segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

O Boletim Meteorológico (2)


Botas, Van Gogh, 1887

Parecia que estava a adivinhar chuva... Ele, o Instituto de Meteorologia, bem disse que não garantia por quanto tempo brilharia o sol em pleno Inverno, mas vir assim um dilúvio de um momento para o outro, sem que primeiro fosse dado o alerta laranja? E o mais estranho é que desta vez os meus joelhos não deram sinal de mudança do tempo, eles que são sempre os primeiros a precaver-me. Realmente tenho aqui uma dor chata nas costas, às tantas mudaram-se os videntes um pouco mais para cima, estavam fartos daqueles joelhos feios. Mas, insisto, eu que todos os dias vou à página do Instituto [ao contrário do que ele pensa, todos os dias passo lá a dar uma espreitadela só para ver como param as modas e acabo sempre por me deixar demorar em memórias dos dias e noites de Verão que já tivemos, e o corpo aquece...], não teria o direito a ir sabendo das mudanças deste clima que, a bem da verdade, foi sempre mais para o tropical? Ora chove, ora faz vento, ora está um calor de ananases, ora volta a chover sem se perceber bem por alma de quem...
No fundo, até se percebe: como é Inverno, o sol espreita sempre a medo, acena lá por entre as nuvens e de vez em quando ainda consegue pôr-lhes uma acção de despejo e lá vão elas fazer da vida de outros um tormento. E entretanto, habituamo-nos a tê-lo a brilhar na cara logo de manhãzinha e, como se não quisessemos acordar de um sonho, abrimos os olhos devagarinho até percebermos que é verdade, que o sol brilha ali só para nós, e desatamos em abraços apertados e beijos demorados desejando que assim permaneça por muito tempo. Por isso, vamos cuidando dele com carinho. Até porque os dias vão ficando maiores e ele gosta de sentir-se em casa... Mas este é o tempo das chuvas e as nuvens voltam a atacá-lo e ele, sempre um bocado confuso, lá se vai deixando levar pelo negrume dos dias cinzentos. E como nunca diz que quer ficar e que até gosta de brilhar aqui por estas bandas, prefere não arriscar e vai-se deixando levar conforme as ordens das nuvens que ainda pairam sobre a sua cabeça. Ele é que às vezes se esquece do quanto gostamos que brilhe para nós... Só já não sei se irei a tempo de lho lembrar.

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