Fire, Yves Klein
Contámos estórias das quais já conhecíamos o final. Contámos segredos que nunca escondemos. Contámos piadas só pelo prazer de rir. No turbilhão dos corpos brilharam os perfis na luz do fogo à nossa frente e o tempo passou sem darmos conta. Descobrimos cada recanto do nosso espaço evitando os becos que poderiam não ter saída, por nos aprisionarem e ameaçarem com armas invisíveis.
Abriram-se hipóteses, pernas, risos, almas, dúvidas, bocas e afins. Demos as mãos no grito enquanto se misturavam os suores e os licores, e se libertavam odores de estranhos incensos e velas. As palavras sussurradas entre suspiros, num mergulhar interrupto, húmido de genuinidade, afogaram-se quando despontou a luz do dia e regressou o nevoeiro que não chegou a esfriar o desejo. Eis que o Homem Brisa reincorpora a dureza objectiva e impenetrável, metamorfoseando o sonho em pequenas lascas.
Nunca as nossas tintas tingiram a tua tela, pintor. São pálidas demais para colorir as estórias que delineámos. Porque já se ouvem os primeiros acordes da próxima valsa e urge acertar o passo, sob pena de tropeçar na correria dos supostos. O sangue desceu e a cabeça orienta-se depois do voo em espiral. Os olhos ainda encontram bocas, mas delas saem línguas que já não entendemos e arrumam-se ideais perigosos, bem guardados, para apenas se voltarem a resgatar em noites assim. De lenha e fogo. Quando a fantasia pedir alimento, se rasgarem os “ses” e se ouvir a claquete – “Acção!” para o que não chegaremos a realizar.
“Maria, tenho a certeza que o prazer das mulheres é o quebra-cabeças favorito de Deus.”
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