O Jorge anda perdido. Mas o Jorge não seria o Jorge se não andasse perdido. A boémia está-lhe na essência das notas e das palavras geniais, alucinadamente simples. Não lhe perdoo as bebedeiras com gafes e os dedos nas teclas erradas só porque é o Jorge. Nem o exalto pelos refrães de “encostos” batidos, sem o arrepio da surpresa nos tons, nem poema sublime. Amo-o quando gritava “podem falar”, pela terra dos sonhos que criou nos meus próprios sonhos, pelas maçãs à espera do fim, pelo orgasmo na gruta ainda fria, que eriça os pelos pela crueza, as travessuras rebeldes de um Jeremias à margem, os sensuais pedidos de lume. Amo-o porque no final me incitou a ser uma mulher nova sem preconceitos, poder saber amar, ver no espelho os meus próprios defeitos, poder ter os ombros fortes para aguentar o peso da liberdade e o coração de leão para não ter medo de encarar a verdade. Deixar brilhar as estrelas no olhar.
O Jorge sabe do que fala, sabe que os vícios são prisões que embaciam as estrelas do olhar.
“Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo”
A gente vai continuar
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