segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Penúltimo

Desta janela via-se o sol. Iluminava todo o espaço em redor e ia além das fronteiras destas quatro paredes. Havia luz suficiente para aquecer todas as casas da aldeia e os corações de todos os habitantes. Certo dia vieram as trevas de mãos dadas com o bicho horrível com um olho na testa - a mentira. E tudo mudou. Passou a ser sempre noite e a alegria de viver nesta casa com vista para o sol, foi-se durante muito tempo. Para sempre? [Responde-me, por favor.]
Fiquei sozinha. Apaguei eu própria a luz que me ilumina os dias. E tanto que me avisaram... Não o fiz por mal, pelo contrário, achava que assim não te faria sofrer. Porque aquelas palavras não traduzem o que pensas. Era isto que gostava de dizer-te. Tenho duas testemunhas: as duas pessoas que me conhecem melhor. Estão e estiveram sempre presentes na nossa construção e sabem o quanto te quero bem. Vêem-me a crescer contigo. Sabem que o que não nos mata torna-nos mais fortes e eu não quero morrer nem que me morras tu nem que morramos nós. Ajuda-me a reconstruir-me. Limpa, pura. Ralha-me, fica triste, mas perdoa-me. Assim não vivo. Ouve-me. Fala, grita, mas devolve-nos a vida. Não sei ser sem ti. Deixa-me amar-te melhor. Ajuda-me a perdoar-me. Volta!

Iras abafadas

Falar cinco línguas vivas e duas mortas não traz a felicidade a ninguém. Acreditar que o conhecimento é um anel de brilhantes no nosso dedo, é mentira. Tirar de nós para dar a outrem, é inútil.Há mulheres, juro por Zeus olímpico que as há, que dão cinco erros ortográficos por cada palavra que escrevem, que julgam que os irmãos Karamazov jogam no Vitória de Setúbal,cujo quociente de egoísmo é bem mais alto do que o da inteligência. E, vá lá compreender-se porquê, conseguem, num ápice, o que outras matariam para conseguir."-Mundo muito mal feito,senhor Afonso da Maia, mundo muito mal feito." Diria Vilaça n'Os Maias.Agora, caríssimos leitores e, sobretudo, leitoras, restam duas hipóteses:1. Bater com a porta. Há um inconveniente: as portas modernas, ao contrário da estreiteza das celestes, passaram a ser demasiado pesadas2. Guardar a mágoa. Aquela mágoa que nem no leito de morte se perdoa.


Nem mais. Ler estas palavras relembrou-me o hálito fétido daquilo que conheço de gingeira, daquilo que tenho que gramar todos os dias, daquilo que preferia não ter sequer que ser obrigada a enfrentar, daquilo que me cansa e me distrai do que verdadeiramente interessa. Mas relembrou-me também que é o pão nosso de cada dia e que pode haver uma 3ª hipótese: ir à luta ainda que não saibamos como, por mais que os intervenientes não nos mereçam o esforço, por mais que isso nos tenha que ser arrancado das entranhas a ferro e fogo, porque não está naturalmente em nós. Sim, aquela mágoa envenena mais do que se imagina e corrói até à podridão.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Em homenagem

Benazir Bhutto

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

sábado, 20 de dezembro de 2008

Está muito bom!



Salvem os ricos, Contemporâneos

UPA


Alguém me Ouviu (mantém-te firme), Boss AC ft Mariza [da iniciativa UPA 2008 - Unidos para Ajudar]

Chorei
Mas não sei se alguém me ouviu
Enão sei se quem me viu
Sabe a dor que em mim carrego e a angústia que se esconde
Vou ser forte e vou-me erguer
E ter coragem de querer
Não ceder, nem desistir
Eu prometo

Busquei
Nas palavras o conforto
Dancei no silêncio morto
E o escuro revelou que em mim a Luz se esconde
Vou ser forte e vou-me erguer
E ter coragem de querer
Não ceder, nem desistir
Eu prometo

Nem de propósito... Há dias ofereci-te a letra, agora deixo-te a canção. Bonita. Como tu. Obrigada.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Entre linhas

Bom, quando se aproveita a finalidade para passar mensagens maiores, para além do óbvio. Uma dica do perfeito soneto.


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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Viver no fio dos dias

Contaram-me que estão com problemas financeiros. Coisa feia, pelo que me foi dado a entender. Que as relações familiares também já tiveram melhores dias. Oiço atentamente os narradores desta saga que teima em não terminar e pergunto-me quando virá a bonança para quem tudo tem feito por um lugar ao sol. Falam-me da esperança que, persistentes, ainda acreditam que é a última que morre. Vejo, porém, o desespero que lhes vai no coração. Tudo porque um dia quiseram valer a alguém que lhes fugiu da vida sem mais nem menos depois de a ter deixado no caos de que ainda hoje tentam erguer-se. Penso que não é justo. Perguntam-me se posso ajudá-los. Respondo que sim, claro que sim. Não sei bem é como.
Procurei o pote de ouro no fim do arco-íris há dois ou três dias atrás, não o encontrei. Corri laboratórios em busca do elixir da eterna juventude no desejo de os ajudar a tornarem a ser jovens e, por isso, mais fortes, responderam-me que desconhecem a fórmula. Procurei outro emprego por toda a cidade e cursos intensivos de terapia familiar, encontrei portas fechadas e gente demasiado ocupada com a sua própria vida.
Concluo, enfim, que a resolução terá que vir de dentro. De cada um de nós [porque sempre fui parte desta história] e de todos, como para o D'Artagnan e os Três Mosqueteiros. Esboçamos as resoluções possíveis e uma destaca-se como a mais viável. É, contudo, a que nos deixará a todos mais pobres: um de nós fará as malas e partirá por algum tempo atrás do sonho de um dia podermos todos sossegar...

sábado, 13 de dezembro de 2008

Força da natureza

Só por curiosidade procurei na internet o significado do nome Maria e, admitindo, embora, que nem todas as marias encaixem no perfil que encontrei, aquela a que aqui me refiro é, sem tirar nem pôr, a senhora "soberana", serena, dona de uma grande vontade de viver. Não sei se haveria alguém que desempenhasse tão bem o seu papel. Provavelmente há e para muitos o que acabo de dizer não passa de um cliché. Pois, para muitos, para mim não. Para mim é a pessoa mais bonita que conheço e a possibilidade de deixarmos de partilhar o dia-a-dia deixa-me aparavorada. Conto-lhe esta verdade, mas sorrio logo depois porque acredito que o que me diz querer fazer é, de facto, o melhor. Obrigada por tudo!

We are the angry mob

"We are the angry mob. We read the papers everyday. We like who we like, we hate who we hate. But we're also easily swayed."


The angry mob, Kaiser Chiefs

[Covilhã, 1927 - Lisboa, 2008]

António Alçada Baptista
[Fotografia de Adriano Miranda in Público, 07.12.08]

O Tecido do Outono, Catarina ou o Sabor da Maçã e O Riso de Deus [um dos livros da minha vida], por ordem cronológica de leitura. Qualquer deles, livros de escrita simples e ao mesmo tempo tão complexa porque cheia de afectos e sensibilidades.

O eu é deixado a nú sem despudor de dele se deixarem às claras as alegrias e tristezas, as angústias, as excitações e os voyeurismos, os amores que não seriam bem vistos mas que mesmo assim Alçada Baptista concretiza [como o de Francisco com a sobrinha Mónica em O Riso de Deus, que o escritor deixou irem para além das conversas e concretizar toda aquela ternura num beijo], o choro e o riso...

Obrigada ao escritor que me ajudou a ficar em paz comigo.

"Tudo me leva a crer que as marcações que nos deram para o desempenho da vida passam ao lado do caminho por onde os nossos afectos poderiam fluir conforme o que está inscrito no mapa oculto do ser humano. Pressinto que continuamos fora do essencial e que as razões das circunstâncias - que, muitas vezes, são poderosas e reais - só servem para nos afastar dos enigmas que estão à frente das coisas e que nos caberia decifrar. Por, algumas vezes, até parece que a simplicidade emana do andamento da vida e que bastaria um pequeno gesto de espírito para passarmos para o lado de lá de tantas incomodidades que nos fazem viver como se tivéssemos calçado dois números abaixo da forma da alma." [O Riso de Deus, p. 13]

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Segredos delas


Fantasias Eróticas - Segredos das Mulheres Portuguesas, Isabel Freire


35 anos. Heterossexual.

"Imagens ou situações eróticas muito excitantes? Estar num sítio público com um desconhecido. Junto a um balcão de um bar, por exemplo. E ele começar a meter a mão entre as minhas coxas. E eu deixar, claro. Estar deitada na praia e chegar alguém que, sem pedir licença, começa a tocar-me. E eu deixar, claro. Acho que me excita mais ser possuída - às vezes imagino, enquanto estou a ter relações, que não quero e estão a forçar-me."

E vocês?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A falta que um homem faz!

