quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Eu, sem luz nem cor

Ela ligou-me ontem e disse "foi-se a luz e a cor". Recordámos juntas que alguém tinha já escrito isso um dia [também sabes quem foi]. Falámos pouco, ela estava de poucas conversas, apetecia-lhe tão-só saber que me tinha do lado de cá a respirar com ela. Mas mesmo assim contou-me tudo, desde o início dos tempos [como se não me tivesse contado já não sei quantas vezes essa história, sempre com um sorriso malandro e sincero na cara]. Desde a madrugada entre amigos em que ele decide começar a falar-lhe [aos anos que se conheciam...]. Contou-me também das mensagens que trocaram, da primeira vez que saíram sozinhos [é engraçada ela, o que ela inventou para poder estar com ele nessa noite de sexta-feira...], do concerto que viram juntos, da viagem que fizeram bem coladinhos um ao outro, do dia seguinte depois de um outro concerto em que ele desaparece e só horas depois, quando ela já estava em casa, é que dá sinal, o fugitivo. Contou-me das sextas e sábados que se seguiram e contou-me também que o seu respirar quando ele está por perto começa a ser descontrolado e que ele lhe faz pele de galinha. Contou-me, enfim, da primeira vez que se beijaram [ao que se seguiu um silêncio longo, penso que estava ainda a saborear o seu beijo], dos abraços apertados, dos olhares penetrantes, dos sorrisos e das noites mal dormidas. Contou-me das maçãs do rosto! Do difícil que começa a ser para ela os dias em que o não pode ver, as razões por que não pode abraçá-lo a toda a hora e quando bem lhes apetece. Das razões por que lhe não diz mais vezes que o gosta e o quer, tentando assim proteger-se, pois as palavras que lhe ouve não são muitas também. Mas que ela tem vindo a apaixonar-se por ele a cada dia, sei eu bem. Contou-me daquela conversa chata: tinha chegado a hora. O que lhe custou essa conversa, o pensar que o tinha perdido, os dias seguintes... O que gostou ela de terem combinado encontrar-se uns dias depois e dos beijos e abraços que se deram ainda mais apertados do que antes. Ela sente que ele a quer bem. Contou-me dos dias felizes que se seguiram, mesmo longe um do outro. Do dia em que ele lhe disse que ia fazer-lhe uma surpresa, não fosse ela uma curiosa do pior obrigando-o a antecipar as boas novas. Da vez em que ele só voltou para casa no dia seguinte, dormiram juntos, escondidos e foi muito bom! Contou-me da tarde que passaram juntos, do jantar com os amigos, da vontade que ela tinha de dizer-lhe "quem dera poder ficar contigo hoje, amanhã e depois de amanhã, até querermos" [mas não lhe disse...]. Contou-me da última noite em que estiveram juntos [ainda nos fomos rindo um bocado...].

Contou-me do dia em que ele foi passear com os amigos e do dia seguinte em que não apareceu para passear com ela. Disse-me do aperto no peito, da vontade de chorar, de o ver ["infelizmente nem sempre as coisas correm como queremos", disse-lhe ele]. Disse-me ainda dos votos de bom ano que lhe fez, cheia de vontade de lhe dizer "o que eu queria era estar aí contigo, seres a primeira pessoa a abraçar no abrir de 2008, vou largar tudo aqui, vens buscar-me?", mas não estavam a ouvir-se bem e decidiram desligar. Contou-me da mensagem que ele lhe mandou quase de manhã e da resposta dela e da insistência dela já ao fim do dia em saber dele e da resposta seca dele e das perguntas que ela lhe fez e da resposta triste que recebeu dele. Contou-me das horas que passou sem dormir depois dessa resposta, da vontade que tem hoje de estar em silêncio fechada num quarto escuro, da vontade que tem de sair sem dizer nada a ninguém. Contou-me da injustiça que é ele pôr um fim nisto tudo sem sequer poderem conversar, sem sequer ela ter tempo de lhe dizer que gostava de tentar, mas que para isso precisa de alguns dias...

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