Os domingos oprimem-me. Desde miúda que abomino este dia. É dia de neura, de tédio, de ressaca, de ficar a bezerrar à tarde no sofá a ver o filme da tanga, de pensar no que não se deve, de arrastar as poucas horas que faltam para voltar ao trabalho, de regressar ao reboliço da grande cidade. A partir daqui entro numa nova dimensão. Os pensamentos que me voam na mente, enquanto viajo de mãos ao volante, traduzir-se-iam certamente numa extensa colectânea de romances, divagações filosóficas, contos infantis ou, quiçá, poesia erótica. Se a tais elementos adicionasse, então, banda sonora – que consta impreterivelmente em qualquer viagem – tínhamos guião para filme, na certa.
Sempre em concha, mas a fervilhar de/para o mundo.
Por aqui sofre-se em silêncio. Chora-se baixinho, no escuro, escondem-se os olhos inchados e disfarça-se a voz arrastada. Sempre foi assim, porque sempre se viveu assim e não se conhece outra forma de ser. Mas chora-se, sim. Depois curam-se as dores com os dias enquanto estoicamente se travam lutas interiores. Só quando esta massa está bem misturada, e mil vezes peneirada quase pó, nasce o sorriso sem sombra. Até lá não desarma. Não é tão luzidia, é um facto, bem sabe que não há-de tardar a surgir outro combate inesperado, é outro facto, mas continua a não existir melhor profilaxia/terapia que o sorriso.
E vai de regressar à produção de enredos fantásticos! O que eu me divirto…
"Amanhã não estaremos aqui,
veja se bebe um pouco e sorri
E tira esses olhos do chão!
O futuro é lindo: eu já vi!
O avião vai directo para lá!
Vamos embora dessa aflição!"
São Paulo 451, Belle Chase Hotel
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