sexta-feira, 12 de junho de 2009

Acudam

Já não a posso ouvir. Tem aquela maneira agreste de falar que empobrece a beleza de uma frase como “na sê da nha mãe”, à la terrinha que muito prezo. Apanha-me desprevenida, deixa-se ficar mesmo quando finjo concentração em meros fóruns de opinião sobre se o gaiato dentro do bandulho ouve a mesma música que a mãe ouve, mas com auscultadores – que, acrescente-se, trata-se de um tema esmagadoramente inquietante e que só uma mente como a minha, em dias como este, poderia despertar. A dita passa e eu disfarço, sempre que posso, mas não resulta. Matraqueia-me os ouvidos com os mais variados temas, desde o novo caso Alexandra-coitadinha-arrancada-aos-pais-adoptivos-como-a-outra-daqui-pobres-crianças-que-não-têm-culpa-mais-valia-terem-feito-logo-um-aborto e outras temáticas como a mudança-de-óleo-que-já-não-faço-há-que-tempos-e-qualquer-dia-arranjo-um-problema-qualquer-ainda-por-cima-com-as-viagens-que-faço-até-chegar-aqui-e-o-calor-e-não-sei-quê.

E isto dura-me umas horas, sem que eu tenha hipótese de fuga. Fico exaurida. Sim, é este o termo. “E tu não achas?” com longas contemplações à minha cara de parva à espera de resposta que não vem. Mas não faz mal, ela prossegue o rosário mesmo sem o meu acompanhamento. No fundo, está-se nas tintas para que lhe dê saída. Também ela pertence a um grupo de infindáveis membros, que assola a humanidade: os que adoram ouvir-se.

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