Nós até somos bem desenrascadas, mas um homem na nossa vida faz cá uma falta... Ainda ontem nos deparámos, duas mulheres, no coração da cidade e ansiosíssimas para chegar a casa, perante a nossa viatura que acabou de completar um decénio, completamente afónica. Demos à chave umas boas dez vezes e nada. Nem um pio... Pedimos ajuda e lá vieram cinco jovens-adultos engorrados (neologismo) e bem dispostos empurrar a carrimpana: "Se tu engata a terceira é melhor, dá mais força e carro segue logo". "Não é a terceira seu burro, é a segunda; a senhora mete a segunda e dá à chave que nós empurra". Amorosos e persistentes, embora tenham sido inglórios os 15 minutos de incasáveis tentativas.
Seguiram-se 20 minutos em espera na linha de assistência 24 horas por dia, o pedido do reboque, a sua bendita chegada 1 hora depois e foi ver cabos a darem choques eléctricos naquele burro cansado e sem voz. Até que falou, baixinho, mas falou e rumámos a casa, com a advertência de que quando parássemos dificilmente voltaria a falar, pelo que o melhor seria deixá-lo à porta do mecânico. No meio disto tudo... Os homens fazem falta porque "panicavam" menos que nós, mas a verdade é que com ajudinhas daqui e dali até nos safámos bastante bem!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A duas mãos pelo 1.º aniversário!

Parabéns pelo teu 1.º aniversário!
A olhar à tua tenra idade ninguém diria que tens já tantas histórias para contar, mas a verdade é que, precoce, começaste a falar assim que nasceste. Pensámos que se esgotassem as fontes da tua imaginação logo ao cabo de alguns meses, mas surpreendeste-nos! Continuas por cá fresco que nem uma alface e, apesar das inúmeras aventuras que já contaste, ainda não se te encontram a velhice ou os cabelos brancos. Fizeste-te forte, afinal!
Cheio de alegrias e tristezas, alternando entre épocas de andanças imensas e silêncios retemperadores, mas sempre a erguer o queixo depois do mergulho. Provavelmente muitas vezes te repetiste e te tornaste mais autêntico, muitas outras te revelaste ao impensável apenas porque é disso que te fazes. É isso que és. No fundo, ainda e sempre uma criança a dar os primeiros passos. Na tua Mátria.

Auto-retrato

Espáduas brancas palpitantes:
Asas no exílio dum corpo.
os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés tem um coração de louça
quebrado em jogos infantis.




Natália Correia

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O meu orgasmo é empertigado.

Altaneiro, dá-se quando bem entende. Esconde o potencial curandeiro, os mistérios celestes que encerra e acha-se dono e senhor da sagacidade suprema do prazer excelso. Altivo, não me obedece. Exige o tempo, o espaço e o tacto consoante seus pressupostos aleatórios. Desconcentra hipotálamos, requer semi-suavidades, pressões cirúrgicas, e ritmos ao compasso. Lança a varinha, inventa palavras mágicas, distorce intentos e recria novos dogmas a cada instante. Só em dias de extrema generosidade se multiplica, muito porque precisa de atenções e dar nas vistas depois de longos silêncios. Diz-se diferente, que não se mostra por dá cá aquela palha, porque se acha magnificente demais para se exibir sem a troca do sacrifício, qual divindade pagã que transacciona bonança por sangue. Depois expande-se glorioso, seguro de seu poder macumbeiro. Exorciza intervenientes, liberta-lhes demónios carniceiros e faz-se ouvir aos quatro ventos, para se vangloriar dos feitos concebidos. Enfeita-se, vaidoso. Enleia-se de adornos, de requintes, de ais, de meles e suspiros rematados em contorções, em gestos rituais de louvor.

Quem me manda adorá-lo? Mimei-o demais.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Ringalim, Ringalim todos vão ouvir as campainhas!


Canção da Campainha, Rua Sésamo

Mãozinhas de fada

É coisa que não tenho. Nosso senhor dotou-me de algumas qualidades dentro deste conjunto pequenino e roliço, mas uma delas não foi, de todo, os dotes para trabalhos manuais. Pois que nesta época tão bonita e festiva e de união e perfeição e etc. em vão me solicitam embrulhinhos simétricos, sem vinco.

Lamento.

O laço previamente feito ainda vai, agora o resto é para esquecer. É vê-la de trombil tingido de brilhantes do papel reluzente, a cortar o papel mais torto possível, a enrolar a fita cola, a dobrar as folhas com livros em cima, a deixar pontas soltas e amarfanhadas. Mas atenção: sempre, mas sempre com um ar profundamente convicto do trabalho exímio que se está ali a desenvolver!

Só a cara de desprezo das pessoas a olhar para estas mãozinhas de fada é que me leva a pensar que, se calhar, não é bem assim.

Ninguém diria!

sábado, 29 de novembro de 2008

Entre aspas literárias #3

[…]
Já estavam separados antes do acidente. Quinze anos e dois filhos. A páginas tantas, ela agarrou nos miúdos e foi para casa dele. Para o ajudar na recuperação. Também não podia ser o contrário, ela não tinha casa, vivia na casa da mãe.

Ela dormia no escritório, ele no quarto que já fora de ambos, os miúdos nos respectivos. As rotinas eram as de sempre: cada um ia à sua vida. Menos ele, que ficava a remoer. O acidente custou-lhe a perna esquerda e várias lesões na coluna e muitas dores. Avulsas. O olho esquerdo ficou com a capacidade reduzida a 20 por cento, mas o pior foi a cabeça: tornou-se neurasténico, amargo e amigo da garrafa.

Observava-a nas rotinas. Ela tinha agora 40 anos e arranjava-se muito mais do que quando estavam casados. Calças discretamente justas, cabelo apanhado e era capaz de jurar que usava maquilhagem. Um leve tom. Os diálogos eram mínimos, muita secura a recordar o tempo da separação. Ele via-a assim e imaginava o que lia nas revistas. A nova vida das mulheres divorciadas, homens mais carinhosos e interessantes e essas merdas todas. E bebia.

Ela usava o roupeiro do antigo quarto comum, do quarto onde ele vegetava. Por duas vezes, fingindo-se adormecido, observou. Viu-a entrar vinda do banho, só com a toalha enrolada no corpo; viu-a escolher as cuequinhas: novas, brancas e com um debruado elegante. Viu-a calçar uns sapatos e vestir uma roupa que não conhecia, como quando iam jantar fora. Nos bons tempos. Nesse dia ela estava menos apressada.

Irritava-o de morte ainda ter vontade de a comer. Enquanto estiveram casados nunca lhe interessou outra mulher. Depois do acidente ficou convencido de que ela já não o queria. Os homens são assim, presos ao corpo. Arranjou-lhe casos, desconfiava e ela fartou-se; ou talvez tivesse tido mesmo um caso. Nunca chegou a saber. Ficou sozinho a remoer as maleitas. Estava-se nas tintas.

Ela estava pronta e devia ter saído do quarto. Não saiu. Ele abriu mais o olho bom e viu-a fazer algo completamente inesperado: abrir a blusa e sorrir, um sorriso meio envergonhado e provocante. Outras zonas adiantaram-se ao cérebro e tomaram a dianteira. Sentou-se na cama, sentou-a ao seu colo e tirou-lhe a blusa. Ela tirou o soutien, enrolou-o no pescoço dele e beijou-o. Muito, muito devagar. Ele sentiu a língua dela, imigrante e desesperada, e ficou doido. Estava indefeso, como ficava sempre que ela respirava vontade de foder. Noutros tempos.

Ela deitou-se de bruços, levantou a saia e ronronou. Sinal para a cavalaria.

Saboreou-a lentamente, surpreendido com o seu autocontrolo. Não se estraga com voragem um met especial. Percorreu-lhe com os dedos o cabelo, as costas e as nádegas, com suavidade tensa. Depois entrou, pedindo licença, e julgou que tinha o controlo. Não tinha.

Enquanto ia e vinha não conseguia abstrair-se totalmente. Ela estava apetitosíssima, mil por cento descontraída, mas ele pressentia um fio de estranheza. Se as coisas eram assim, por que estavam separados? Se ela se oferecia assim, por que raio o tratava como uma criança birrenta?

Nestas coisas há prioridades. A amígdala, uma pequena ilha cerebral, comanda as tropas e as cautelas vão-se. Morra gato, morra farto.

O fim veio certo como todos os fins. Rolou para o lado e examinou-lhe o cabelo, basto e negro. Estava mais bonita. Continuava de bruços e olhou para ele de soslaio e sorriu. Devia haver um código de bandeiras, como no mar alto, para o sorriso das mulheres.

“Nunca pensei que estivesses a precisar disto”, disse ele com a graça de uma toupeira. Ela voltou a sorrir e respondeu: “Não precisava. Vê lá se te portas melhor agora.” E levantou-se e saiu do quarto e foi a última vez que estiveram juntos.




Uma cena de sexo, Filipe Nunes Vicente, in Ler, Dezembro 2008

Como fazer a publicidade "apetecer"? #2


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Dias úteis

Adoro dias cinzentos. Já nem me refiro à minha intensa atracção pela chuva, porque dessa já houve pano para mangas. O céu negro é de uma beleza que me conforta, quando há menos luz e nos refugiamos à procura de algum calor, onde se denotam melhor os contrastes, os contornos. Não sei se por reflectir o meu lado mais soturno, de me deleitar em alguma melancolia, se por ter nascido no mês das primeiras chuvas e dias… assim. Acalmo. Gosto da sombra, da pouca claridade que esconde os defeitos e nos permite deambular livremente, mais confiantes no derreter de certas loucuras porque menos visíveis. Gosto do frio por implicar a busca daquilo que nos aquece, mais do que aquele calor que surge sem sequer nos perguntar se o queremos. Gosto das nuvens pelo mistério que envolvem, pelos abismos que escondem, como se em nosso redor existisse apenas o que conseguimos ver.

