terça-feira, 29 de janeiro de 2008

É para amanhã...

Viver não é parar: é continuamente renascer. As cinzas não aquecem; as águas estagnadas cheiram mal. Bela! Bela!, não vale recordar o passado! O que tu foste, só tu o sabes: uma corajosa rapariga sempe sincera contigo mesma.
E consola-te que esse pouco já é alguma coisa. Lembra-te que detestas os truques e os prestidigitadores. Não há na tua vida um só acto covarde, pois não? Então que mais queres num mundo em que toda a gente o é... mais ou menos? Honesta sem preconceitos, amorosa sem luxúria, casta sem formalidades, recta sem princípios e sempre viva, exaltantemente viva, miraculosamente viva, a palpitar de seiva quente como as flores selvagens da tua bárbara charneca! [Florbela Espanca, Diário - 12 de Janeiro de 1930]

Mais uma vez a Florbela... Não que lhe conheça a vida e obra por aí além, mas encontrei-a mesmo na altura certa. Ontem foi dia de partilhar da sua amargura, hoje de exaltar os dias que passam plenos de emoções e de corpos fervilhantes. O que hei-de fazer com esta seiva que me percorre, quente, e me não deixa concentrar por querer partilhá-la hoje, contigo?

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