o proclamassem donos e senhores de destinos alheios. Não me agrada de todo, cheira-me a cenário emproado ou a laivos de diário de adolescente. Não sei… desconstrói-me o conceito que eu quero de livro.

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