E [se calhar] porque sei que dentro em breve o sol volta a espreitar.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Mário Crespo entrevista António Lobo Antunes

A sério que já tentei escrever alguma coisa que traduzisse o que senti ao ouvir e ver a entrevista de Mário Crespo a António Lobo Antunes, mas... palavras para quê?


Parte I


Parte II


Parte III

Embora não possamos afiançar dos sentimentos e emoções de entrevistador e entrevistado e, muito menos, possa concretizar o que eu própria senti, as novas tecnologias são amigas porque nos permitem ver e rever vezes sem conta aquilo que nos faz bem. E esta entrevista faz-me bem.

Dois grandes senhores numa conversa descontraída [embora seja visível o nervosismo de Mário Crespo], verdadeira, bonita. Uma conversa de sensibilidades e palavras usadas, de ambas as partes, com todo o cuidado e carinho. Admiro o trabalho de ambos, mas como acontece com todos os ídolos que temos, junto bocadinhos do meu imaginário à realidade que conheço da vida do António Lobo Antunes e torno-o assim o meu protótipo de escritor.

Nota máxima também para a frase que traduz o agradecimento do entrevistador pela presença e disponibilidade do escritor: "Foi bom vê-lo aqui hoje". Delicioso!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Cosmocópula

I

Membro a pino
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras.

II

O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso de água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro.

(Inédito)

Natália Correia, in Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Paris, je t'aime*

"Mais tarde, acabei por compreender que Paris é uma estufa quente de ideias e que as pessoas procuram aproveitar da vida tudo o que é possível. Ao pé desta cidade, todas as outras se tornam pequenas. Paris parece grande como o mar. Mas deixamos lá sempre um grande pedaço da nossa vida." [Vincent Van Gogh]


Um dia hei-de voltar a Paris como quem volta a casa!

Place du Tertre

*já agora vale a pena ver o filme que dá nome ao post

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Aqui à porta como um quadro

Janelle Monae


Chamam-lhe Outkast no feminino. É bem capaz, mas, na minha opinião, com uma sonoridade muito melhor, nem que seja pela voz. Possante, melódica… toda a música é uma onda, onde nos deixamos deslizar, ondular nos turururu’s das backvocals, quase com laivos orientais.
Para além do som me remexer as entranhas, acho aqui a Janelle com pinta de cyberfeminista, com uma picadela de olho à Donna Haraway e ao seu Cyborg Manifesto. Uma hibridez de género, com referências à expressão pelo self independente do sexo, do estereotipo, descolando capas pré-concebidas que rotulam comportamentos e formas de ser. Até o cabelinho e o óculo remete invariavelmente para esta outra grande maluca feminista.
É uma Janelle(a) de oportunidade, esta babe.



Violet stars happy hunting, Janelle Monae


I'm an alien from outer space (outer space)
I'm a cybergirl without a face a heart or a mind
(a product of the man, I'm a product of the man)
Ci ci ci
I'm a saviour without a race (without a face)
On the run cause they? hit our ways and chase my kind
They've come to destroy me

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Festa do Bigode

E o prémio El Bigodon vai para [todos: vai para]: o pintor francês mais espectacular de sempre!


[O prémio adivinha-quem-aterrou-primeiro vai para: a colegial mais ousada]

sábado, 15 de novembro de 2008

Ritual de acasalamento

À hora de melhores cores, os animais encontram-se, no local do costume, a sondar a área. Aproveita-se o sol, fazem-se as melhores poses sob a luz, exibem-se penas, jubas, músculos, garras. Propagam-se os cheiros de cio e emitem-se fortes os rugidos, pios e ronronares que inebriam macho e fêmea. O ritual instaura-se quase oficialmente, com os devidos olhares inquisidores de cobiça. Meneiam-se as hostes num jogo de ataque e defesa constante, na espera da melhor oportunidade, do tempo certo, do olhar fulminante que sele o consentimento. Pela proliferação da espécie, pelo instinto animal, pelo alívio físico, pela disputa do eleito, pelo encantamento da sedução. Pela busca de um naco que sacia. Daquela porção que preenche.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Eu, Lira, me confesso: gosto disto...


I can feel you, Anastacia

E ainda assim. Nada a fazer.


Dueto, Nara Leão e Chico Buarque

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Epílogo

À esquerda a lareira. À direita o livro. Por cima a mantinha. À frente o chocolate. Imaginei este cenário vezes sem conta. E cá estou, finalmente, a escrever sobre ele, a torná-lo real. Paira uma certa nostalgia que só a solidão sabe trazer, mas com um gosto doce. A cabeça girou mil vezes hoje. Os planos foram trocados, o desejo refreado, amigos trouxeram risos e velhos amores resolvem dar notícias. Do nada. Tudo num só dia. Apetece esta acalmia e a promessa de um amanhã agitado.

Sim, a minha vida também não faz sentido sem ti.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

É a loucura!

É ver a malta em delírio:

http://www.mascarilha.pt/produtos.php?pai=146

Aviso: vale a pena passear por toda a loja.

Conversas de corredor

Ela - A Soraia avisou que vai chegar late.

Ele - Ah! A sério?! [Por entre movimentos com excessivos piquinhos a azedo]

Ela - Sim. Almoças cá hoje?

Ele - Ainda não sei se é para fazer o trabalho, se não...

Ela - Então mas eu estive a ler os textos... Why?

É assim que se fala pelos corredores de uma faculdade. E depois querem-me convencer que sabem o que estão a discutir quando convocam reuniões de alunos para debater o Orçamento de Estado. Oh God!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

À cabeceira

[...]

É o viajante a ligar. Das 14 vezes que já tocou o telefone. Não consigo atender. Fico com a barriga embrulhada, tal é o nervosismo por ter que lhe dizer que não quero passear com ele nem que festejemos juntos o aniversário. Cá dentro, tudo o que a ele é relativo, começa a ficar resolvido, por isso, não consigo falar-lhe. Sei de cor a reacção que me espera do outro lado da linha: uma gritaria pegada e um mar de porquês a que não tenho obrigação de responder. "Não, porque não, ponto final", mas não sei se sou capaz. Adio. Já tratei de deixar de ouvir o telefone tocar. Bendita a hora em que inventaram o botãozinho para silenciar aqueles toques dolorosos. Mas, e silenciadores para a dor que não se ouve, que só se sente, não se arranjam por aí? Não quero ir em peregrinação à Carbono nem comer bom marisco nem ouvir fados no bairro nem passear pela Lisboa que "ah, o que eu já vivi aqui, se tu soubesses...". Contigo não, que me dispões mal. Viaja lá novamente para o teu sítio. É tudo o que quero, de lá é mais fácil. Já não estou habituada a ter-te perto. E a culpa não foi minha...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Eu vou apanhá-la

Um burro a olhar para um palácio

Eu à frente das 300 prateleiras de detergentes para a loiça em pós, pastilhas e assim-assim; sais xpto em sacos pequenos, médios, grandes e maiores ainda; abrilhantadores super-hiper-mega-ri * poderosos e bons para a minha loicinha, adequados aos copos ou às panelas ou aos talheres.


Nunca me deu uma paragem cerebral tão prolongada.



* com selo mamalhuda infantilóide

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Silenciosamente cúmplices

Hoje a senhora que arrumava as telas, a quem perguntei por molduras, tinha os olhos encharcados de lágrimas. Eu vi, ela viu que eu vi. Eu limitei-me a ouvir a resposta, agradeci e segui a minha vida. Não me ocorreu sequer uma palavra de conforto ou perguntar se se sentia bem... Isolei-me na concha do egoísmo, na frieza das realidades impessoais. Não sei se por respeito, se por medo, se por indiferença, se por cobardia. Fi-lo. E no momento seguinte tive vontade de voltar atrás. No tempo.

Entre aspas literárias #2

“A obra é uma coisa que fica. Se tirarmos os filhos da puta da literatura e da pintura ficamos com nada. Se se tirarem os bêbados fica-se com zero. Se deixarmos só os livros feitos por pessoas que se portavam bem, tratavam bem a mulher, eram bons amigos e pagavam as contas a horas, ficamos só com merda. O único autor que foi boa pessoa e ao mesmo tempo um génio é capaz de ser, sei la, o Beckett.”

[...]

“A ideia de que a literatura tem um papel moral, positivo ou negativo, é errada. Nem enriquece, nem empobrece. Pode enriquecer ou pode empobrecer. Mas não é essa a razão para ler. Uma pessoa lê para ficar deslumbrada. Uma pessoa lê para ficar noutro estado. Para sair de si própria. Uma pessoa lê para estar noutro mundo. Para entrar noutro estado. E, no caso das coisas muito bem escritas, num enlevo. Há um enlevo de ser elevado.”

[...]

“Eu tenho muitos amigos e conheço muitas pessoas e sei qual é a tradição de dar graxa na entrevista. Depois, as pessoas, juntam-se nas festas e lambem o cu umas às outras. Eu não vou a festas. Sempre fui um isolado.”

[...]

“Todos os escritores utilizam anfetaminas. Podes dizer um nome de um escritor do séc. XX… Quase todos. Utilizam, porque ajuda muito a concentrar. Se há droga para estudar e para a escrita, e em que depois a pessoa não se envergonha, a única droga que ajuda são as anfetaminas. […] Com LSD não se consegue escrever. Com o haxixe também não. Sai tudo um disparate. Eu já experimentei e geralmente só sai lixo. A cocaína ao principio ajuda um bocadinho mas esse principio é tão curto – é para aí de uma semana ou duas – que depois já não ajuda absolutamente nada. Com ópio nunca experimentei. “



Miguel Esteves Cardoso in Ler, Novembro 2008

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Advertência

Tem uma má relação com o seu filho? O seu filho fica mais agressivo pela altura do entrudo e a mãe desconhece a razão? Calma! Pode não estar tudo perdido. Leve a mão à consciência e lembre-se se já o fez passar alguma vergonhaça como tê-lo mascarado de elefante, de Pinóquio-Gepetto [isto aconteceu mesmo. Ai que giro!, mascarado de Pinóquio! Não, ele não está só mascarado de Pinóquio, está também de Gepetto. Pronto, 2 em 1 e que mal tem? Pobre criança], de peça de fruta [também é real: sei de uma mãe que mascarou a sua cria de morango com a folhinha verde no chapéu e tudo] ou mesmo de pato. E é a propósito de um menino lindo mascarado de pato que aqui venho hoje. Certa mãe, que eu adoro, mascarou o seu querido filho, lindo, loirinho, de olho azul de pato Donald. Deve ter-lhe feito tal lavagem cerebral que ao tropeçar e estatelar-se no chão durante o dia a criança disse Oh, já caiu o pato! Não é delicioso? É, mas atenção mães, atentem na advertência: cuidem de reflectir bem sobre o traje carnavalesco da criança não vá uma má escolha traumatizar a criança e acabar de vez com a possibilidade de construírem uma relação saudável e para a vida toda.

domingo, 2 de novembro de 2008

Homens que fazem comichão no fundinho

JP Simões

JP Simões

Prato do dia*


Tu és a Mulher da Minha Vida, Ela é a Mulher dos Meus Sonhos, Pedro Brito/João Fazenda


É BD e é bom à brava. Tudo muito do dia-a-dia, coloquial, real... Nos discursos e nas ilustrações. Ironiza conceitos, desequilibra pressupostos cómodos.



*com selo vinícola

sábado, 1 de novembro de 2008

Transeuntes dominicais

Amanhã recomeça o ritual. Repete-se todas as semanas. Milhares de famílias felizes portuguesas deambulam pelos centros comerciais e afins. Fazem-no porque é dia de o fazer. Porque se definiu que neste dia, além de se ir à missa, vai-se roçar os rabos nas paredes das lojas, restaurantes fast food e abelhas maias com ranhura para a moeda. É vê-los entediados, porque é o dia de passar tempo de qualidade com a família e isso significa levá-los onde querem, de mãos nos bolsos a calcorrear os corredores à pressa, para ficar tudo visto num ápice e irem para casa ver a bola, no sofá.

- Pai, vamos ver ali!
- Ali não há nada para ver, anda embora! Estás aqui, estás a apanhar! – em tom francamente audível.

É vê-las de pintura enjoativamente carregada, olho preto e lábio vermelho ou roxo, vá. É dia de embonecar e, portanto, dia de pôr a melhor fatiota, aquela do último casamento ou assim. Camisola de Lycra justa até mais não, a denotar a bela da banha por cima da saia traçada e apertada. Todo o acessório é bem-vindo, pelo que não descuidam as 10 pulseiras, os brincos brilhantes, os anéis da tia-avó em cada dedo e um penduricalho a bambolear no farto tecido mamário. Gritam e correm atrás dos putos, porque estes andam a gritar e em correrias. Fazem pose fina, perguntam onde é o McDonald’s e o resto das lojas de roupa ou se não vendem naperons para levar para a terra. Observam cada pormenor de lés a lés, passeiam com calma, olham o balcão de soslaio, tiram livros das mãos dos filhos, porque já lhes compraram cartas dos Pokemon.

Os putos vêm com cabelo no gel em pasta, mexem em tudo, gritam, correm, desarrumam, arrancam páginas de livros, derrubam expositores, insistem que querem pôr o CD dos Morangos com Açúcar a tocar, puxam os auscultadores, fazem birras porque querem tudo. Fartam-se rápido e debandam assim que podem, não sem antes esmurrarem as fronhas na porta de vidro.

- Ah, vamos embora, aqui é só livros…


Pois… Diz que sim…

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Pela mão de Deus?

Que Deus? Que Deus permite tristezas profundas como a perda de alguém? Que Deus tem a ousadia de o fazer sem nos ensinar a sobreviver a uma perda? Quem é esse Deus que não nos ensina a fazer o luto e nos deixa à mercê de saudades que nos vão comendo o sentido de viver e nos fazem questionar se valerá a pena ir à luta amanhã, outra vez...? Acreditar em algo que nos transcende é próprio dos fracos, dizem-me. Delegar o papel de personagem principal a Outro, irrita-me, acrescento. Não posso com quem diz que seja o que Deus quiser ou que isto ou aquilo aconteceu porque Deus assim quis. Mas o que se diz nem é o mais importante. Não há cá crónicas de mortes anunciadas que nos ajudem à antecipação de mecanismos de sobrevivência à dor. Vais sofrer, disso não te livras!, convenço-me. Eu cá, tive que fazer esse luto uma vez, apenas. E o que me custou quando do outro lado da linha me anunciaram, por meio de palavras moles, a morte de quem me era tão querido... Questionei o mesmo Deus que questiono agora. Como um sopro de vida, a revolta foi-se dissipando. Sem correr. Bem devagar. Escrevi-lhe várias vezes, sonhei com ele outras tantas, mas hoje estamos em paz. Sorrio-lhe de cada vez que me acena à lembrança. Outras vezes o coração fica pequenino: quando me apercebo que o não voltarei a ver...
Quando me perguntam se tenho medo da morte. Respondo redonda e imediatamente que essa morte não, não me aflige. Inquieta-me a possibilidade de ir morrendo por dentro mas, mais do que isso, aterroriza-me a morte dos que mais quero não por não mais poder sentir-lhes a carne, mas porque, apesar de feito o luto, acharei sempre que foi injusta a viagem que encetaram pela mão de um tal deus. Por isso, faço como os outros: facilito. E imagino paraísos verdejantes para aqueles que se foram um dia.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Old man in sorrow

Vincent Van Gogh

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Do lado de cá, com amor

Cinco anos volvidos, meu velho, e as saudades por cá continuam. Assim como o teu sorriso, o toque do meu beijo na tua testa, o teu polegar partido, as sonecas depois do almoço, as enormes dentadas nos nossos gelados ou os Natais na mercearia vivem guardados nas minhas memórias mais bonitas. Teimosa, continuo a guardar o nosso último almoço juntos em tua casa e a silenciosa e pesada viagem de regresso à minha. Culpo-me por não te ter feito falar, por antes ter preferido ir desenhando cenários que explicassem as razões para a agonia que te descobria. Ensombram-me, por vezes, estas imagens, mas já vou tarde...
Integrei a tua ausência no bater do coração dos meus dias, por isso, e apesar das saudades, vives em mim e fazes da minha vida uma existência muito mais feliz. Obrigada.

Neta

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O meu umbigo

Quando pouco mais importa à nossa volta do que o nosso próprio umbigo esquecem-se os outros. As suas vontades, interesses, inquietações, necessidades. Desde que as nossas estejam satisfeitas, pouco mais conta. Até mesmo quando nos faltam muitas coisas, mas faz tempo que deixámos de as considerar. Assim vive quem vive só para si.

Mas nem por isso deixam de se fazer exigências. Exige-se tempo, companhia, atenção, carinho, amor. E mais tempo, e mais companhia, e mais atenção, e mais carinho, e mais amor. Em troca dá-se o tempo que não nos faz falta, a companhia que já não precisamos de fazer a nós próprios, o que sobra da atenção que já nos demos, o carinho e o amor quando a nós já demos o suficiente. Fazemos o que nos dá na real gana e vivemos em paz porque achamos que o que temos a mais e não precisamos é o que basta aos outros.

É um facto que todos temos uma boa dose de egoísmo. Aliás, o egoísmo é a base de muitas das relações que mantemos com o mundo. Eu estou bem, espero que tu também. Se eu estou bem, tu também, com certeza. Ou Porque é que não hás-de estar bem se te dou tanto?

E impõe-se a pergunta: Que tanto é este que damos e que até podemos saber não ser o bastante, mas que teimamos em não aumentar e melhorar por lesar o nosso suposto bem-estar?

Também esta leitura pode ser egoísta, diz-me tu se estou enganada...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Artistas que excitam















Claudia Christiani, in Clic 1, Milo Manara

Escritores que pintam


















Pierre Klossowski, Diane et Actéon, 1954

Curtas [15]

"Quando o coração se fecha faz muito mais barulho que uma porta."
[in Livro de Crónicas, António Lobo Antunes]

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Fim de tarde sem cheiro a castanhas

Falta-me o Outono como o tenho guardado no imaginário. Primeiro a mercearia dos avós cheia de rebuçados e pão quentinho a transbordar tulicreme, a salamandra acesa e o quando cai a noite na cidade a seguir ao telejornal. Depois os fins de tarde com livros e cadernos debaixo do braço rumo a casa. Falta-me o chegar a casa e ser tudo mais fácil. As brigas por um lugar no pequeno sofá e pelo monopólio do comando da televisão que eu sempre ganhava à minha irmã. Mas ela também já cresceu e decerto falta-lhe tanto como a mim. Falta-me o pouco espaço que tínhamos naquele cantinho. Desde que nos mudámos, tudo mudou. O nosso mundo cresceu e isso trouxe tanto de bom como de assim-assim. Faltam-me as fornadas de bolinhos tipo rolha que comíamos desalmadamente [nunca mais nos atrevemos a fazê-los desde a última barrigada há coisa de 12 anos]. O acordar a meio da noite, suster a respiração para sentir a delas e, assim, saber que estavam bem. Isso também me falta.

Falta-me aquilo que ainda não sou capaz de fazer: correr daqui para fora e calcorrear sozinha esta cidade que acho que sinto ainda mais bonita quando iluminada em noites escuras. Falta-me o por fim entrar na casa que me falta, escolher o livro, servir uma taça de vinho, acender o candeeiro de pé alto e o cigarro, pôr a manta sobre as pernas na cadeira de baloiço e o piano do Sassetti no play e, entre o folhear de cada página, erguer o olhar e apreciar este quarto de Van Gogh.

Se calhar o que me falta é saber viver no Outono quando os dias ficam mais curtos e as saudades apertam e me fecho no medo que tenho dos outonos que, como paradoxo, adoro, por trazerem com eles o sabor amargo da solidão.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Errata

Queiram desculpar por me ter referido ao Sei Lá como uma cópia chapada de O Sexo e a Cidade no que respeita ao número de personagens femininos. Contei-os mal, neste último são só 4. No entanto, reitero a dúvida relativamente à originalidade da obra literária e parto-me a rir quando leio na lombada do dito livrinho qualquer coisa como "podemos afirmar que em Portugal há o romance antes e depois de Margarida Rebelo Pinto". De facto, não me lembro de se escrever e ler tanta merda como nos dias de hoje. Pobres gerações vindouras...

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Réstias de Humanidade

Quando alguém levanta as suas próprias chávenas de café e as deixa no balcão.

Da arte de desmanchar animaizinhos e outras actividades lúdicas

É... desmanchar [1. desfazer; 2. desarranjar; 3. deslocar; 4. revogar; 5. transformar; 6. destruir, inutilizar; 7. provocar aborto em; 8. esquartejar (animais domésticos para lhes aproveitar a carne)]. O verbo que mais se empregou ontem ao almoço. Éramos 3, mulheres, mas desmanchámos ali melhor que muitos homens! Tudo começou com alusões a medos e fobias dos tão amorosos animais domésticos que são os gatinhos [Pânico!]. Pois que fomos andando, andando, andando até que estacionámos no domínio dos animais da quinta. Amorosos, boas companhias e, coitados, saborosos. Daí a falar em bancadas de madeira maciça, grandes facalhões de serrilha bem afiada e nas histórias da terra contadas pelo senhor Severo, foi um saltinho. E aquilo é que foi ver porcos, coelhos, galinhas, borregos a serem esquartejados com dó e piedade, porque não deve ser tarefa fácil. Depois do sangue derramado ainda desmanchámos um edifício público e um ou outro artigo científico. E qual é o mal?

terça-feira, 7 de outubro de 2008

A última noite...

Desapego. Felizmente, não tenho sofrido muito com a(s) mudança(s) de ninho. Desta vez não será diferente. Se bem que um formigueirozinho, algo desconcertante, enquanto me despeço daquele espaço. Reanimo situações vividas noutros tempos e o coração desata a ficar pequenino e triste.

Espaço em que fui mais eu, em que me descobri, paredes que contam histórias de descobertas. Entre o choro e o riso. Mesmo assim, desapego. Ao que é material. Encara-se a mudança apenas como mais uma. Um passo em frente, rumo ao não-sei-o-quê do futuro. Incerto. De imagens pouco nítidas. Um dia depois do outro, apenas.
.
E permaneço apegada ao desapego às coisas como atenuante da dor.


Cozinha da Casa de Manhufe, Amadeo de Souza-Cardoso (1913)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Ah, Nina!



Love me or leave me, Nina Simone

Muito bom! Como sempre nos habituou.
Bons sonhos.

Exorcizar em 3 fases

A batida.

A voz.

O homem.


Odara, Caetano Veloso

Feira da Ladra

Terça-feira. Dia de quebrar mais uns silêncios. Pôr em exposição tudo o que é artigo para expôr, que eu cá, em dia de feira, tento não guardar nada para mim. Porém, quando passa aquela cliente especial disponibilizo mais um ou outro que, não por acaso, ficou, digamos, esquecido no fundo do baú dos trapos que compõem esta banca. E é um alívio quando isto acontece. O que ela percebe de trapos...! Tira-os um a um e ficamos ali uma boa hora e meia a tecer considerações sobre o mau estado em que se encontram e sobre o que se pode sempre fazer com eles. Não em jeito de remendo, antes de forma a criar uma peça única e una de retalhos de qualidade. Obrigada!

E a rapariga desce a escada quatro a quatro
vai vender mágoas ao desbarato
vai vender juras falsas
amargura ilusões
trapos e cacos e contradições

Sem título para tal silêncio

Do tanto que se não diz e quer dizer ficam os intervalos de silêncios consentidos. Porque cada um é livre de calar. A dor. De gritar alegrias que hiperbolizam uma vida que há muito traz a morte anunciada. E no rame-rame dos dias faz-se descobrir tudo o que já não têm de sorriso. Porque esse apenas se faz saber a quem tem a ousadia de o suplicar. Por isso, a dificuldade de os olhos olharem nos olhos. Porque não mentem. Pedir que olhem por mais alguns instantes, ainda que breves, é rasgar liberdades que vão além do direito de cada um de ser livre. Mesmo sabendo que os silêncios, quando impostos, deixam nós na garganta e revelam estados de alma que a todo o custo queremos esconder.

domingo, 5 de outubro de 2008

E uns bordados para levar para a terra... não tem, menina?

Reciclar?

Os homens têm fases. Tenho-os observado. Provavelmente, as mulheres também, mas nos homens parece mais evidente.

A adolescência é descoberta, faz-se de experiências, de frenesim meio alucinado, passam para o estágio seguinte ainda em estado de anestesia e quando se dão conta estão estagnados num marasmo quotidiano que pouco lhes traz da loucura dos anos anteriores. Aí param e olham em redor. Têm duas opções: aceitam que a vida mudou e seguem caminho, dão a volta à questão e agarram-se às partes boas ou então não. Ou então, deixam-se embalar nos impulsos, deliciam-se com novidades, com desafios, loucuras, vão ao ginásio, ouvem outra música, galanteiam outras mulheres, com o charme discreto que amadureceram, usam ténis.

Não sei o que lhes sinto. Ousar mudar depende sempre do quão importante é aquilo que passa a ficar no passado. Cumprindo essa certeza em sensatez, qualquer uma das opções é um acto de coragem: manter ou mudar.

Se não se adormecessem os sentidos, talvez nunca surgisse sequer a insatisfação.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Nobody made this war of mine



Mysteries, Beth Gibbons

Tired of being polite

"Bom, agora trata de ser educada com os teus avós, com os teus tios, primos em 1.º grau, 2.º, 3.º, quinquagésimo, com o teu tetra-avô se alguma vez o chamares para que te acuda lá do sítio onde Deus o tem em descanso" / "Pede com licença, desculpe e obrigada o maior número de vezes que fores capaz [por minuto], um dia serás premiada" / "Diz que sim, pode ser, está bem, por mim é como queiras, mesmo que não seja bem aquilo que te apetece fazer" / "Sorri sempre para o teu maior inimigo, mas o melhor mesmo é gostares de toda a gente e não teres inimigo nenhum, porque ele também só te fez uma rasteira, foste com os dentes ao chão e ficaste com a tromba toda arranhada, mas coitado..." / "Na fila do supermercado se tiveres 4 artigos deixa sempre o senhor de trás passar à tua frente, é que ele só tem 3...". And so on!

E eu estou farta de ser polite. Por tudo e por nada. De ser a fixe porque para mim está sempre tudo bem. Para não melindrar os outros, fico sempre com grandes melões. Para não os deixar tristes, envergo o sorriso mais amarelo e lá vou eu a cantarolar. Para não ouvir ralhetes, lá vou eu dar beijos nas faces peludas das senhoras donas idosas da terra dos avós. Para não me zangar com a mãe respiro fundo, conto até três e pode ser que passe. Para não mandar os mais novos ganharem tomates e é se querem realmente ser responsáveis como parecem, mando mensagens que terminam sempre com uma piadola, um beijo grande ou um smile daqueles ridículos. Para não mandar o pai para a puta que o pariu, ando aqui a engolir sapos e a fazer malabarismos e truques de magia como quem tira notas de 500 da cartola para ter alimento para os coelhos. E é isto.

(not) Politely yours,
vinho

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Sei lá!

Copio a Lira. Deliberadamente. E faço a minha crítica literária [assumindo o quanto (não) tem de crítica e de literária].
Margarida Rebelo Pinto de seu nome, é a autora. Sei lá, o nome da obra que me proponho falar um bocadinho. A medo pego na dita. Escolhi-a para me acompanhar ao fim-de-semana como "literatura-dos-cinco-minutos-antes-de-adormecer-enfim-melhor-que-um-comprimido-para-dormir".
Curiosidade 1: as personagens são 5. Todas mulheres. Entre elas, a Mariana é a mais puritana (a chamada menina), enquanto a Teresa dá nome à grande maluca de quase 50 anos que passa a vida a aviar cartucho. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência [mas... não ouvimos dizer que coisa que não há são coincidências? Bom, adiante!]
Curiosidade 2: todas as personagens são da classe alta/média alta [hei-de descobrir mais à frente, mas decerto jantam no Eleven e acabam a noite na Kapital (ups!, parece que a Kapital fechou. Minhas caras, não se apoquentem, mas também não escolham o BBC que aquilo não é para a vossa idade].
Aaaaaaaaaah!
[expressão de espanto seguida de dúvida "Ou muito me engano ou conheço uma história também ela protagonizada por 5 mulheres da mesma classe social que as atrás referidas e que passam a vida entre altos pequenos-almoços e trancadas fenomenais a fechar o dia", dúvida imediatamente desfeita para todos quantos viram já O Sexo e a Cidade.

Agora que já dei uso às garras, e deixando-me de considerações mordazes e [corro o risco de as apelidarem de] gratuítas, uma vez que ainda me vou pelo 2.º capítulo, a verdade é que a semana passada dei comigo a pensar que me apetecia ter o livro à mão, ainda que para os mesmos 5 minutos. A escrita não me desagradou e tenho curiosidade em saber como caracteriza a Margarida aquelas 5 personagens, como as diferencia e, já agora, vou gostar de encontrar a originalidade (?) da história.

Longes e miragens

Hoje sonhei-me acompanhada. Em preparos pouco ortodoxos. Meus conhecidos já. Daqueles de ficar com água na boca e querer mais logo que se solta o orgásmico suspiro. Varremos secretárias, o chão, a cama, o colchão, o sofá... No meu sonho era um sábado de Agosto. Almoçámos, olhámos o mar, tomámos uma bebida e já em casa, um café, apertou-me nos braços [por pouco não me partia as costelas], agarrou-me ao colo para me beijar sofregamente, levantou-me o vestido e... deparou-se com a expressão do mais puro e inocente prazer! [Durante o dia visitaram-me rasgos desse sonho e, enfim, só vendo como me deixam...]

sábado, 27 de setembro de 2008

Mais leitinho

Coincidência ou não, para não quebrar o tema, eis que me deparo com o post da amiga ruralita, a propósito de uns pareceres desta senhora e desta acerca da amamentação.

Devo dizer que me faz urticaria aquelas mãezinhas extremosas que não sabem falar de outra coisa a não ser dos filhos, comparando gracinhas, desenvolvimentos e cuidados que provocam o vómito a qualquer não-mãe. A partir do momento em que parem o rebento transformam-se em super-mulheres, deusas do Olimpo que tudo fazem para proporcionar um crescimento perfeito ao seu descendente. Irrita-me. Que pequenez reduzir o interesse da vida a um ser, só porque delas saiu. Cheira-me a um certo narcisismo escondido e cada vez mais acho que o acto/decisão de ter uma criança passa muito por egoísmo de autocentrados. No fundo não passa de competição e pavor de serem adjectivadas de más mães, ou pouco atenciosas, ou dedicadas, ou sem vocação para o efeito. Parece que hoje em dia é isso que se nos pede, a nós mulheres. Que sejamos super no trabalho, em casa, no ginásio, na rua e na cama.

Espero não vir a cair nesta espécie de feitiço (nunca se sabe...!), mas também espero não abdicar de amamentar a minha criança. Lamechas, conservador, fundamentalista ou não, parece-me que é o primeiro momento de contacto com a nossa criança. O primeiro acto de partilha, de "estou aqui para o que precisares, vai ser duro, mas vou contigo". Isso eu não creio que seja de perder, só porque dói ou porque o semblante de mulher independente e alheia a mariquices não se pode perder.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

Cabra

foto tirada daqui

"Opá, então não é que é tão giro ter este líquido esbranquiçado a escorrer-me da boca? Ó para mim tão fresca, fofa e airosa aqui danada para a brincadeira com o bichano, hein? Olha eu completamente inocente que nem estou sequer a topar o porquê de uma foto nestes preparos!"

...

Pois é, destas merdas é que eles gostam pá. Delas ingénuas, a cheirar a leitinho com trancinhas para puxar.

Elas: dão-lhes, fartas de o saber.

Eles: deliciam-se a pensar que é mesmo assim.


Coitadito(a)s...

Rever. Sempre.


Kinsey, Bill Condon

Interessa-me o sexo. Não só a sua prática como a sua teoria. O que é, como é, porquê e como acontece. O que são os desvios, o que são as regras. Qual a sua história, em que moldes se processa a sua evolução. As dúvidas, as descobertas, a sua importância. Qual o lugar, o papel que assume na vida de cada um. Na felicidade de cada um.

Relatório Hortêncio. Um dia destes.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

À esquina

Quando Margarida chegou à Casa da Azenha teve aquela sensação, não desconhecida mas sempre inquietante, de já ter estado ali.”

À primeira vista parecia um romancezeco de cordel, lamechas e previsível, baseado numa ideia fantástica que, ou era muito bem desenvolvida, ou não convencia nem o leitor menos exigente.

Ao que parece a Margarida da história viaja no tempo. Acabei hoje o acompanhamento desse périplo. E nem foi preciso chegar ao final para ir ficando com aquela inquietação de quem está preso à história e quando não tem oportunidade de ler, dá por si a pensar no enredo, no que dali virá e onde quer chegar a autora. Ora, senhora dona Rosa Lobato DE Faria com o seu ar de tiazona, manda umas bocas porno-eróticas de uma intensidade e calor que nunca esperei. A verdade é que a senhora sabe do que fala e, embora não tenha ficado maravilhada pela criatividade da ideia, há pontos focados que dão que pensar.

Não se trata de reflectir sobre a possibilidade de viajar ou não no tempo, gostei da maneira como retrata a condição feminina opondo a actual ao século passado, a forma chocante como fala das dores fatais de uma mulher submissa e infeliz. Mas mais do que isso, gostei da ideia inquietante de reconhecermos certas pessoas que, à partida, nunca tinhamos visto na vida. Sejam pessoas que conhecemos, com quem temos imensa cumplicidade, que amamos perdidamente ou pessoas por quem passamos na rua e a quem nos sentimos, de alguma forma, ligados. Pode parecer a maior lamechice de sempre, mas acredito que as pessoas com quem nos cruzamos na vida, seja em que contexto for, têm o seu propósito por aquilo que nos fazem vivenciar, pensar, questionar, mudar. Será por acaso que amores insólitos, experiências dolorosas, acontecimentos inesperados, aparentemente impossíveis resistem ao turbilhão por uma força que parece querer dizer "tinha que ser assim"?

Gosto de pensar que sim.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

E o Pedro e o João é que sabem!

«Pensamos que, para satisfazer uma mulher, temos que nos pôr naquelas posições surreais, puramente fotográficas e que temos de ser autênticos... martelos pneumáticos. Como é que as mulheres podem ser frígidas, se levarmos em conta dois importantes factores. Primeiro, têm vários pontos erógenos, enquanto que nós direccionamos tudo só para um ponto do nosso corpo... É claro que não nos aguentamos à jarda e, consequentemente, não as conseguimos satisfazer. Para além de que somos por vezes bem egoístas. Segundo: os orgasmos múltiplos não são um mito. As mulheres podem ter n orgasmos, enquanto que nós temos um e... 'finito'»

in Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos [Autoria: Pedro Brito (argumento), João Fazenda (desenho)]

Pumba!

Um dos olhares deste livro de BD espectacular!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Outono

Tenho cá para mim que as grandes mudanças acontecem com o virar de cada estação. Sobretudo na virada para a Primavera e para o Outono. As estações que entremeiam as outras mais rigorosas. No Verão e no Inverno somos mais pachorrentos, eu acho. Por um lado, deixamo-nos ir arrastando o chinelo porque um simples levantar de perna deixa-nos o corpo num pingo; por outro, nem sequer ousamos trazer os dentes de fora receosos da possibilidade de congelarmos a qualquer momento. Pois que sobram a Primavera e o Outono. Da primeira dizem que faz andar passarinho novo de roda da orelhinha de cada um; do segundo dizem que traz o cinzento e os dias mais pequenos. Mas é capaz de ser a estação de que mais gosto. O Outono. As folhas amarelas, aquele friozinho por baixo da camisola de algodão, os primeiros casacos, as botas que entretanto terão que sair do armário, a chuva miudinha que cai lá fora enquanto nos deleitamos com um café quente e um bom livro ou um filmezinho de domingo à tarde debaixo da mantinha e alternamos, deliciados, entre os estados de sono e de vigília. Porque nessas tardes nunca estamos realmente acordados.


Vale a pena ver mais fotografias de José Vinagre

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

De malas e bagagens

Mais uma vez. Lá ando eu com os tarecos para trás e para a frente. Desde que voltei senti-me em casa por estar na minha terra, não porque tivesse, de facto, a minha casa. Regressar à casa dos pais depois de uns anos sozinha tem muito que se lhe diga. Não porque o nosso espaço não seja compreendido, mas porque o nosso espaço passou a ser outro e aquele também já não é nosso. As minhas (des)arrumações, os meus cheiros, as minhas cores, as minhas estantes, os meus hábitos, as minhas comidas, os meus horários.

Depois há os homens, que vão funcionando connosco em simbiose e quando é, é até ao enjoo e à exaustão. Por conseguinte, há que moldar os gostos, hábitos, atitudes e... ninho. Andar cá e lá sabe bem no início, mas depois cansa. Vai daí que me vou de pochette valise rumo ao meu novo poiso e mentalizo-me para os dias loucos que se avizinham.

Ele é um manancial de tarefas a organizar, desde encaixotar tudo e mais alguma coisa, a preparar transporte, a sondar nova mobília, novas disposições e novas necessidades. Confesso que me dá imensa pica no início para depois me frustrar logo a seguir. "Podia fazer isto e comprar aquilo e mais aqueloutro" mas passado um tempo constato desiludida que não tenho metade do capital e da criatividade necessários.

Posto isto vou pensando no assunto de forma comedida, sendo que a dimensão de coisas e coisinhas que devo mover num espaço de 120km... empalidece-me.

Bom dia, alegria!

Adivinha-se um bom dia! Acordei com o Stevie na lembrança a cantar esta:



For once in my life, Stevie Wonder

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Just for you both...



Lost, Michael Bublé

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Caboverdianismos

Saudades de Cabo Verde em Portugal.
O Boy Gè é um homem normal, normalíssimo mesmo. Até abrir a boca! Porque, meninas, quando usa da voz e dá ao corpo um swing malandro, este senhor é dos mais sedutores que conheço. É de ficar com água na boca!

Apaixonem-se, caras leitoras [e eles também porque uma voz destas é sempre mais que bem-vinda]:


Sant'Anton Lovers, Boy Gè Mendes

coordenada solta

No sábado o Gonçalo falou do cabo que foi um tormento atravessar, do maravilhoso que é poder pisar aquele chão e desfrutar de tanta beleza de uma vez só. Falou do que já não existe de magia noutros lugares. Mas felizmente dedicou-se pouco a escrever da cinzentice, da louca necessidade generalizada de se sentir que tudo é certo e seguro e racional e explicável. E ainda bem! Ainda bem porque assim consegui transportar-me para a África do Sul daquelas páginas, dar asas à imaginação, ver-me completamente lá de mochila às costas e calções desavergonhados a mostrarem a desastrosa brancura destas pernas. Com a imaginação nos "monstros marinhos, animais fantásticos, tribos antropófagas, promontórios indomáveis, maldições melodramáticas, tempestades desumanas, desertos sem vida", por entre seduções e surpresas...

Gosto do que ele escreve. O Planisfério Pessoal vale a pena.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Don't worry ma man!

Depois da tempestade... vem sempre o Bonanza! Bem sei que não tem gracinha nenhuma a piadola que acabei de mandar mas faz tempo que espero a oportunidade para mandar uma destas. Bem sequinha! Hoje, dia de boas perspectivas!

And now, ladies and gentlemen, Mr. Bobby McFerrin [não deixem de prestar a atenção devida ao teledisco. Olhó dedinho do pé do Bobby! É genial!]


Don't worry be happy, Bobby McFerrin

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Curtas [14]

E continuas a achar que todos são mais bonitos do que tu, mais inteligentes do que tu, podem mais do que tu...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Insiste, nao pára

Lá está. Pois agora deu-me para isto. Estou toda partidinha, não há músculo que não se queixe. Ele é spinning around, de glúteo apertado a dar à perna; ele é body pump it up põe peso, tira peso, mete colchão, arrasta o step, insiste, insiste, não desiste, tou-te a ver, quero isso feito como deve ser, aperta agora e explode (!); e ele é bailarico às voltas, passos dobles sempre com estilo, ancas para lá e para cá, rabo espetado e mamas empinadas. Mai nada! Um reboliço e expressões de incentivo muito sui generis, não fosse esta mente depravada descaracterizar-se.

Ora eu que tanto prezo o docinho, o pãozinho e a molhenga, tive que me render a estas práticas, sob pena de deixar de caber nas calças. O processo de alargamento das carnes deu-se inevitavelmente perante novos ares, novos ritmos e refeição na mesa, sem esforço. Mas a verdade é que este andamento faz bem. Pois diz que sim, que dói, mas também dá outra energia. E mesmo que não reduza as carnes, pelo menos enrijece-as, torna-as vigorosas, boas para... a matança, digamos.

Cara lavada

Já vais atrasada para mudar de visual, mas aqui ficas. De lábio carnudo e vermelho. Sempre misteriosa e a mostrar apenas o que interessa: a sensualidade do feminino. Tudo o que é menos interessante oculta-se debaixo do chapéu. Ou então só se revela a quem o ousar descobrir.

Ruído

Cansaço. Confusão. Tudo a mil, tudo parado, porém. Cinzento, como a chegada do Outono. Simples conversas dão lugar a discussões. Afasto-me o mais que posso. Porque preciso. Procuram-me. Fico sem espaço para estar no meu canto. Telefonas-me, mas eu não quero conversar. Não saem mais do que secos monossílabos. Mas eu não faço milagres e tu, faz muito que te demitiste do teu papel, não queiras agora construir uma relação que nunca o chegou a ser porque partiste cedo demais. Já vens tarde, viajante... Vivo há demasiado tempo no meio do caos em que me deixaste. Preciso libertar-me para reaprender a respirar e não dizer adeus a outros. Porque não saberia lidar com a saudade...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Primeiro estranha-se, depois entranha-se!

Pessoal, digam o que quiserem, gozem-me até ao suspiro derradeiro, façam de mim motivo de chacota por muitos e longos anos e até que a morte nos separe, mas adorei o filme. Foi qualquer coisa como primeiro estranha-se, depois entranha-se. Ok, há cenas que são uma piroseira desgraçada, mas até disso gostei. E a verdade é que ainda tive que limpar uma ou duas lagrimitas teimosas. Adoro a Meryl Streep. O Pierce faz-me náuseas [valeu-lhe a barba por fazer e o ar tosco quando abria a boca para cantar um dos hits]. Os dois juntos formaram uma boa dupla, disso não há dúvidas. Não, não é um filme para discutir por intelectuais ou intelectualóides, nem sequer pelos amantes da ficção científica ou das infindáveis perseguições dos melhores policiais. Mas quando uma sala de cinema reúne para cima de uma centena [ou menos] de espectadores que riem a bandeiras despregadas, genuinamente alegres durante 108min, que trauteiam todas as saudosas canções e no fim desatam a bater palmas, é porque o filme tem alguma coisa de bom! A mim fez-me cócegas cá dentro, fez-me o coração pular e jurei que antes que Nosso Senhor me leve, hei-de ir às ilhas gregas. Mas, mais do que isso, inquietou-me. Simplesmente porque me apercebo de que ainda não distingo o sonho da realidade. Revejo-me nas personagens e, por momentos quero ser a Donna Sheridan [também já quis ser a Mrs. Dalloway]. A verdade é que ainda não caibo dentro de mim e por isso sonho e realidade confundem-se constantemente. Porque quero provar a mim mesma que sou mais do que aquilo que pareço e isso mais do que reflectir que a viagem da descoberta está longe de terminar, mostra que está difícil aceitar-me como sou. E surgem as dúvidas sobre o que quero ser quando for grande. Opto por deixar pairar a imagem do Villa Donna [mesmo a cair aos bocados], nos braços daquele imenso e profundo azul. Quem me dera um sonho premonitório que deslindasse a realidade de amanhã... E para banda sonora desta noite temos:

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Puta que os pariu

Autoridades apreendem 18.555 livros escolares pirateados em oito meses, sim senhor. E alguém já explicou a esta gente que andamos à mingua para pagar propinas, casa, transportes e comida para poder estudar? Como esperam que tenhamos condições para comprar todos os livros que constam nas 4 páginas (no mínimo) de bibliografia por cadeira. Numa média de 5 cadeiras por semestre, durante 5 anos é o quê...? É fazer as contas!

domingo, 7 de setembro de 2008

Não será isso o amor?

Acho que me lês antes de mim. Que falas e calas no que preciso. Que me adivinhas os passos sem o denunciares. Que vês claramente por dentro de mim mas não proferes. Deixas-te ficar a contemplar. Sabes o que vai acontecer, como vou agir. E dás-me a mão pelo caminho que sabes que só pode ser meu. Assim... de sorriso.

Não é invasão, mas veneração.


Ou se calhar só o desejo e personifico-o em ti.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Curtas [13]

Ei-lo! O nervoso miudinho que me ataca com excessiva frequência. Sem razão aparente. Um mal-estar que não sei de onde vem, mas que teima em visitar-me. O coração está prestes a saltar pela boca, enquanto as entranhas se revolvem de tal maneira que chegam a envergonhar-me quando na presença de outros. Por breves momentos chego a suspirar por um eterno descanso...

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Tens de ser tu com o teu próprio punho



"Podes ter uma luta que é só tua
Ou então ir e vir com as marés
Se perderes a direcção da lua
Olha a sombra que tens colada aos pés"
[Senta-te aí, Rio Grande]

Bonita demais!

Môôôr

Tenho cá para mim que as lamechices que muitas vezes criticamos nos outros, tendem a ser pontinhas de inveja por não o termos para nós. Tempos houve em que achava a maior decadência que certos namoradinhos aclamassem pérolas como "ó mor", "sim, fofinha" ou "passa o pãozinho ao teu xuxu". Mas, reflectindo agora - aparte certos exageros e proclamações excessivamente audíveis de felicidade - parece-me que quem o critica... é de desconfiar.

Um "amo-te" tem efeito de Prozac. Ouvi-lo e dizê-lo. Sejamos felizes, expressivos e expansivos.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

uma autora atrevida

Acho piada a quem escreve regularmente sobre o ser e o sentir de maneira tão real e diz que o que escreve não se trata de um auto-retrato, mas de amores fortes e desamores difíceis de outros, gentes do seu imaginário, de realidades próximas. Não digo com isto que duvido de tal verdade, mas faz-me espécie quando, curiosamente, ainda há uns dias pensei "isto só pode ser auto-biográfico!"... Faz-me espécie mas não me chateia ou, vá lá, chateia-me um bocadinho porque se não se vivem coisas daquelas, como se consegue escrever tão bem sobre peles de galinha, cheiros incrustados, toques que não se sentiram, lábios que não se tocaram, amores que não se fizeram, perdas que apenas se imaginaram? [Realmente, sobre amores diz-se que todos sabem dar o seu bitaite, mas com aquela qualidade, duvido muito.] Por outro lado, apetece-me perguntar "que raio de direito tem um autor de oferecer textos daqueles, que ora parecem murros no estômago, ora lembram sestas sobre maços algodão, mas que são, invariavelmente, certeiros, inquietantes?". Parabéns!

Férias





Esta semana: Marrocos e México.

O que eu me perco nestes Taschens.

Anais, Anais...


Henry and June, Philip Kaufman

Esbarrei neste filme sem querer, há uns dias atrás. Numa noite solitária e de insónias. Fiquei presa pelo sussurrar das palavras, pelas cenas à média luz, pela sensualidade da história, dos espaços, das personagens e dos sons. Uma vida boémia meio utópica meio selvagem, carregada de intensidade, na intenção de mostrar as sensações e as emoções ao extremo. A devassidão sem pudores, porque é extremamente bela.

Este trio é delicioso pelas relações quase obsessivas entre cada um deles e a forma como esses dilemas são retratados.

Sonhei nessa noite que deambulava pelas ruas de Paris, qual Anais, à procura do meu Henry que tardava a chegar, o amor da minha vida, por quem me apaixonei perdidamente fisica e intelectualmente. Senti-me tão quente e inspirada que acordei.

Acho que numa outra vida pintei os lábios de vermelho, penteei o cabelo às ondinhas e fumei cigarros enquanto, em tertulias, declamava poemas e bebia vinho tinto.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Parabéns!

Não tivesses querido ir antes da hora que te estava marcada e terias feito ontem 71 anos. E as saudades que tenho só de imaginar como seria beijar-te a testa - ritual que cumpríamos em todas as despedidas... Saltamos as ondas do mar. Depois alomoçamos no jardim. Dormes uma sonora sesta, perdão, descansas os olhos um bocadinho. Ofereço-te uma dentada do meu gelado, para chatear, de um trago, levas-me metade, tudo bem, até acho piada. Hora de jantar. Baixas a cabeça para te beijar a testa. Sorrimos. Segue cada um para sua casa na esperança do reencontro no dia seguinte às primeiras horas da manhã. Apetecia-me abraçar-te.

Um beijo. Saudades.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Na presença da tua ausência

Sentir saudades. Sentir a falta de alguém/algo de que precisamos. Nem que seja por puro vício ou solidão. Os dias pesam, são fardos até perante os cenários mais apetecíveis. Provavelmente, e principalmente, por eles, queriamos aquela pessoa ou aquela coisa connosco para partilhar tudo aquilo. Basicamente tudo deixa de fazer sentido se não for partilhado. De que vale uma bela paisagem, um saboroso prato ou um aconchegante banho se não o pudermos dar a provar também? O prazer só se torna completo quando alguém/algo o complementa. Ou porque acrescenta algo mais ou porque sabe exactamente do que estamos a falar, a sentir.

Parece-me que é das dores de maior prazer. O sofrer pela ausência, a ânsia de rever, provar e todo o corpo se rebela a reivindicar uma necessidade, uma luxúria. Por isso salivamos por um chocolate, por isso choramos por alguém que perdemos, por isso humedecemos por alguém que desejamos. Cedemos às maiores lamechices ou ao cúmulo de caminhar kilómetros por um Ovo Kinder.

Agrada-me este masoquismo. Fantasio o momento em que aquilo por que tanto esperei se concretizará. E a verdade é que a vontade de me ter nua nos teus braços - e que me impelia a escrever - me fez desaguar em algo bem maior... a partilha. Porque até na aparente e fugaz necessidade da junção de dois corpos, há aquilo que o transcende... a partilha.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Curtas [12]

Fomos. Ficámos. Voltámos. Resistimos, enfim, aos ventos que já foram fortes, às águas que outrora nos gelaram o coração. Sabemos dar mais do que pensamos, afinal... Mais do que dá uma "amor dos homens". Que o tempo parasse e pudéssemos ficar assim. Por muito tempo.

domingo, 24 de agosto de 2008

Dá-lhe tempo

Persistência da memória, Salvador Dali
Há um ano, por estas alturas ia-me o peito em cacos. O sabor do reverso da medalha. A confusão. O porquê. O medo. Da solidão. A promessa de não o provar tão cedo e de partir para outras cores.

Muitas voltas depois, serena-me a vontade de continuar a mergulhar no desconhecido. Só naquela... de ser feliz.

Amo-te, Quero-te, Preciso-te... Telefono-te


Just the way you are, Diana Krall

sábado, 23 de agosto de 2008

Volta a so(u)ar

Lira volta a dar um arzinho de sua graça. Na terrinha há banda larga, glória a vós senhor.

Amanhã é novo dia, nova labuta que dói o triplo quando tudo à minha volta arrasta os rabos carregadinhos de fazer-nenhum e bronzes à estou-mesmo-gira-com-a-marca-do-biquini-na-clavicula.

Estou-me marimbando para vocês, ó... Deus me conserve este ar pálido e olheiras fundas de cravar as vistas nas letras da sabedoria.

E com esta me vou.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Vrrrrrrrrrrrrrrrrrrruuuuuuuuuummmm...

Aqui vamos nós. Eu e tu. Nunca pensei que fôssemos capazes. Pronto... que aguentasses tanto tempo para que fosse possível apanharmos sol juntos. Trago uma "data" de jogos para nos entretermos, vá... Que venham Vicentes, Antónios, Martins ou outros e tenhamos [pelo menos] a mesma alegria.

Gosto-te!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Em modo lagostim

Assim não se está mal, mas podia estar-se melhor. Momento de relax depois do banho. Os olhos ardem, tal foi a dose de sol que apanharam. A barriga e o peito queixam-se da vermelhidão e entre os pequenos montículos distingue-se uma ponte que os une, com não mais que 2 mm de largura. É... o Verão toca assim para os branquelas.

Ainda durante a tarde e de olhos postos no mar imaginou-se um jantar a dois, uma noite aconhegante e com o nascer do dia e depois das forças retemperadas, o regresso. Parece que não foi possível. Paciência. Pode ser que um dia...
Sem mais delongas passamos ao plano B: tomar um refresco em casa de amigos ao som das cores que pintaram o dia em que juntaram os trapinhos. E é isto... Até.

Respiração boca a boca

Entre mergulhos de letras, dei à costa com estas:


Os ventos favoráveis só protegem as embarcações com rumo.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Laços

Esta história dos laços é engraçada. Ainda estou a tentar perceber o que nos leva às amarras voluntárias, ao dizer "sim, sou teu e só teu". Signed, sealed, delievered, como dizia o Stevie.

Será que gostamos mesmo desse alguém, que depois passamos a amar ou criamos afinidades agradáveis, que fazem a vida a dois custar menos, mas que eliminem a solidão? Egoismo, instinto de sobreviência, pavor da solidão ou amor incondicional, inexplicável, químicas emocionais e cheiros animais de proliferação da espécie?

Parece-me que dissecar assim tanto o amor perde-lhe a magia e, portanto, não me alongo. A verdade é que, mais cedo ou mais tarde, procuramos ninho, macho que nos proteja e prole para criar.

Se nos movem pormenores de sensualidade que estão "no intervalo entre a luva e o começo da manga", o que vivemos é por demais intenso e especial no que toca aos laços. Dure o que durar, há que saltar.


Signed, sealed, delievered, Stevie Wonder